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Deficiência X resiliência: cuidando de quem cuida de nós

É fundamental ter aceitação e aperfeiçoar a paciência, investir no autoconhecimento e reconhecermos nossa dependência

Mateus Lima – Professor e pessoa com deficiência visual (Arquivo Pessoal)

Escrito por Mateus Paulo de Lima

30 MAR 2022 - 13H11 (Atualizada em 30 MAR 2022 - 13H42)

Oi gente! Chegamos ao final de março, mês da mulher, do padroeiro São José e início do solstício de outono. Apesar dos males das chuvas torrenciais que encerraram o verão, vamos aproveitar esse clima mais ameno e abordar um assunto, digamos, silenciado. Um tema que excede a questão da pessoa com deficiência ao propor debater os sentimentos de quem as cercam. Aqueles que cuidam e amam a PCD, apesar de todas as suas limitações e da enxurrada de problemas que viver nos impõe.

Por um instante, foquemos nesses benfeitores que orbitam nossa vida, cuidando e protegendo. Esses familiares próximos, talvez profissionais contratados, ou mesmo servidores designados para atuarem com a PCD, todas essas pessoas importantes que, nem sempre, são agradecidas ou respeitadas na fragilidade de suas emoções. Poxa! Por mais sintonia e menos centralidade, vamos cuidar de quem cuida de nós.

Em casa, ou fora dela, compete a pessoa com deficiência reconhecer para si mesmo, quem é, ou quem são esses anjos. Seres humanos que também carecem da nossa compreensão. Afinal, todos temos dias bons e dias ruins, ou seja, é natural que nossas emoções e sentimentos individuais, algumas vezes, fiquem mais expostos e não dê para atender a PCD como essa gostaria. Escrevo isso, pois devido a dor, a melancolia, ou a limitação, existe um risco de o deficiente tender a se transformar em um chato queixoso, um insuportável que torna sua enfermidade uma dificuldade generalizada e contagiosa. Por isso, quero chamar a atenção da maioria de nós de que é fundamental ter aceitação e aperfeiçoar a paciência, investir no autoconhecimento e reconhecermos nossa dependência. Convoco retribuirmos com gratidão pelos que nos cercam, pessoas presentes que representam nossa base de apoio, indivíduos que nos proporcionam uma existência melhor e mais fácil.

Preste muita atenção porque essa pessoa, independentemente do papel que exerce em sua vida, pode estar refletida na face de sua própria mãe, aquela que troca a frauda, ou do pai, que dirige, levando e buscando. Tem também o irmão que acompanha na caminhada, a irmã que interpreta, o cônjuge que conduz a cadeira, aquele colega que apoia no estudo, o amigo ou amiga que dá assistência com questões bancárias ou tecnológicas, enfim, qualquer ser de bondade que entregue alguma facilidade ao nosso cotidiano de limitações.

Reconhecendo que, eu mesmo, já magoei alguém, e fiz isso simplesmente por estar insatisfeito, foi que decidi escrever sobre dependência e paciência, em especial com os que tanto nos auxiliam. Conviver com uma deficiência, sabemos, é desafiador, contudo, é necessário termos compreensão, demonstrar gratidão mesmo quando as coisas não acontecem do jeito que desejamos. Porque falo isso? Porque, ao longo da vida, já presenciei PCDs destratarem justamente quem os cuida, desnecessariamente, inclusive por motivo tolo. Temos sim deficiência, mas não podemos, por causa dela, nos tornar cruéis nem rancorosos. Que jamais neguemos o fato de que a tendência da vida é caminhar para uma realidade de mais ausências do que presenças, então tentemos cultivar gratidão pelas pessoas em

enquanto essas ainda estão por perto. É importante trabalhar para que uma perda represente somente saudades, nunca remorso.

Para concluir, é justo que a PCD pense sempre naquilo que vai dizer, que avalie a situação, medindo sua razão na hora da queixa. Manter a calma quando contrariado significa trabalhar a frustração. Essa prática preservará a solidez na relação com aqueles de quem se precisa. Embora uma limitação física não devesse taxar ninguém, o individuo com deficiência também não deve se considerar superior por ela. Sendo ou não uma PCD, que sejamos leves no trato com a vida e cortês com as pessoas do nosso meio. Dúvidas, sugestões ou críticas, contate escrevereincluir@gmail.com, e vamos juntos construir um debate acolhedor.

Um abraço fraterno: Mateus Lima – Professor e pessoa com deficiência visual.

Escrito por
Mateus Lima – Professor e pessoa com deficiência visual (Arquivo Pessoal)
Mateus Paulo de Lima

Professor e pessoa com deficiência visual

Graduado em pedagogia. Pós graduado em: Ciências Sociais pela PUC Rio e Políticas Públicas pela PUC DF

Atuou 10 anos como professor da rede estadual do Estado de Rondônia nas disciplinas de Sociologia, Filosofia e Educação Especial

Atualmente trabalha com palestras motivacionais

escrevereincluir@gmail.com

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