Por Meon Em RMVale

"Vou revogar o acordo de venda da Embraer", afirma Guilherme Boulos

Em entrevista ao Meon, Boulos falou sobre suas propostas para a região caso seja eleito

 

O candidato à Presidência da República Guilherme Boulos (PSOL) afirmou que vai revogar o acordo de venda da Embraer se for eleito. Boulos visitou São José dos Campos na tarde desta segunda-feira (30) e concedeu entrevista ao Meon. O político contou sobre sua trajetória em movimentos sociais e falou sobre suas propostas de governo.

Confira abaixo a entrevista completa com Guilherme Boulos:

A Embraer é uma importante fabricante de aeronaves do país. Atualmente, parte da empresa foi vendida para a americana Boeing. Como o senhor avalia a venda da empresa brasileira e de que forma a iniciativa vai impactar para o país e região?

A venda da Embraer é um desastre econômico e um atentado a soberania nacional. A Embraer é a terceira maior empresa de aviação do mundo. O acordo firmado e o absurdo do governo Temer não ter vetado esse acordo é um entreguismo completo. O que vai acontecer? O Brasil perde controle do setor mais rentável da Embraer, que é o setor de aviação comercial. Uma empresa internacional, sobretudo da parte de expansão, pode até preservar uma parte dos empregos aqui, mas e a expansão da dos projetos da Embraer? Alguém acredita que seja feito aqui em São José? Com um controle acionário norte-americano? Isso sem entrar na parte de tecnologia, a gente perde a capacidade para a soberania tecnológica, para um desenvolvimento tecnológico. O fato da aviação de defesa ficar fora do acordo não resolve o problema, porque você tem que ter investimento. A lucratividade com a aviação comercial permitia a Embraer a fazer os investimentos em tecnologia de defesa.

Dentro do seu projeto como presidente, o que você trabalharia para essa situação não agravar ainda mais?

Não se chora o leite derramado, mas se limpa o chão. O que nós vamos fazer é revogar o acordo se formos eleitos. É intervir no contrato e revogar o acordo. Essa é a nossa proposta.

A RMVale é uma das regiões mais violentas de São Paulo. Quais políticas de segurança e antidrogas o senhor teria para reverter a situação?

O que tem se feito no Brasil há uns 30 anos é tratar o problema da segurança pública com tiro, porrada e bomba. Achar que investimento em repressão, em presídio, em mais criminalizações e mais punições resolve. Vamos olhar pra trás. Nos últimos 10 anos, a população carcerária do país dobrou. Alguém aqui está se sentindo mais seguro por conta disso? O investimento na guerra as drogas, no combate ao narcotráfico, militarização, aumentou com uma série de operações policiais. O narcotráfico está menor por conta disso? As pessoas estão consumindo menos drogas por isso? Ao contrário, a violência no país só aumentou.

Nossa política de segurança pública é, primeiro, mudar a estrutura da polícia, para um projeto de ciclo completo. Uma polícia desmilitarizada como já é, alias, na maior parte dos países do mundo. Uma polícia única, que tem o papel preventivo, ostensivo, investigativo de polícia judiciaria. Que tenha dois focos, primeiro na prevenção e segundo na inteligência.

Prevenção: Nosso governo não vai construir mais presídios. Nós queremos construir mais escolas, pra não ter que construir presídios. Nosso governo não vai reduzir maioridade penal para dar a primeira sentença para o jovem, nós queremos dar mais empregos para o jovem. Todas as pesquisas mostram que onde há mais oportunidade para o jovem, em educação, cultura, lazer e empregos, os índices de violências são menores.

E o segundo, na inteligência. O grande problema da violência hoje no Brasil se chama tráfico de armas e munições. É aí que tem que se enfrentar e tráfico de armas e munições não vão se combater com tropas de choque na rua. Tráfico de armas e munições se combatem com  inteligência e investigação.

O aeroporto de São José não recebe investimentos do governo federal pela baixa demanda. Se o senhor for eleito pretende reverter a situação ou propor algum projeto que incentive o interesse de companhias e aumento de usuários?

É fundamental fortalecer os aeroportos regionais do país. Isso passa por duas medidas: uma sobre o transporte de cargas e outra em relação ao transporte de passageiros. Em relação ao transporte de carga precisamos rever o modal no Brasil. O modal segue sendo rodoviário, a greve dos caminhoneiros mostrou o trauma que isso implica. Nosso governo vai estimular o modelo de desenvolvimento que será o modal hidroviário, metroviário e aeroviário. Todos eles menos poluentes em certa medida, menos caro que o modal rodoviário. Então, os aeroportos regionais devem ser centros de logística e transporte de cargas. Em relação ao transporte de passageiros isso passa por uma regulação maior do mercado aeroviário que reduz o valor das  tarifas. O que estamos vendo é uma é um trabalho no sentido contrario, uma ação para que as empresas cobrem um adicional por bagagem. Precisamos ter um grau de regulação para que as tarifas se reduzam para as pessoas tenham o transporte aéreo como uma alternativa mais viável. Isso ativa os aeroportos de todas as regiões do país.

A RMVale é um importante eixo de ligação entre os dois principais estados do país. Quais serão suas propostas para investimentos em rodovias da região?

Há um debate sobre modal de transporte temos que mudar o transporte rodovia. Ele foi implementado. Sobre tudo o lobby da indústria automobilística e setor petroleiro. Nós queremos fazer e iremos fazer uma reversão dos modais de transporte. Agora, em relação as rodovias estamos convictos que o caminho não é o caminho que foi adotado de privatização. Temos no estado de São Paulo o pedágio mais caro do Brasil, então você cria um vetor de exclusão do transporte rodoviário, além do preço do combustível que tem aumentado consideravelmente no nosso país. Você ainda cria as barreiras de pedágios extremamente caras e com contratos de construção e de gestão de rodovias no mínimo duvidosos. Vamos fazer uma auditoria de relação às rodovias que foram concedidas frequentemente os próprios preços de pedágios não estão sendo respeitados os contratos.

Qual sua opinião sobre a greve dos caminhoneiros?

A greve dos caminhoneiros foi legitima porque houve um aumento injustificável do preço do diesel, da gasolina e já havia acontecido para todos os consumidores no gás de cozinha. Esse aumento foi resultado da politica de preço da Petrobrás, politica construída para dar lucro para acionistas em Wall Street. E não para ter responsabilidade social com a população brasileira. Quando a Petrobras muda a política de preço no ano passado e ela atrela o preço de combustível na bomba ao preço do barril do petróleo internacional e simultaneamente ela trás as petroleiras internacionais para o uma concorrência interna e despontencializa o refino da Petrobrás, ela armou uma bomba relógio. O que fez o preço da gasolina e do diesel aumentar tanto? Foi o fato que com as refinarias internas não estão produzindo como deveriam. Hoje as refinarias estão em 70% das suas capacidades o Brasil e autossuficiente na produção de óleo bruto após o pré-sal, as refinarias não estão operando como deveriam. O Brasil voltou à velha politica colonial de exportar petróleo para importar gasolina refinada. Quando você faz isso, o processo de importação é feito em dólar, e o dólar aumentou e estamos tendo uma crise cambial na região, e com isso o preço de compra do óleo refinado aumentou brutalmente, gerando a crise que deu origem a greve dos caminhoneiros. Empresa pública tem que ter responsabilidade social e acima do lucro de acionista, sobretudo acima do lucro de acionista estrangeiro. A revisão de politica de preço da Petrobrás e fazer a cadeia completa aqui no Brasil, investindo em refinarias nacionais, não em politicas de exportar petróleo para importar gasolina isso vai fazer seguramente que o preço da gasolina e do diesel se reduza de maneira considerável na bomba.

Filho de pai e mãe médico, é uma pessoa que teve uma boa formação e como se meteu nessa vida toda de 17 anos no movimento. Como viveu com uma boa educação e teve essa preocupação.

Eu tive oportunidade de ter uma  boa formação, estudar em bons colégios, não me faltou nada na minha infância e juventude. Meus pais são médicos e vim de uma família de classe média de São Paulo. Desde cedo, na escola secundária, comecei a me incomodar com algo que, francamente, deveria incomodar mais gente, que é o tamanho do abismo social no Brasil, a gente passou a naturalizar algumas coisas. A gente passa na rua hoje e tem algum morando dormindo em um papelão no meio da rua no frio e a gente passa reto, está no carro e aparece uma criança a gente fecha o vidro. Aquilo que é absurdo, que faz parte de um país profundamente desigual, se tornou assimilado pelas pessoas. Fomos perdendo a capacidade de se indignar pelas pessoas. Desde muito cedo me deparei com isso, é uma questão que está aí e só abrir o olho, o problema que isso foi se tornando invisível para boa parte da população e desde muito cedo fui ter um ativismo na escola e fui montar um grêmio estudantil. Comecei a colher doações para o movimento sem terra, sai da escola particular e fui estudar na escola pública por opção. Fui com 18 anos morar em uma ocupação de sem tetos em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Para viver como as pessoas viviam e conhecer uma outra realidade entrei no movimento e estou no movimento até hoje. Acho que é uma questão de solidariedade. A gente reocupar essa capacidade de sentir uma dor que não é nossa.

Hoje moro em uma casa própria, na periferia de São Paulo, no bairro do Campo Limpo. Moro com a  minha companheira e com as minhas duas filhas, de 8 e 6 anos. Vivo dando aula, escrevo artigos para revista e portal de noticia. E dessa forma que tiro meu sustento e atuo para luta social. Nos últimos 17 anos na luta pela moradia e agora me desafiando a uma tarefa mais ampla.

Você se vê em Brasília? Você se vê no palácio?

Uma das coisas mais arcaicas no Brasil se chama palácio. Se ganhar as eleições não vou morar em palácio, palácio presidencial no máximo pode se tornar um museu, ou um centro educacional. Vou ter que morar em Brasília por uma questão de trabalho, mas existem varias alternativas que não sejam morar em um palácio. Não só morar no palácio, não pretende governar de dentro de um palácio. O Brasil precisa de outro jeito de fazer politica, não de um governo que fique dentro de um palácio dizendo que mandou dinheiro, mas de alguém que vá ver, que vá governar junto das pessoas.

Já disseram que você é o novo Lula?

Tenho muito respeito pela trajetória do Lula, ele é alguém que veio de baixo e não teve as oportunidades que eu tive. Veio de baixo em um pau de arará e pela sua luta e por ter representado o sentimento de muita gente se tornou Presidente da República. Tenho minhas diferenças, porque história não se repete. Lula construiu sua história no tempo dele e se tronou o que se tornou enfrentando os desafios que foram colocados para ele naquele momento. Os desafios colocados no Brasil são outros, o Lula construiu a trajetória politica dele através dos sindicatos dos metalúrgicos do ABC, no memento que estava encerrando a ditadura militar e tinha uma ampla esperança do povo brasileiro na republica democrática que nascia. Já passaram 30 anos, e nesses 30 anos foi o suficiente para essa republica democrática ir à falência e perder a crença do povo e a credibilidade do Brasil.  O desafio é refundar a democracia e isso nos coloca uma forma de fazer que é outra. Aprendendo com o que aconteceu nos últimos 30 anos no Brasil, aprendendo principalmente no que aconteceu durante Lula, no que teve de acerto e no que teve de erro. Acredito que não tem a menor possibilidade de se governar com aqueles que sempre mandaram na politica brasileira. No meu governo não cabe o PMDB, não cabe o centrão, não cabe toma lá da cá com oligarquias parlamentares. Meu governo não cabe uma ideia de achar que nos vamos conseguir garantir os direitos dos trabalhadores e da maioria do povo brasileiro sem enfrentar privilégios.

Como fazer para ter esse controle?

Nenhum país do mundo saiu de uma crise econômica sem um investimento público. Investimento público é essencial  para que se possa sair da crise e servir a maioria. Essa ideia de "vamos esperar o mercado criar condições para que o mercado venha e tenha confiança para investir", estão falando isso há três anos e o déficit fiscal só aumenta e a economia continua no buraco. O caminho que vamos adotar é a retomada do investimento público. A politica de ajuste fiscal adotada pelo governo Temer, que começou com o senhor Joaquim Levi, no governo Dilma, foi agravada duramente após o golpe parlamentar, ela corta em todas as áreas. Ao cortar o investimento é gerar mais desemprego e reduzir a renda. Ao fazer isso ela reduz a arrecadação porque as pessoas consomem menos quando tem menos renda. Tanto é que os déficits fiscais só aumentam. Vamos retornar os investimentos públicos tirando daqueles que mais tem.

 

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