O autor lança seu último projeto "Flores Artificiais" em maio
Adriana Vichi
Filho de um pipoqueiro e de uma lavadeira de roupas analfabetos, o mineiro Luiz Ruffato encontrou nos livros e na palavra as portas para um novo mundo.
O escritor participou do Esquenta Mantiqueira nesta terça-feira (1), em São Paulo, na mesa "Na Periferia do Mundo". O evento abriu o Festival da Mantiqueira - Diálogos com a Literatura, que acontece de sexta-feira (5) a domingo (7), em São Francisco Xavier.
Em entrevista ao Meon, Luiz Ruffato conta um pouco sobre o seu trabalho.
Como o senhor começou a sua carreira?
Já trabalhei em vários locais antes de me tornar jornalista. Me formei em jornalismo em Juiz de Fora. Trabalhei em alguns jornais por alguns anos e, em 2003, fiz esse compromisso comigo mesmo de me dedicar em tempo integral à escrita e à literatura. Atualmente escrevo crônicas para o El País. Acho que as crônicas são o meio entre jornalismo e literatura. Deixei o jornalismo porque era um péssimo repórter. Eu era, e ainda sou, muito tímido para perguntar. Trabalhava bem na redação do jornal, era um bom redator e editor, mas um péssimo repórter. Decidi apostar em mim mesmo e arriscar ao me dedicar à escrita.
Como surgiu o convite para participar do Esquenta da Mantiqueira?
Já participei duas vezes do festival. Estava com espaço na agenda para participar apenas do Esquenta, que seria novidade deste ano. Acho o festival extremamente simpático. O formato é muito bacana. O festival pretende e se faz pequeno. Nele é possível um maior contato com os autores e você pode encontrar os leitores em locais inusitados.
O senhor fará parte da mesa que discutirá como é possível produzir arte nacional contemporânea de alcance internacional. Que questões espera debater nesta mesa?
Quero discutir como conseguimos essa projeção internacional. Mas você só consegue projeção internacional através de uma boa discussão e projeção nacional. Quero ser discutido aqui no Brasil antes de ser discutido lá fora. Espero poder despertar essa consciência nos espectadores e meus colegas.
Qual foi o papel da literatura na sua vida?
A grande tragédia do nosso país é a educação. Não vivemos numa sociedade plena ou numa democracia plena para que todos tenhamos o aparelhamento para uma educação de qualidade. A leitura me abriu o mundo. Sempre entrei pela porta dos fundos dele. Eu abri as portas da frente sozinho, através da literatura. Por isso procuro oferecer um olhar diferenciado em minhas obras, para poder abrir o mundo de outras pessoas.
Qual foi o livro que mais te marcou?
Meu primeiro livro, lógico, Babi Yar de Anatoly Kuznestov. Li obrigado porque a moça me viu lá na biblioteca da escola e achou que eu era tímido demais para pedir um livro. É uma história violentíssima, um massacre na 2ª Guerra Mundial, onde 197 mil judeus foram assassinados.
Qual é a sua última leitura?
Atualmente estou relendo toda a obra de José de Alencar. Acho que a obra é maravilhosa e estou esperando poder ver algo que deixei passar nas outras leituras.
Geralmente em suas obras o senhor retrata um universo mais humilde. Seria aquela história de escrever sobre o que você conhece?
Creio que não, pois acredito que podemos escrever coisas que não conhecemos ou que estão fora de nosso terreno. Acredito que tenho uma memória coletiva rica, que me auxilia na confecção de minhas histórias.
Seu livro "Eles Eram Cavalos" é considerado uma instalação literária. O senhor acredita que trechos e fragmentos contam uma história melhor do que a prosa?
Não é uma receita. Não tem uma maneira exata de contar algo. Eu usei essa estratégia porque era impossível contar a história que eu queria através de um começo, meio e fim. A cidade é fragmentada, recortada. Achei essa a melhor maneira de retratá-la.
E como surgiu o título para este livro?
Acredito que o título de um livro é fundamental. Me encanto com títulos de livros. Às vezes, me interesso por algo com um bom título e o livro é ruim ou o livro é bom e o título é ruim. E sou apaixonado por poesia. Leio mais poesia do que prosa. E enquanto estava lendo o poema [de Cecília Meireles, "Dos Cavalos da Inconfidência"] e esse trecho me chamou bastante atenção porque não é o começo ou o final, nem o título do livro. Ele fica no meio do poema e percebi que representava exatamente o que eu queria como título para o livro.
Em seu discurso na Feira do Livro, em Frankfurt, o senhor atingiu sua intenção com a repercussão de seu discurso?
Não tive intenção de chocar, não era minha intenção. Eu queria discutir a realidade do meu país. Não contestaram os dados que expus ali, me contestaram. E se não podemos discutir ideias numa feira literária, vou discutir numa feira agropecuária.
Seus livros já foram traduzidos em vários idiomas. Como é a sua repercussão internacional?
Tenho uma boa recepção no mercado alemão. "Eles Eram Cavalos" está em sua 3ª edição. Tenho uma boa projeção na França também. Estarei na Itália e na Finlândia lançando livro agora em maio.
Atualmente, o senhor oferece algumas orientações para os interessados a se tornarem escritores. Qual seria sua motivação?
Acho mais legal ler do que escrever. Adoro organizar o que leio e gosto de dar cursos, e essas orientações é uma maneira de unir esse meu lado e o meu profissional.
Como é a sua rotina de trabalho?
Percebi no ano passado que passo uma média de sete meses fora de casa e apenas cinco meses em casa. Então quando estou em casa escrevo, das 7h às 12h. Às vezes, trabalho um pouco na parte da tarde, mas isso não é uma rotina. Tenho esse compromisso comigo de trabalhar todos os dias nesse horário uma vez que sobrevivo da literatura.
O senhor relê as suas obras?
Com certeza e sempre as revisto também. Quando revisito uma obra, faço questão de ser preciso. Não com a intenção de ser atual, mas de precisão expressiva mesmo. Que é diferente de clareza. Se você reparar na última edição de "Eles Eram cavalos" ela sempre tem a informação de que é uma tiragem revista.
Seu último livro foi lançado em 2011 e encerrou a série "Inferno Provisório". Qual será seu próximo projeto?
Meu próximo livro será lançado pela Companhia das Letras, o nome é "Flores Artificiais". O lançamento será em maio. A história é sobre um engenheiro consultor do Banco Mundial, em Washington. Ele convive com várias pessoas e contas suas histórias. É um pouco mais complexo do que isso, mas dá para ter uma noção enquanto ele não é lançado.
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