Por Meon Em Opinião

Para que servem as ciclovias?

ciclovia sjc

Agora sim, passados já sete artigos meus sobre mobilidade urbana aqui no Meon, vamos falar um pouquinho do ir e vir de bike, sobre o que isso representa numa urbe. E escolhi esse título porque há na pergunta um tom de celebração em volta das mais variadas respostas que existem, justamente, muito além da superficialidade, ou seja, da rasa afirmação: “as ciclovias servem para serem utilizadas por quem pedala”.  Será mesmo que é só isso? Pense bem.

Dia desses, foi bonito de ver: o motorista do ônibus – vindo em direção contrária a minha – foi desacelerando cuidadosamente até parar por completo antes da ciclofaixa pela qual eu teria que atravessar para prosseguir pedalando.  Ainda acenou com a mão já me concedendo a segura passagem e trocamos um breve olhar - de respeito e zelo - ao som de nossas buzinas acionadas com aquele leve toque de respeito (sabemos: há buzinas e buzinadas!). Não vou dizer que é uma cena rara, mas afirmo que, infelizmente, não acontece todos os dias, principalmente por parte de quem dirige veículos bem pesados, como os ônibus, por exemplo.

Me chamou muita atenção também a velocidade respeitosa, portanto mais reduzida, com a qual ele conduzia seu grande coletivo. Uma velocidade que o permitia, por exemplo, estar mais atento – como esteve de fato – aos demais a sua volta e, de quebra, uma velocidade que torna menos abrupta uma freada repentina se necessária (pois é aqui, por exemplo, já estão claros benefícios da redução dos limites máximos de velocidade).

Em meio a isso tudo – afinal, a cabeça vai longe -, me peguei pensando: será que esta pessoa anda de bicicleta? Ou... o que ele responderia caso eu lhe perguntasse: “para que servem as ciclovias?”. No mesmo cenário urbano, podemos também inverter os atores e os questionamentos: perguntemos a quem usa uma bike como meio de transporte na cidade, “para que servem as faixas exclusivas de ônibus?”.

Claramente, as respostas estão dentro das perguntas, mas as novas e possíveis outras cidades – aquelas que evidenciam relações mais harmônicas no ir e vir de diferentes pessoas - pedem respostas que fogem do que é o óbvio e a possibilidade de construção das novas formas de pensar já estão a nossa volta. Será que precisarão todos andar de bicicleta para que reconheçam a importância de uma ciclovia? Será que precisarão todos andar de ônibus para definir o verdadeiro papel de uma faixa exclusiva dos coletivos? 

Portanto, as ciclovias - muito antes de servir para serem usadas por quem pedala - servem a todos para estimular, sobretudo, um  outro  olhar sobre as formas de ir, vir e ocupar os espaços de uma cidade.  Aqui e ali, as ciclovias nos estimulam também a tirar da invisibilidade aquilo que insistimos ocultar: que com ou sem elas, há tempos, muitos se deslocam pedalando tornando mais livre, assim, seu próprio caminho, bem como o dos demais a sua volta.

Fico sem saber se aquele motorista dirige, além do seu ônibus, uma bicicleta ou se já pedalou numa ciclovia. Não importa. Ele teve aquilo que posso chamar de empatia e que considero fundamental quando desejamos nos tornar uma cidade evoluída quanto ao harmonioso ir e vir de todos.

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