Por Gabriela Mancilha Em Especial Atualizada em 05 JUN 2020 - 19H23

Cativeiro e caça ilegal ameaçam espécies em extinção em toda a RMVale

A falta de autorização do Ibama gera multa milionária e pode levar à prisão


Entre janeiro e setembro de 2019, mais de 1.900 animais silvestres mantidos em cativeiro foram apreendidos pela Polícia Ambiental na RMVale (Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte). Mais de 84% desses animais são aves, visadas principalmente pelas competições de canto.

A Polícia Ambiental trabalha em cima de denúncias e, nas 34 cidades da região, a maior incidência de casos são de animais em cativeiro e caça ilegal. Outra infração preocupante para o policiamento é a extração ilegal de palmito-juçara, que somou quase 3.000 casos no último ano. Um homem de Tremembé foi preso em flagrante em um rancho improvisado para extração ilegal de palmito e multado em R$ 236 mil após denúncia.

A tenente Francine Vaz, comandante do 1º e 3º pelotões de policiamento ambiental da RMVale conta que as espécies apreendidas com mais frequência são as aves trinca-ferro, bigodinho e coleirinha, devido às competições de canto, com valor agregado por causa dos campeonatos. “[Na apreensão] a gente tem a manutenção de animais em cativeiro, onde a maioria são aves, e de caça, onde a maioria são mamíferos como paca e tatu”. Francine explica ainda que os criadores autorizados recebem visitas da polícia, que checa se o local está de acordo com as normas.


No início de janeiro deste ano, três pessoas foram multadas no total de R$ 38 mil por manter em cativeiro 16 aves silvestres no porta-malas de um carro em Taubaté.

A tenente conta também que as equipes recebem chamados para retirada de ninhos em casas. “As pessoas ligam e falam que tem um ninho na casa, mas nós temos uma legislação específica que protege os filhotes. Não podemos interferir enquanto o animal está sendo criado, somente depois que sai do ninho”, conta Francine.

A Polícia Ambiental também apreende animais silvestres pela Entrega Voluntária, quando pessoas que têm um animal em casa sem autorização, entrega o animal no quartel para que seja cuidado e reinserido na natureza, evitando multas e até a prisão.


Reabilitação

Depois de apreendido, se o animal estiver saudável, vai para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) em Lorena, e caso esteja machucado ou precise de reabilitação, é encaminhado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) na Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José dos Campos. No Cetas, o animal recebe cuidados e pode voltar à natureza, ou ser encaminhado para empreendimentos de fauna devidamente autorizados pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

“Se for verificado pelos policiais que o animal tem condições de ser solto imediatamente, os biólogos informam onde é o habitat natural e ele é solto, ou então ficam em quarentena na Univap e volta depois de readaptado”, explica a tenente.

O Cras, que hoje abriga cerca de 650 animais, é dividido em quarentena, manutenção e serpentário, e cuida do animal até o momento da tão sonhada volta para casa, nos melhores casos. A professora e bióloga Karla Lopes destaca que os animais recebidos pela instituição são documentados, recebem os primeiros tratamentos clínicos, são atendidos pelos veterinários, examinados e medicados conforme a necessidade, recebem dieta balanceada e têm acompanhamento do estado de saúde.

“Depois que têm alta, eles integram o setor de manutenção, onde inicia o processo de reabilitação. Mais tarde são avaliados em saúde e aptidão, quando são feitos novos exames e é realizado o contato com as áreas de soltura e monitoramento de onde fica a espécie, para reinserção na natureza”, explica a bióloga.

O cuidado com os animais varia bastante, dependendo da espécie, idade e resultado da avaliação clínica. “Animal que tem uma fratura exposta tem cuidados diferenciados prescrevidos pelas veterinárias. Nem sempre o animal tem condições de participar de um processo de reabilitação. Eles ficam no Cras, recebem os cuidados, mas ficam com a gente o resto da vida”, afirma Karla.

Animal silvestre é ou não é pet?

Mas e quando bate a vontade de ter um animal diferente e exótico em casa? A veterinária Beatriz Garcia explica que são diversos os animais que pode-se ter em casa, como serpentes, porquinhos-da-Índia, aves em geral, mas reforça a necessidade da autorização do Ibama e afirma que é importante conhecer as condições de higiene do local e pessoas que já compraram desses criadores.

“Todos os animais silvestres têm que ter nota fiscal. Os pássaros devem ser anilhados e algumas espécies até microchipadas, e eles devem ser de origem legal. Não é possível pegar um animal na rua e legalizar, pois ele pode ser uma vítima de tráfico”, afirma a veterinária.

Na última semana, um homem foi multado em mais de R$ 22 mil por tráfico ilegal de animais e vai responder em liberdade em Potim. Com ele foram encontradas sete serpentes, uma tartaruga tigre-d’água, um lagarto teiú, uma iguana, quatro aves e um gambá.

Maria José, 55, tem o papagaio Lourival há três anos, desde os 45 dias de vida dele. Ela conta que já teve um animal não autorizado e resolveu entregá-lo para a Polícia Ambiental. “O amor é grande demais! Ele se adaptou bem porque está comigo desde bebê. Quando vejo ele triste, levo no veterinário, coloco madeira pra ele bicar, dou vitamina quando troca de pena, a cada 4 meses, frutas, e deixo ele solto pela casa. Ele só vai para a gaiola para dormir”.

Camila Majes
Camila Majes
Maria José e Lourival


Antes de escolher ter um animal silvestre, a veterinária alerta que deve-se conhecer a biologia da espécie, qual o ambiente em que ela vive, se é um animal sociável, qual a alimentação dela na natureza e se gasta muita energia. “Tem aves que voam centenas de quilômetros por dia. Se a gente coloca uma ave dessa na gaiola e quer alimentar com a mesma alimentação da natureza, com certeza elas vão apresentar sobrepeso”.

No processo de compra do animal, o interessado deve levar em questão os custos e o porte do bicho, tendo a consciência de que deve mantê-lo por longos anos, o que exige condições psicológicas e físicas para lidar com esse ‘pet não convencional’, a fim de evitar o abandono e os maus tratos.

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