As festas juninas tornaram-se algo comum nas escolas, tanto que são raras as unidades escolares que não realizam tal atividade curricular. Os alunos se vestem de maneira que ficam “parecidos” com moradores das zonas rurais; as quadras e pátios são enfeitados com bandeirinhas, confetes e muitas vezes podemos notar barracas de jogos e de comidas típicas. Um dos momentos mais importantes da comemoração é quando um casal, vestidos de noivo, encena uma cerimônia de casamento; e todas essas atividades são consideradas divertidas e engraçadas.
Contudo, quais são os significados por trás da parte divertida do evento? As festas juninas ainda podem ser consideradas como um evento de cultura popular?
A origem dessa festa junina é pagã, isto é, não possui o caráter religioso atribuído atualmente. As comemorações começaram a ser cristianizadas a partir do momento em que o Cristianismo se consolidou como a principal religião na Europa. A Igreja Católica, por exemplo, utilizava essa prática para assegurar a conversão dos povos pagãos e, assim, acrescentava elementos cristãos nessas festividades.
Entretanto, as antigas finalidades e caráter religiosos não estão muito presentes nessas atividades. Não é só o casamento que é retratado estereotipadamente nas festas escolares. As crianças e jovens são incentivados a se vestirem “fantasiados” de caipiras. Todavia, tal ação degrada a cultura popular, na qual os alunos se vestem com roupas remendadas, dentes falhados, chapéus e até mesmo alteram o seu modo de falar, que é feito de maneira a ridicularizar os trabalhadores rurais, como se fossem ingênuos e tolos.
Poucas escolas explicam a importância desse cidadão, ou seja, do morador de áreas rurais; poucas mostram que muitas vezes a falha no dente não é algo que ele possui para ser engraçado ou informam que eles produzem alimento e, mesmo assim, são, muitas vezes, submetidos a condições degradantes de trabalho. Seguindo a linha de pensamento do antropólogo contemporâneo Nestor Garcia Canclini, todas as culturas possuem formas próprias de organização e características únicas que, mesmo que possam nos parecer “estranhas”, devem ser respeitadas. Posto isso, podemos perceber como a festa junina se torna uma legitimação da ridicularização da miséria.
Vale ressaltar que as mudanças econômicas do séc XIX contribuíram fortemente para a consolidação dessa visão do caipira. Isso se deve ao processo de urbanização brasileira, em que a parte rural deixou de ser aquela que possuía as melhores oportunidades de investimentos. Ao mesmo tempo, a europeização dos centros urbanos fez com que o caipira paulista sofresse o preconceito cultural, já que o padrão considerado correto e moderno era o europeu, enquanto qualquer traço da cultura rural era vista como atrasada e digna de risadas.
Toda essa criação de uma caricatura para o caipira com estereótipos negativos, incorretos e equivocados demonstra um descaso com o multiculturalismo, pluralidade cultural e a interação entre as culturas. É preciso frisar que os jovens não precisam deixar de usar as vestimentas desse evento, entretanto é nosso dever apresentar os valores reais dessa cultura cabocla, já que é extremamente rica e, com ela, temos acesso a vários produtos e atividades presentes no nosso cotidiano.
Com supervisão de Giovana Colela, jornalista do Grupo Meon.
O impacto dos embates mundiais no cenário econômico
Conflitos geram consequências duradouras nos preços dos bens essenciais
Animais silvestres aparecendo em condomínios
Saiba o que fazer quando encontrar algum
Apagões não param a adoração
Chuvas causam queda de energia durante culto na Igreja Vida Plena
Boleto
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.