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Sem novos IPOs, Bovespa já registra saída de empresas

Após registrar apenas uma abertura de capital em 2014, este ano promete ser ainda mais difícil para a BM&FBovespa. Sem uma única abertura de capital em vista, a Bolsa brasileira está vendo aumentar o movimento de empresas que, sentido-se desvalorizadas pelos investidores, passaram a considerar o fechamento de seu capital.

Dos 15 fechamentos de capital registrados em 2014, oito se concentraram no último trimestre. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está analisando, neste momento, mais quatro pedidos: da fabricante de cigarros Souza Cruz, da rede hoteleira BHG, do Bic Banco e da Companhia Providência, empresa de materiais usados na fabricação de fraldas e absorventes. Segundo fontes, outras empresas podem engrossar essa lista, entre elas a Romi, de equipamentos, e a Abril Educação, que recebeu novo aporte de R$ 1,3 bilhão do fundo Tarpon, agora controlador do negócio. As empresas não comentaram as informações e a Bovespa não quis dar entrevista.

Os motivos por trás dos pedidos de fechamento são os mais variados. Podem estar ligados a uma aquisição, como é o caso da Providência, que teve seu controle comprado pela americana PGI no ano passado, ou a uma decisão estratégica - exemplo da Souza Cruz. Sua controladora, a British American Tobacco, está fechando o capital de diversas subsidiárias ao redor do mundo.

Para algumas empresas, pesa a percepção dos acionistas de que os ativos da companhia estão subavaliados e que o melhor para proteger seu negócio é sair da Bolsa. É o que está por trás, por exemplo, das saída da BHG, controlada pela gestora GP Investimentos, e da empresa de gestão de imóveis imobiliários BR Properties. Há duas semanas, o banco de investimentos BTG Pactual e a canadense Brookfield anunciaram a intenção de fazer uma oferta pública voluntária de aquisição (OPA) para assumir o controle da BR Properties, por considerarem que o valor de mercado da companhia não é compatível com seus ativos.

Um levantamento da consultoria Economática mostra que, das 62 companhias que integram o índice Bovespa, 23 estão com o valor de mercado inferior ao patrimônio líquido, com predomínio de empresas de construção e de energia elétrica. O desânimo com a conjuntura nada favorável da economia também é um dos motivos para empresas desistirem da Bolsa já que, sem um horizonte para expandir a operação, elas não precisariam buscar financiamento no mercado de capitais. O advogado José Eduardo Carneiro, do escritório Mattos Filho, diz que as consultas sobre fechamento de capital ao escritório aumentaram, mas pondera que é um movimento comum em um cenário econômico tão instável.

Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), William Eid Junior, o custo de manter uma empresa aberta é o que menos influencia a decisão, já que gira em torno de 0,04% da receita. "É mais uma relação entre a energia que se gasta para manter uma empresa listada, com toda a burocracia envolvida, e os benefícios gerados."

Segundo João Luiz Braga, co-gestor dos fundos de bolsa da XP Gestora, a taxa de retorno sobre investimento é o que baliza a decisão das empresas. "Se, por exemplo, em vez de abrir uma nova loja, a companhia prefere recomprar as suas ações, é sinal de que ela deve estar considerando a ação barata e que acredita que terá um retorno maior vendendo os papéis mais à frente do que investindo no negócio."

Fundos

Há também quem enxerga nesse movimento uma "janela" para a compra de ativos importantes por preços considerados camaradas. Segundo apurou o Estado, a disputa entre fundos de private equity (que compram fatias em empresas) e bancos de investimento já começou. "Estamos olhando ativamente empresas listadas, mas não necessariamente para fechar o capital. Cada caso é um caso", diz Patrice Etlin, presidente do fundo Advent.

Outra fonte do setor de private equity, que prefere não se identificar, diz que o número de propostas informais para compra de ações cresceu muito nos últimos meses. O problema é que os investidores oferecem de 20% a 30% sobre o valor atual da ação, em um momento em que o entendimento das próprias empresas, em geral, é de que seus papéis estão com um deságio de até 50%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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