No meio daquela multidão, compreendi a frustração. Mais um jovem que se tornaria estatística, mais um garoto retirado de um grande mundo, um caminho sem reparação. Mais uma triste notícia para nossa nação. Caminho tranquilamente em direção à minha casa, pensando no que nos foi arrancado. Um filho, um neto, um sobrinho. Mas além disso, o sonho de um menino. Subindo o morro onde ocorreu aquela tragédia, observo. Quantas pessoas perdidas, quantas que podem ter um futuro como o do menino deitado no asfalto no morro abaixo. Todos com sonhos destruídos, arrancados e transformados por uma ideia de que acreditavam ser imutável. Entro em casa e um alívio toma meu peito, meu garotinho está lá, com o caderno aberto e o lápis na mão.
"Pai, acho que o Davi não vai vir estudar comigo." Fala com um suspiro de lamento.
Eu fico sem palavras, sem saber como dizer que o menino que ia estudar com meu filho nunca mais entraria em nossa casa. Que o menino a quem ele chamava de irmão era o menino deitado naquele chão. O pequeno menino negro que entraria para estatística. Seria manchete dos grandes jornais, mas o mundo continuaria sendo o que é. Um mundo que não tem reparação, por conta da ideia de um mundo melhor, que é enterrada junto ao pequeno menino estatístico.
Com supervisão de Isabela Sardinha, Jornalista do Meon Jovem.
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