Escritor participou de bate-papo no Cine Santana nessa segunda-feira (22)
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Em certo momento do bate-papo, Paulo Lins diz: "'O filme Cidade de Deus' não era para ser sobre violência, é sobre racismo". Segundo o autor do livro, que foi base para o roteiro de um dos maiores longas da história do cinema brasileiro, o filme homônimo dirigido por Fernando Meirelles, de 2002, "tem algo da estética da violência, eu gosto, mas fiz para mostrar a comunidade e o racismo".
O poeta de 56 anos não escapa de temas sociais durante conversa nessa segunda-feira (22), no Cine Santana, no projeto Golpe Na Tela, que apresenta mensalmente filmes de reflexão sobre a Ditadura brasileira.
A produção da vez foi "Quase Dois Irmãos" (2005), dirigida por Lúcia Murat e roteirizada por Lins e Murat. A história fala da origem do crime organizado no Rio de Janeiro dentro da prisão da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e aborda o regime ditatorial como recorte para reflexos e distorções nas facções criminosas contemporâneas.
No caso, a antiga Falange Vermelha, foi criada com marcas políticas provocadas pelo envolvimento com presos políticos da Ilha Grande e tornou-se o Comando Vermelho. Além da realidade das favelas, "que é dominada por facções e milícias", o ex-morador da Cidade de Deus falou a relação com seus personagens.
"Minha pesquisa de campo em 'Quase Dois Irmãos' foi simples, eu conhecia todo mundo no morro. Foi isso", diz. "Em 'Cidade de Deus' eu estava mais interessado em poesia na época, mas me interessei por antropologia. Escrevi, deu certo e o negócio explodiu".
Prédio
Quando a questão sobre a injúria racial sofrida pelo goleiro Aranha do Santos chega ao autor de "Desde Que o Samba é Samba" (2012), o escritor negro dá a resposta com calma e seriedade, com leve sorriso.
"Isso é a injúria racial de uma menina num estádio de futebol. Ela foi gravada e tem que ser punida. Mas o mais grave é o racismo institucionalizado do Estado, da polícia, do mercado. Moro num bairro de classe média em São Paulo. Sou o único negro no meu prédio. Quando saio em um sábado ou domingo à tarde, não vejo negros no centro da cidade, nos parques", conta.
Quando perguntado, Lins não revelou o voto nas próximas eleições presidenciais, no entanto posicionou-se quanto à importância de seu papel para certas comunidades. "Hoje eu ganhei para estar aqui e falar com vocês. Quando vou para a favela, no Capão Redondo, por exemplo, eu faço de graça, às vezes pago para ir lá porque sei que aquilo é importante".
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