Por Meon Em Opinião

Pedalando e lendo a cidade junto aos filhos

É muito difícil que a bicicleta, em algum momento, não faça parte da vida de alguém.  Pode-se dizer que é o clássico brinquedo da infância levado até os filhos em geral pelos pais que, por sua vez, os ensinarão a dar as primeiras pedaladas – sem rodinhas, claro! Portanto, as magrelas atiçam nossa memória afetiva, pois é gostoso relembrar como é que foi o tal “aprender a andar de bike” ainda que entre tombos inevitáveis.

Durante o aprendizado, o foco reside no saber equilibrar-se sobre a bicicleta (as carinhas de medo misturado à emoção são explícitas). Vencida tal etapa, ao ar livre deslizarão pais, mães, seus pequenos e pequenas pedalando pelos parques, ruas mais tranquilas dos bairros e ciclofaixas de lazer (aquelas que ocorrem aos domingos em algumas cidades). bicicleta_passeio 

Há aqueles que pedalarão durante a semana, rumo à escola, levando os filhos numa cadeirinha, por exemplo, ou guiando-os atentamente em suas próprias bikes. Com as ciclovias e ciclofaixas que, pouco a pouco, começaram a nascer aqui e ali, essa cena passou a compor com mais frequência a paisagem das urbes. E quando tudo é muito dominado pela presença do automóvel – eis a nossa realidade -, tal cena desperta atenção.

Se o cenário está mudando, temos a chance de transformar também a nossa forma de “ler” a cidade e fazer isso junto com os pequeninos – por meio da experiência concreta do pedal urbano -, é um convite imenso para a prática da cidadania.

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Ao pedalar com as crianças, as mais variadas surpresas ocorrem e mesmo as desagradáveis têm um expressivo potencial para que logo cedo percebam que se sentem um tanto desprotegidas no espaço. Notarão, por exemplo, que não há como se sentirem seguras pedalando na própria via (no caso de não haver ciclovia ou ciclofaixa) devido à alta velocidade dos veículos motorizados e tráfico intenso dependendo do local.   Logo, é pela calçada que terão que ir, embora esta seja (pela lei) de uso exclusivo dos pedestres.  Por isso, seguem bem cuidadosos e compartilhando o espaço com quem vai a pé – são cúmplices, de certa forma, da situação de desproteção urbana que envolve os meios ativos de transporte.

Haverá, talvez, aquela criança mais observadora que se indignará ainda mais: mas se a calçada é dos pedestres, por que os carros estacionam sobre elas travando, por completo, a entrada de alguns estabelecimentos?  Ou ainda reclamarão dos semáforos quando, desmontadas da bike, tiverem que fazer a travessia para o outro lado da rua - “poxa, o sinal verde pra gente não abre nunca e, quando abre, dura só um pouquinho...”. 

O pedalar, portanto, ajuda a estimular o olhar dos pequenos também, fazendo-os enxergar uma cidade diferente daquela que, normalmente, não veem através dos vidros escuros dos carros. E há, claro, o outro lado da descoberta proporcionado pelo pedal: são protagonistas do seu caminho e ao verem algo que os desperta, podem subitamente parar e explorar a situação que pode ir desde uma inusitada ave numa árvore até um espetáculo de palhaços acontecendo numa esquina.

Na “caixa carro”, isso tudo passa mais despercebido, não possibilitando a troca imediata e espontânea com fenômenos vivos da urbe - sem contar que muitas crianças seguem vidradas em seus tabletes e celulares durante todo o percurso motorizado. E não é?

Sendo assim, o tal brinquedo da infância - à medida que se transformam as cidades para que estas se tornem mais inclusivas perante todos os modais de transporte- se revela como algo capaz de ser levado também para a vida adulta, em prática e cidadania.  

Federica Fochesato é educadora e jornalista

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