Por Meon Em Opinião

O problema não é comigo, mas as consequências, sim

“Como é possível viver uma vida de compaixão e moralmente correta quando estamos cientes do sangue, do horror inerente à vida, quando nos deparamos com a escuridão não somente na cultura, mas dentro de nós? Se existe um estágio no qual nos tornamos verdadeiramente adultos, é quando nos damos conta do desabrochar desta ironia e aceitamos a responsabilidade de viver em meio a este paradoxo. Vivemos cercados de contradições, pois se estas fossem eliminadas, imediatamente a vida entraria em colapso. Simplesmente não existem respostas às grandes questões. Seguimos vivendo, fazendo de nossas vidas uma valiosa expressão de aprendizado pela luz.”

(Barry Lopez, Artic Dreams)


Quantas vezes testemunhamos fatos e atos que nos causam indignação, raiva, tristeza, apreensão ou medo?

Diariamente vivenciamos situações que gostaríamos de interceder, ou que nos causam algum tipo de mal-estar. Desde mendigos de rua sendo maltratados, como recentemente vimos nas redes sociais; pessoas que jogam lixo nas ruas; carros que transitam sem nenhum respeito ou cuidado pelos outros; pessoas que não se importam com a separação do lixo sem pensar nas consequências para a comunidade; empresários que destratam e desrespeitam seus colaboradores, tirando proveito de uma relação de escolhas desigual; funcionários públicos que desrespeitam a população e vice-versa; professores que dão aula sem o conhecimento necessário para ensinar os alunos; pais que tem medo de repreender seus filhos ou simplesmente não se dão ao trabalho; governantes que roubam a população sem se importar com as consequências; políticos que legislam em causa própria traindo seus eleitores e o país; legisladores que agem contra os mais básicos princípios de moralidade e justiça; meios de comunicação que distorcem e manipulam as notícias contribuindo para a criação de um ambiente de degradação dos valores; até barbaridades praticadas com o meio ambiente.

Como reagimos diante destas situações? A maioria se cala, segue adiante, como se nada tivesse ocorrido, esperando que nada disto lhes alcance. Outros esbravejam em público ou nas redes sociais, esperando ou pensando que com isto alguém vai tomar alguma atitude, e assim as coisas vão mudar. Uma minoria que realmente se importa vai agir, vai tomar atitudes que possam contribuir para mudanças e melhorias, chamo estas minorias de ‘multidões do bem’.

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Qual a importância das multidões do bem? São pessoas que não esperam nada em troca a não ser um futuro decente para as novas gerações. Foram criadas dentro de princípios de bondade e respeito aos seus semelhantes e à comunidade. Não tem preguiça de fazer o bem, e não esperam nenhum retorno material pelos seus atos. Acreditam que, como na história do menino que atirava de volta ao oceano as estrelas-do-mar que chegavam à praia, é melhor salvar uma do que deixar que todas morram. São pessoas essencialmente otimistas que tem compaixão pelos seres deste planeta e, que na maioria das vezes o fazem por instinto e não por obrigação.

Devemos a estas multidões do bem uma enorme gratidão, pois graças a elas, as situações se transformam e melhorias ocorrem, em todos os sentidos. Na sua maioria, são compostas por jovens que vão herdar um planeta à beira da devastação, e que caberá a eles a responsabilidade pela perpetuação da raça.

Esta responsabilidade começa pelas coisas mais pequenas, em casa, na tenra idade onde aprendemos o respeito à vida, a diferença entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, que no decorrer da vida vai se transformando num impulso para a ação, para a transformação do mundo. Segundo estudo conduzido em 2007 pelo ambientalista, ativista social e antropólogo Paul Hawken, por volta de 10.000.000 de organizações sem fins lucrativos, espalhadas por 243 países, se dedicam a assuntos relativos ao meio ambiente e justiça social. 

As consequências nos atingem, o que fazer? 

Nosso modelo mental precisa mudar, não podemos simplesmente ignorar o que vem pela frente, não podemos tratar todos os problemas de modo global, os problemas são locais, as soluções são locais e passam necessariamente pela preservação de nossas terras, oceanos, diversidade das espécies e das culturas.

Precisamos educar nossos filhos para fazerem parte das multidões do bem.

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