Bruna inicia nossa conversa dizendo que não se lembra exatamente quando sua vida artística começou, porque desde muito pequena já brincava de ser artista.
“Eu fazia show para as plantas, fazia o controle do rádio de microfone, imitava as dançarinas do Faustão, fingia que estava em alguma novela, conversava com o espelho, sujava a camisa com tinta vermelha pra simular sangue e quando eu aprendi a escrever, eu escrevia qualquer coisa e dizia que estava escrevendo música e até livros. Isso dentro de casa, porque no geral eu sempre fui tímida.” relata.
Apesar do interesse em se dedicar ao universo da música ter surgido desde cedo, a vida de Bruna a levou para o caminho oposto. “Meus pais se separaram quando eu tinha oito anos, isso me fez ter que amadurecer muito rápido, então eu escrevia muito como uma forma de escapar.” diz.
E foi aos 14 anos que Bruna ganhou seu primeiro concurso de poesia realizado pelo colégio “Verdinho” de Jacareí. Na época, a artista escreveu um poema homenageando a cidade, fazendo com que a Academia de Letras a notasse e colocasse esse mesmo poema no Sarau de homenagem pelo aniversário de Jacareí em 2010. Já o teatro apareceu um tempo depois.
“Fui para me descobrir e melhorar na minha maior dificuldade: falar em público. Minha família é Testemunha de Jeová, então eu passei minha adolescência indo de casa em casa e falando com as pessoas, mas era diferente. Então, um dia, eu estava no centro de Jacareí, em 2012, passei pela Fundação Cultural e perguntei se estavam dando aulas de teatro e por sorte as vagas estavam abertas. Aí um mês depois comecei as aulas com Juliano Mazzuchini” conta.
Depois de uma pausa no teatro por quase dois anos, Bruna retoma suas atividades teatrais em 2016. Em 2017 fez o curso “Mentes em Choque'' com o ator e diretor Fernando Rodrigues, no Teatro da Rua Eliza, dando origem ao espetáculo “Ignávia ou a Violência Que Nos Constitui”. No processo de montagem desse espetáculo, Bruna conta que os atores foram incitados a descobrir seus medos e incômodos e, no caso dela, foi em relação aos seus problemas afetivos e de autoestima. “Descobrir-me uma mulher negra foi parte do entendimento e assim surgiu minha personagem ‘A terapeuta dos corações partidos’.” Nesse mesmo ano, Bruna participou de outros espetáculos como “João e Maria - Uma História Não Contada” ainda no Teatro da Rua Eliza e “Solar Gomes Leitão - A História Por Trás da História”, apresentado no MAV.
Foi no fim de 2017, quando a artista saiu de casa para morar no bairro Jardim do Vale, que junto com um colega artista decidiu realizar um evento artístico para os moradores e ali surgiu o Vale Arte.
“Como não tivemos apoio da prefeitura, os comerciantes do bairro que ajudaram doando os materiais. Fizemos uma tarde de apresentações e aprendizagem.” Na mesma época, Bruna ganhou uma bolsa de estudos na escola de teatro Sergio Mamberti e lá apresentou o espetáculo “Quintais”.
“No fim de 2018, eu me interessei pela escritora Carolina de Jesus, e paralelo a isso me mudei de casa. Então, em comemoração, fiz um varal de poesias para Carolina na praça principal do meu bairro e postei no Instagram. Um conhecido, que é escritor e é membro da Rotary Club, Salvador Cabrera, se interessou e disse que deveríamos fazer alguma parceria. Assim surgiu o ‘Conte-me seu sonho e ganhe um livro’. A Rotary me disponibilizou os livros e eu pensei a performance. Criei a personagem Sol, a partir de uma paixão de balada, fiz uma roupa improvisada, pintei meu rosto e fui para a feira do bairro ouvir sonhos e doar livros. A recepção desde a primeira vez foi muito boa. Foi tudo incrível naquele momento. Ao passar do tempo, eu percebi que precisava transformar o projeto e comecei a estudar roteiro e teatro documentário.” relata.
Ao ser questionada sobre o que espera de 2021, Bruna cita Nina Simone: “Ela disse uma vez que é dever do artista refletir seus tempos e embora eu queira que minha arte não pertença ao tempo, assino embaixo. Queria poder criar algo que traga uma atmosfera de amor e otimismo, mas não é o que sinto. Minhas próximas ações artísticas serão atravessadas pela dor e alegria de ser mulher, negra, fora do padrão, artista no Brasil, que não vê outra alternativa a não ser resistência. Acho que 2021 vai ser sobre reflexões e lutas.”
E sobre a importância da arte durante a quarentena, Bruna diz que o entretenimento é como uma válvula de escape. “E, além disso, a arte tem sido ferramenta de conscientização, reflexão, conhecimento, e o mais importante: tem nos deixado acordados, conscientes e lúcidos. E nesses tempos, em que os artistas tem sido cada vez mais perseguidos, a arte é nossa arma.”
#ValeRessaltar Bruna Souza que é sinônimo não só de resistência e resiliência, mas também de trabalhos cheios de significados, delicadeza e muito, muito afeto.
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