Por Meon Em Brasil & Mundo

Mundo Livre S/A apresenta álbum de estreia no Carnaval

Mundo Livre S/A

Banda Mundo Livre S/A faz show do disco Samba

Divulgação

Famoso por revelar artistas, o festival RecBeat, que ocorre entre os shows do carnaval do Recife, costuma ter sempre entre as atrações alguns resgates e homenagens. Tony Tornado, Odair José e Mulheres Negras (de Maurício Pereira e André Abujamra) foram alguns dos artistas que tocaram no evento nos últimos anos. 

Em 2014, a aposta do festival é local e deve agradar ao público recifense e turistas. A Mundo Livre S/A, que completa 30 anos de carreira, vai tocar na íntegra o seu álbum de estreia, Samba Esquema Noise, no sábado de Carnaval. 

O disco, que também faz aniversário (20 anos), é expoente do manguebeat, e ganhou prêmios Bizz de melhor disco, letrista e banda revelação. Pouco antes, ainda em 1994, a Nação Zumbi havia lançado o Da Lama ao Caos, produzido por Liminha, que é considerado o principal álbum do movimento pernambucano. Mas, segundo o jornalista Ricardo Alexandre, o disco da Nação não virou o fenômeno pop que imaginava a Sony Music. "Samba Esquema Noise é mesmo o grande disco daquela leva, mas este também havia sido todo montado dentro do estúdio", escreve no livro Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar.

Orçado em R$ 40 mil, Samba Esquema Noise (brincadeira com o álbum de estreia de Jorge Ben, Samba Esquema Novo) extrapolou todas as previsões, chegando a um gasto de aproximadamente R$ 120 mil em quase 700 horas de gravação, segundo Carlos Eduardo Miranda, um dos produtores. Ele e Charles Gavin foram os responsáveis pela sonoridade experimental - que, de tão complicada, provocou decepção na turnê de lançamento. 

"Fomos divulgar um disco supersofisticado, mas o show era quase pré-punk, não tínhamos equipamento para reproduzir nem um décimo do que foi gravado", conta Fred. "Quando convidei o Mundo Livre para tocar na festa de um ano do Zap! (antigo caderno do jornal "O Estado de S.Paulo") é que notei o descompasso entre o som do estúdio e do palco. O povo maldoso da redação apelidou o grupo de deus-me-livre-s/a", lembra Ricardo Alexandre.

O fracasso dos primeiros shows não altera o que o disco significou. Após serem descobertos por jornalistas e produtores em um programa da MTV que passou no intervalo da transmissão do Hollywood Rock de 1993 (lendário pelo show fiasco do Nirvana), Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A viraram a nova promessa musical. No primeiro festival Abril Pro Rock, realizado no Recife poucos meses depois, as duas bandas fizeram os seus contatos para a gravação dos discos. 

Naquela época, Miranda estava iniciando uma parceria com os Titãs para a montagem do Selo Banguela Records, braço da Warner, que lançou o Samba Esquema Noise. "Eu andava com uma maletinha com demo de todo mundo - Raimundos, Chico, Mundo Livre - e fazia todo mundo ouvir. Às vezes, a pessoa estava sem tempo, daí eu começava a cantar as músicas. Dava certo, eles adoravam e pediam para colocar a demo", diz. 

Sem nenhuma experiência de estúdio, apesar dos 10 anos de banda, a Mundo Livre S/A chegou a São Paulo com "um pé na frente e outro atrás" para gravar, conta Fred. "O primeiro desafio foi ouvir a minha voz, que tem um alcance curto, em equipamentos profissionais." Não foi difícil ajudá-lo, lembra Miranda. "Em Terra Escura, por exemplo, queria gravar com um tom bem sofrido, e o jeito foi botar o Fred para tomar umas cachaças. Quando já estava bêbado, fomos gravar a voz e ficou ótimo." 

Naquela época, as gravações ainda eram feitas em fita. Samples e efeitos tinham de ser criados com truques de estúdio, recorda Miranda, que colocava entre as faixas algumas músicas de Otto (que na época tocava percussão na banda) e até propaganda de molho de tomate.

O disco reuniu muitos convidados. Em Sob o Calçamento, que virou o símbolo da festa no estúdio, Fred 04 gravou o violão e Nando Reis o baixo. Depois, uma roda de coco juntou quase 30 percussionistas para fazer os ritmos, que tinham como base um sample de músicas do Black Sabbath e Led Zeppelin, montado por Gavin e Paulo Miklos. Apolo 9, Malu Mader, Nasi, Sérgio Boneka e integrantes da Nação Zumbi fizeram participações. 

Segundo Fred, ao conceber o trabalho, um dos versos que mais gostava era "Ou você explora o mundo ou o próximo é você / esta é a única moral do mundo / dá pra entender?", da música que dá nome ao disco. Acabou virando um dos emblemas da banda, hoje já tem mais cinco CDs. Outra marca é o uso do cavaquinho no rock - até então, o registro do instrumento fora do samba era raríssimo O álbum, que reúne hits como Livre Iniciativa, A Bola do Jogo e Musa da Ilha Grande, deve ser relançado em vinil ainda este ano.

 
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