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Eleições 2020: qual o recado das urnas?

Uma análise do cenário político na região

Marcos Limão (Arquivo Pessoal)

Escrito por Marcos Limão

18 NOV 2020 - 09H52 (Atualizada em 19 NOV 2020 - 14H05)

Reprodução Agência Brasil

Além de transcorrerem na mais absoluta normalidade, as Eleições de 2020 na região do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Região Bragantina apresentaram resultados dignos de notas e trouxeram lições importantes para a Política.

Mais de 2 milhões de cidadãos foram às urnas para escolher seus representantes. Dos 46 Municípios abrangidos pela região, apenas Taubaté/SP ainda não definiu quem será o chefe do poder Executivo pelos próximos quatro anos. O segundo turno ocorrerá em 29 de novembro entre José Saud (MDB) e Loreny (Cidadania).

No geral, o resultado das urnas mostra fragmentação partidária. Foram eleitos prefeitos de 13 partidos diferentes. Esse quadro pode ser importante em 2022 por causa da chamada “cláusula de desempenho”. Instituída pela minirreforma eleitoral de 2017, essa cláusula de desempenho exige número mínimo de votos nas eleições gerais para as siglas continuarem tendo acesso a recursos do Fundo Partidário e ao programa eleitoral gratuito no rádio e na TV. No primeiro teste, realizado nas Eleições de 2018, dez partidos não alcançaram a votação mínima e, consequentemente, deixaram de receber recursos do Fundo Partidário.

O partido político que saiu mais fortalecido foi o PSDB. Foram 16 prefeitos eleitos pela legenda nas cidades de Jacareí, São José dos Campos, Campos do Jordão, Tremembé, Lorena, Cunha, Piquete, Queluz, Santo Antônio do Pinhal, São José do Barreiro, São Luiz do Paraitinga, São Sebastião, Silveiras, Arapeí, Nazaré Paulista e Paraibuna. Juntas, essas cidades têm população estimada de 1 milhão de pessoas. Trata-se, também, de um cenário importante para 2022, considerando a intenção do PSDB em se manter no comando do Estado de SP.

Ao mesmo tempo, porém, o PSDB perdeu o comando de Taubaté, a segunda maior cidade da região, com população estimada de 318 mil pessoas. O candidato da situação Eduardo Cursino (PSDB) ficou em terceiro lugar na disputa, perdendo para José Saud (MDB) e Loreny (Cidadania). A diferença entre o segundo e terceiro colocado foi de apenas 2.373 votos.

Alvo do maior número de difamações e calúnias por meio notícias falsas, Loreny (Cidadania) conseguiu boa largada e ótima chegada. Saiu na frente nas pesquisas de intenção de votos e não perdeu densidade eleitoral com o passar do tempo. Representante da nova safra na Política, Loreny (Cidadania) conseguiu resgatar a essência da boa política, engajando pessoas e arregimentando grande grupo de militantes voluntários que se envolveram em sua campanha por compromisso com a causa.

Do seu grupo de candidatos a vereador de Loreny (Cidadania), saíram as principais novidades para a Câmara Municipal de Taubaté. A primeira chama-se Talita Cadeirante, vereadora eleita pelo PSB com 2.900 votos. Professora, Talita mostrou foco, energia e força de vontade, além de um desempenho eleitoral impressionante para uma marinheira de primeira viagem. Com frequência, Talita era vista andando pelas ruas com sua cadeira de rodas, alto falante e microfone. A segunda inovação na arena política taubateana é o primeiro mandato coletivo na história da cidade! A conquista ficou por conta do partido Cidadania, antigo PPS. Como a legislação não permite mandato coletivo, a candidatura foi registrada em nome de Elisa Manoel, mas junto com ela estão Rafael Soares e Adalgisa Américo.

Em Caçapava/SP, a insatisfação dos cidadãos representou a renovação de todos (!) os membros do Legislativo municipal. Não sobrou ninguém para contar histórias sobre a Legislatura que se encerra em 31/12/2020. Para o Executivo, outro grande feito: os eleitores confiaram a Pétala Lacerda (Cidadania) a título de primeira mulher a ser eleita para o cargo nos últimos 85 anos de história política. Também lá o jovem Yan Lopes foi eleito ao cargo de vereador tendo apenas 20 anos de idade.

O ineditismo verificado tanto em Caçapava quanto em Taubaté reflete um pouco o que se verificou em outros lugares do Brasil. Em São Paulo/SP, por exemplo, foi eleita a primeira vereadora mulher trans negra, chamada Erika Hilton (PSOL), além de outros dois membros do movimento LGBT para a Câmara Municipal. Os eleitores em Curitiba/PR elegeram pela primeira vez uma mulher negra para o poder Legislativo municipal.

Enfim, o resultado das urnas das Eleições de 2020 ensinou três lições: (a) o estado de crise econômica/política/social/sanitária serviu para aglutinar grupos sociais no entorno de pautas específicas; (b) a nova política pode sim ser envolvente e engajar pessoas; (c) a diversidade venceu a intolerância.

Escrito por
Marcos Limão (Arquivo Pessoal)
Marcos Limão

Jornalista, com pós-graduação em Marketing Político

Advogado, com pós-graduação em Direito Eleitoral

Promove pesquisas acadêmicas nas áreas de política e tecnologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com foco em Neuromarketing e psicometria eleitoral.

Autor dos livros “Era Peixoto: política da desonestidade no Palácio do Bom Conselho” e “Enxame: guerra psicológica no processo eleitoral e os novos paradigmas para campanhas políticas”, com análise sobre as Eleições de 2018.

Idealizador e coordenador-geral do Congresso Valeparaibano de Direito Eleitoral.

marcoslimao@gmail.com

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