Alunos

O avô de Valter

Inspirado no livro “As mais belas coisas do mundo” - Valter Hugo Mãe.

Marcela (Arquivo pessoal)

Escrito por Marcela Antunes

27 SET 2021 - 15H30

Reprodução: Internet

Eu procurava a beleza.

Ia ver os carros passarem, observava peças de arte e mexia no jardim.

Não achava.

O avô de Valter me disse um dia, que tudo bem.

Que eu poderia procurar mais.

Pedi a Valter que me emprestasse seu avô por um pouquinho para que eu conseguisse ajuda na minha busca pela beleza.

Valter disse que sim.

E fomos.


Começamos pela fita métrica.

Queríamos medir corações.

Achei aquilo estranho.

Como se mede o coração de alguém?


Tentamos a matemática.

O avô de Valter disse que era possível aumentar de tamanho se eu me concentrasse nos exercícios.

E aumentei.

Consegui encostar em Marte dentro da minha própria cabeça.

Foi magnífico!

Mas ainda não tínhamos achado a beleza.


Buscamos fazer o caminho inverso: procurar pela tristeza.

Quem sabe de tão triste que era, poderia nos ajudar a identificar a beleza mais rápido.

Mas a tristeza era mais legal do que parecia.

Nos ensinou um caminho bom pra encontrar a beleza.

Disse que poderia ser difícil.

Mas que tinha certeza de que a beleza estava lá.


Pegamos esse tal caminho.

O avô de Valter disse que se chamava “encanto”.

E que esse “caminho encanto” era urgente.

Tentei andar depressa para chegar mais rápido no fim.

Mas o avô de Valter disse que não podia.

Perguntei então, qual seria a velocidade ideal.

Ele respondeu que era mistério.

Não entendi.

Ele disse que tudo bem. Que eu iria entender um dia.


Chegamos ao fim daquele “caminho encanto”.

Tinha um vendedor de pipocas.

Perguntei qual era o preço do saquinho.

Ele disse que não tinha preço, era de graça.

Agradeci pelo presente e fui comendo as pipocas.

O avô de Valter me explicou que não tinha preço, porque só tinha valor.

Mas eu já estava ficando cansada de todos aqueles dizeres.

Tentei ficar quieta.

Não consegui.

Precisei fazer alguma coisa.

Então sugeri que tentássemos pegar um atalho da estrada que estávamos para conseguir, de fato, achar a beleza.


Adentramos o atalho.

Encontramos uma velha morta.

Fiquei com medo.

Mas o avô de Valter olhou pra ela como uma recordação boa.

E a velha que estava deitada no chão começou a desaparecer.

Acho que foi parar no coração do avô de Valter.


Continuamos a caminhar.

Nesse tempo, ao invés de uma afirmação, o avô de Valter resolveu me fazer uma pergunta.

Perguntou quais seriam as mais belas coisas do mundo.

Eu, assim como o próprio Valter, não soube o que dizer.

O avô de Valter disse que tudo bem.

Mas eu comecei a questionar: “Como poderei achar a beleza se mal consigo definir as coisas mais belas do mundo?”

E o avô de Valter respondeu que era sendo.

“Sendo?” - perguntei.

“Sim. Sendo do verbo ‘ser’ ”- respondeu.

Entendi. Fiquei contente! Tinha entendido pelo menos alguma coisa.

Quis dar um abraço no avô de Valter por ter me explicado aquilo, mas assim que me virei para ele, vi que não estava mais lá.

“Como é possível que o homem que estava sempre falando pare, um dia, de falar?” - me perguntei.

E aí, percebi que eu não tinha entendido nada.

Chorei.


Os outros que passavam por ali e me viam chorando diziam, na tentativa de me acalmar, que o avô de Valter tinha sossegado.

Menos Valter, que disse, que sentia que seu sossego de seu avô era do tamanho da nossa solidão.

E aí eu entendi tudo.

Entendi que a beleza era o próprio avô de Valter.

Era o próprio Valter.

Eram os corações.

A matemática.

Até a própria tristeza.

Era também o “caminho encanto”.

As pipocas.

E por mais ruim que pareça, era a própria morte. Porque esta era quem inventava a vida.


Deixei de procurar a beleza.

Vi que só precisava viver.

E lembrar de tudo que me foi ensinado pelo avô de Valter.


Com supervisão de Yeda Vasconcelos, jornalista do Meon Jovem.





Escrito por
Marcela (Arquivo pessoal)
Marcela Antunes

Colégio Univap Centro - 2º Ano Técnico de Publicidade

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