Por Frank Koji Migiyama Em Blog e Colunas Atualizada em 12 AGO 2020 - 15H27

Cresce endividamento e empresas buscam a Recuperação Judicial como forma de reestruturação

"O que deve ser feito de imediato é identificar as prioridades, como equilibrar o caixa sem parar o negócio", diz consultor

De cinco anos para cá, quem buscava a reestruturação da empresa conseguia tomar fôlego, uma vez que o mercado na época ajudava. Atualmente, o cenário não é mais o mesmo. Vemos uma retomada desafiante diante do cenário de pandemia, além do aceleramento do estresse financeiro e, consequentemente, de pedidos de recuperação judicial. De fato, o alto endividamento, quer seja ele tributário, trabalhista ou oriundo de financiamentos e a ineficiência operacional são as maiores causas da deterioração das companhias, consequentemente dos empregos.

Porém, grande parte das empresas que estão em clima de recuperação judicial, ou se encaminhando para isso, traz um histórico de estresse financeiro desde a crise de 2008. São companhias que investiram em pessoas, equipamentos, em infraestrutura aumentando o parque fabril, e que na saída desta crise não obtiveram o devido retorno dos investimentos e consequentemente as contas começaram a chegar. Mesmo com redução de custos e do quadro colaborativo de dois anos para cá, e melhorias de processo, muitas delas não conseguiram faturar o suficiente para cobrir também o serviço de dívida acumulada nos últimos anos. A economia, por sua vez, deu sinais de melhora até 2013, mas não melhorou tanto quanto era esperado e começou a complicar para quem não se preparou para uma gestão de crise. Estávamos num otimismo no final de 2019 mas aí veio a crise causada pela pandemia da COVID-19.

No entanto, quem antecipou os planos de reestruturação, nos últimos anos visando a renegociação das dívidas com credores, vive ainda uma dificuldade financeira com menor impacto e com muita dificuldade tem trabalhado para contornar a situação. Observamos uma demanda crescente de clientes buscando uma reestruturação de modo geral, com foco em renegociação de dívidas, em redução de custos, em melhorias operacionais e principalmente um assessoramento empresarial e estratégico. A maioria das dúvidas dos empresários é em relação ao momento da empresa (o que priorizar?) versus o profundo endividamento e o cenário que aponta para uma possível paralisação de sua operação, e aprofundamento da espiral negativa de seus resultados.

Levanto esses questionamentos para demonstrar que ao solicitar um assessoramento empresarial executivo, ou seja, uma assessoria para reestruturar a empresa, o que deve ser feito de imediato é identificar as prioridades, como equilibrar o caixa sem parar o negócio. Hoje, não basta mais cortar gastos, reduzir quadro, diminuir a produção e se desmobilizar, por exemplo. A situação da grande maioria das empresas que já passava por dificuldades há 4 anos, e não se reestruturou até então, é um caso de um tratamento intensivo com renegociação profunda de dívidas, e tomadas de decisões rápidas e precisas que são em sua maioria desconfortantes.

E é neste momento em que a Recuperação Judicial (RJ) pode ser uma alternativa para ganhar fôlego operacional, quando a situação em que a empresa se encontra é a incapacidade do pagamento dos débitos. Ninguém gosta de entrar em RJ, obviamente, e é um instrumento judicial que viabiliza carência de pagamento das dívidas e outras condições que dão um maior tempo para arrumar a casa e gerir de modo estruturado o serviço de dívida, por exemplo, com prazo de recebimento dos débitos mais alongado, o que pode varia em sua maioria entre 2 e 10 anos.

Todavia, há casos em que reestruturamos a companhia conseguindo por exemplo, negociar com os credores extrajudicialmente e geri-la operacionalmente, mesmo com toda a dificuldade do dia a dia. Ou seja, não foi preciso lançar mão desse instrumento. Esse é um ponto interessante e extremamente gratificante também, quando podemos auxiliar as empresas que estejam passando por situação financeira degradante ainda vislumbrando saídas.

Num processo de reestruturação, competências extremamente importantes como liderança, habilidade de gerir pessoas em situações de estresse e comunicação, são chaves para o sucesso, além do senso de urgência. Nesse momento de crise, às vezes nos deparamos com a síndrome do avestruz (onde não tomamos decisões e esperamos que os problemas sumam) e com a síndrome do estudante (onde deixamos para última hora).

O senso de urgência é agora, o momento do Brasil reorganizar e se reinventar é esse. Como diz uma letra de uma música (...o tempo não para...), não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje. Gestão de crise com reestruturação com ou sem Recuperação Judicial é assim: tudo é para ontem.

Escrito por
Frank Kijo (Arquivo Pessoal)
Frank Koji Migiyama

Master Business Administration pela FGV. Engenheiro formado pelo IME - Instituto Militar de Engenharia. Possui certificações em Master Black Belt em Lean Six Sigma, Kaizen Specialist Japan. Conselheiro de administração pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Experiência de mais de 23 anos ocupando cargos de nível C (CEO/COO/CFO) nos setores industrial, varejo, aeronáutico, agronegócio, transporte, energia, terceiro setor e de consultoria. Professor convidado no programa LLM da CEU LAW - IESE SP.

Atuação em diversas empresas nacionais e multinacionais.

Atualmente é sócio fundador da empresa de consultoria empresarial FKConsulting.PRO, especializada em Turnaround, Reestruturação, Recuperação Judicial, Gestão Interina, Gestão Judicial, M&A, IPO e Inovação.

frank@fkconsulting.pro | www.fkconsulting.pro

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