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Revoluções Musicais do Século 20 - Rhythm and Blues: Raízes da música pop moderna

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Robert Johnson: influente no Blues

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Das mãos calejadas e sofridas dos afro-americanos, amontoados em navios fétidos, como mercadorias mal empacotadas, nasceram os primeiros gêneros de música popular que abalariam as estruturas da civilização ocidental, atuando e transformando, para sempre, a psicologia do mundo moderno.

Nos EUA, a música foi considerada a grande responsável pela passagem do negro da escravidão (iniciada em 1612) para a cidadania (ao longo do século 20). O rhythm and blues, por sua vez, edificou a passagem do negro-africano para o negro-americano, e fez nascer o primeiro grande gênero de música popular no século 20.

Socialmente desamparados, a única saída para os africanos incorporarem o establishment euro-americano, foi criar uma cultura completamente nova – e a música, sem dúvida, foi o grande caminho para este despertar. Seria impossível dizermos a real idade do blues clássico ou do rhythm and blues, mas sabemos que suas raízes vieram das “work-songs” – músicas cantadas em coro pelos escravos nas lavouras de algodão no sul dos EUA.

Para a cultura euro-americana, no entanto, a música africana era considerada aberrante, com harmonias desalinhadas e ritmos descompassados. Como os tambores africanos eram proibidos (pelo medo de incitar transes místicos), os negros foram obrigados a usar objetos (como bacias de lavar roupa) para tocar. O banjo e o xilofone (instrumentos igualmente africanos) foram proibidos, também considerados expediente do demônio.

Do ponto de vista dos africanos, os ritmos europeus eram absolutamente enfadonhos, monótonos, o que provocou uma grande discussão envolvendo música e raça: o homem branco tende a tocar mais delicado e uniforme, ao contrário da música negra, com seus vocais pujantes, tensos e roucos. Nascia a primeira grande dialética da música popular moderna:

· Música europeia – técnica, delineada, racional.
· Música africana – espontânea, selvagem, intuitiva.

Uma primeira ruptura, no entanto, viria em meados do século 19, quando missionários americanos começaram a converter africanos para as igrejas protestantes e chegavam a nomear líderes escravos para estimulá-los religiosamente. Os negros africanos então passaram a adotar, espontaneamente, a cultura cristã – unindo, pouco a pouco, o cristianismo às suas superstições. Dessa nova mistura, nasceriam os cantos “spirituals”, oriundos dos templos metodistas e batistas.

Dentro dos templos, a nova música “spirituals” foi, aos poucos, se tornando mais melódica que as “work-songs”, também passando a adotar instrumentação europeia. Os ritmos sincopados e a polifonia da música africana juntaram-se às escalas delineadas da música europeia para dar origem ao blues clássico e, mais tarde, o rhythm and blues – primeiro grande gênero de música popular moderna.

O blues acabou trazendo refinamento e aceitação à raça negra perante a sociedade americana e, com o advento do violão, o estilo recebeu novas transformações, como, por exemplo, o duelo entre canto e instrumento. Depois vieram os instrumentos de metais vindos da Europa, trazendo estruturas que levariam mais tarde ao nascimento do jazz – ritmo mais cosmopolita, não mais resultado de uma experiência íntima dos povos negros na América.

Na próxima quarta-feira, falaremos da construção da música popular moderna no Brasil. Até lá!

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