Por Renan Simão Em Brasil & Mundo

Fotógrafa Beatriz Lefévre: "Captar aquilo que é"

beatrizlefevre_texto

Fotografia de cena de "Chega de Saudade", por Beatriz Lefévre

Divulgação/Beatriz Lefévre

Beatriz Lefévre é fotógrafa e trabalha com "still", a documentação fotográfica para cinema. Fez fotos de cena e bastidores de filmes como "As Melhores Coisas Mundo", de Laís Bodanzky, "O Dia Em Que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburguer e este, que teve exibição na terça-feira (18) no Parque Vicentina Aranha, "Chega de Saudade", também de Laís Bodanzky.

A sessão recebeu cerca de 20 pessoas para ver as histórias de personagens de meia-idade em um baile de dança de salão. Na entrada da sessão, foram expostas as fotos de bastidores do filme feitas pela convidada da noite, Beatriz Lefévre.

Antes economista, editora e autora de "Castelo Rá-Tim-Bum - O Livro", Beatriz escolheu documentar cinema há dez anos. Mais do que acompanhar a ideia do diretor, seu trabalho é a busca da exata expressão. "O meu maior desafio é pegar a expressão do ator em cena, preciso captar aquilo que é", diz.

Dividindo-se entre São José dos Campos e a Serra da Mantiqueira, Beatriz conta que sua fotografia é documental, seja em trabalhos pra o cinema, para o Instituto Recriar, ONG educativa em que trabalha em São José, ou mesmo fotografando cavalos e o cenário rural na serra.

Além de falar da relação com Laís Bodanzky em "Chega de Saudade" -trabalhando numa locação de dança de salão com a participação luxuosa de Elza Soares cantando-, Beatriz fala dos objetivos da fotografia de "still", da técnica de fotografar junto com a filmagem e das exigências do cinema atual.

Você fotografa há quanto tempo?
Sou fotógrafa desde os 11 anos, sempre tive uma atenção especial pela fotografia. Profissionalmente, tem uns 12, 13 anos. Já fui economista, fui editora, depois fotógrafa.

Faz outros trabalhos de fotografia?
Eu faço é documentação, isso que eu faço. Trabalho numa ONG, fiz documentação de uma expedição científica na Amazônia, trabalhei no MAM em São Paulo, sempre nessa área. Já fiz casamento, festa, eventos, mas é sempre um enfoque mais documental.

O que seria um enfoque documental?
Acho que é um enfoque pra captar o que está acontecendo e não criar um clima para a fotografia.

Você não pode montar a foto?
Posso até montar, chamar o noivo, a noiva: "Olha fica mais aqui". Mas continua sendo dentro do espírito que está acontecendo lá. Por exemplo, vou te dizer, a mulher estava grávida e queria fazer um book de grávida. Ela perguntou: "Onde seria?". Eu falei: "Na sua casa, é onde você vive, onde seu filho vai nascer". Mas ela falou que queria fazer num estúdio. Não tem bom ou ruim, é uma opção dela. Ela quis fazer uma foto que você vê em revista. Eu prefiro a luz natural, o ambiente em que as coisas estão acontecendo.

Como é o trabalho específico com cinema? A ideia da documentação tem que estar alinhada com a ideia do diretor?
É isso. Eu tenho que fazer fotos das cenas. E é aquela coisa, no set de filmagem a cena que está sendo filmada é muito restrita, principalmente em ambiente interno, um metro pra cá e um metro pra lá não existe mais cena. Tem a equipe, o equipamento. Então eu fico sempre perto da câmera de filmagem.

Você tira enquanto está filmando?
Sim. Tem um equipamento que chama Blimp. É uma caixa em que eu coloco a câmera, fechada hermeticamente, e eu tiro a foto e não faz barulho. Não atrapalha o som da cena, aquele silêncio absoluto, daquilo que está valendo. Não tem aquele "click, click".

Geralmente, o que os diretores passam para você?
Olha, o diretor me deixa trabalhar. E no filme, está tudo pronto pra mim. Está tudo prontíssimo e lindíssimo pra cena. Então, o meu maior desafio é pegar a expressão do ator em cena, preciso captar aquilo que é. O fotógrafo que faz still e não tem o Blimp, quase que só fotografa no ensaio porque não pode fazer barulho na filmagem. E o ator nunca se entrega na cena como é na filmagem. É difícil você pegar aquela expressão que você quer no ensaio.

Tem também a fotografia de bastidor, que é fotografar a filmagem. Que é fotografar o diretor, a equipe trabalhando. Faz dez anos que eu fotografo cinema, e o cinema está se tornando cada vez mais comercial. O que não vendia antes, hoje vende, tem público. E os diretores dão mais atenção a isso [a fotografia de still]. Tem umas demandas mais específicas: fotografar os atores juntos, o diretor junto dos atores, fazer umas poses. Tudo com o objetivo de divulgação.

Esse é o objetivo da fotografia de still? 
Sim, principalmente a Internet. Antigamente, na porta dos cinemas, tinham as fotos dos filmes, dos bastidores. Agora, sai nos extras dos DVDs, mas principalmente na Internet. Quando começam as filmagens, eles já pedem as fotos para divulgação. Depois o filme some, porque está montando. E aí recomeça a divulgação. O cartaz, que antes era foto mesmo, está cada vez mais uma montagem, tem mais uma linguagem de publicidade.

Você tem novos projetos?
Ainda não tenho nada em vista. Eu trabalho numa ONG em São José, dou aula de fotografia. E moro metade do tempo no sul de Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, eu fotografo cavalos lá (risos). Quero investir nessa coisa de fotografia rural. 

Como foi trabalhar com a Laís no "Chega de Saudade"? 
Foi ótimo, uma pessoa muito boa. E difícil também porque ela é uma pessoa que não gosta de ser fotografada. Então tive que fotografar muito ela para ela gostar das fotos. E esse filme foi muito bacana, em particular, porque era uma locação só, a gente ficou dois meses na Lapa, em São Paulo, com uma equipe de figurantes de mais de 200 pessoas que são frequentadores dali, da dança de salão, com Elza Soares cantando. Foi um dos trabalhos mais gostosos que já fiz. 

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Renan Simão, em Brasil & Mundo

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.