Grande sensação do atletismo brasileiro neste ano, Andressa de Oliveira quer coroar no Troféu Brasil, a partir desta sexta-feira, em Bragança Paulista (SP), a melhor temporada de sua carreira. A especialista no lançamento do disco alcançou o auge de sua trajetória, aos 27 anos, ao faturar medalha na Diamond League, quebrar neste ano o recorde sul-americano pela terceira vez e ganhar o respeito das adversárias.
A consistente temporada, em que mostrou regularidade até então não vista em sua trajetória, já credencia esta paraibana de João Pessoa a projetar medalhas no Mundial de 2019, em Doha, e também nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, seu maior objetivo. "Até a Olimpíada, eu quero lançar 70 metros", disse a atleta, em entrevista ao Estado.
Ainda faltam cinco metros para ela alcançar a sonhada marca, pois o recorde registrado neste ano foi de 65,10m, no GP Brasil, em julho. Mas, a julgar pela evolução exibida nas últimas duas temporadas, o sonho pode não estar tão longe. Andressa vem crescendo mesmo diante de obstáculos, como uma hérnia de disco na coluna e falta de recursos. Nada disso impediu que ela quase igualasse o recorde brasileiro masculino, algo muito raro no atletismo, de 65,55m, de Ronald Odair Julião (2013).
A maior dificuldade foi a contusão na coluna, em 2013. O caso, de cirurgia, foi resolvido com tratamento, mais longo, o que deixou a atleta afastada dos treinos e competições por mais de um ano. "Foi bem complicado, perdi o Mundial de 2013", lamenta a lançadora, que já tinha no currículo a 12ª posição obtida nos Jogos de Londres-2012.
Seu retorno em alto nível aconteceu no Troféu Brasil de 2015. E logo de cara bateu o recorde da competição, ao lançar 64,15m. Para alcançar o feito, treinava em casa, em Bragança mesmo, antes de passar a trabalhar no Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo, que virou o epicentro da modalidade no Brasil. Sem local para treinar na época, Andressa improvisou uma pequena academia em casa e passou a fazer lançamentos em um terreno baldio, com o apoio do marido, ex-atleta do lançamento do martelo. "Eu lançava num terreno atrás de casa e tinha a ajuda do meu esposo. Hoje já não daria para fazer isso porque tem várias casas na vizinhança."
Mas Andressa tinha dificuldade para manter a motivação. "Foi um ano e pouco treinando em casa. Foi muito difícil. Confesso que tentei desistir várias vezes. Caí muito de rendimento, sentia muitas dores. Parecia que o atletismo estava acabando para mim", admite a lançadora, que chegou a ter bons resultados no Brasil também no lançamento do martelo e no arremesso de peso.
Isso se refletiu na fraca performance em 2016. Um ano depois, voltou a fazer bonito. Ao retomar a motivação, bateu recordes e estreitou o trabalho como técnico cubano Julian Baloy, que a acompanha há dez anos. Se em 2017, Andressa participou de oito torneios, neste ano ela atingirá 16 no Troféu Brasil.
A "maratona" de competições se deve principalmente à regularidade dos resultados, que garantiram sua presença em todas as etapas da Diamond League, o circuito mais prestigiado do atletismo mundial. O auge veio na etapa final, em Bruxelas, quando faturou a medalha de prata, com 64,65m. Só foi superada pela cubana Yaime Pérez, que cravou 65m. Ambas superaram a grande favorita da modalidade, a croata Sandra Perkovic, bicampeã mundial e olímpica. "Eu treino todo dia pensando nela", diz a focada brasileira, que foi apenas a 21ª nos Jogos do Rio-2016, com 57,38m.
Desde então, ela só tem evoluído. "Venho focando mais nos detalhes da técnica. Estou me cuidando mais, tanto na parte nutricional quando na psicológica. O trabalho com o meu marido também vem ajudando. Quatro olhos veem melhor que dois", avalia a atleta, ciente do alto nível que alcançou neste ano. "Acho que o diferencial é a minha regularidade, praticamente não tive oscilações na temporada."
FUTURO - Após disputar o Troféu Brasil, Andressa entrará em férias. E, mesmo antes do descanso, ela já projeta a próxima temporada, decisiva para suas ambições visando Tóquio-2020. Como aconteceu neste ano, a lançadora quer disputar novamente todas as etapas da Diamond League. Para tanto, busca patrocinadores, que sumiram de diversas modalidades, principalmente do atletismo, após o Rio-2016.
"Perdi quase todos os patrocinadores depois da Olimpíada", diz a lançadora, que recebe salário do clube Pinheiros, conta com o Bolsa-Pódio e tem vínculo com a Marinha. "Mas não é o suficiente para bancar viagens e hotéis para as competições", afirma a atleta, que compete sem apoio de marca esportiva específica. Os discos com que treina foram pagos por ela mesma.
Totalmente focada em Tóquio-2020, Andressa ainda não sabe se seguirá no atletismo após a Olimpíada. Formada em Educação Física, ela cogita até mudar de área. "Eu queria fazer outra faculdade, sem relação com o atletismo. Mas não decidi nada. Ainda vou pensar melhor no assunto."
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