Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper
O envolvimento dos filhos do presidente em questões federais voltou à tona com as críticas ao vice Hamilton Mourão por Carlos Bolsonaro. Políticos e especialistas já criticaram tal atuação. Isso tem sido prejudicial?
Os filhos de Bolsonaro são agentes políticos. Um deles é senador (Flávio), outro é o deputado federal mais votado do País (Eduardo). Eles são líderes do partido do governo e da coalizão que está no governo. Logo, eles necessariamente terão influência no governo, goste-se ou não. Caso Ciro Gomes tivesse sido eleito, é presumível que Cid Gomes seria um ator político influente no governo. O caso de Carlos Bolsonaro é diferente.
Parece claro que, tanto no caso da demissão do ministro Bebianno, como agora, no ataque ao general Mourão, ele cumpre o papel de porta-voz informal do presidente. Como o comportamento se repete, é claro que não se trata de uma casualidade, mas de um método. Bolsonaro opta por criar uma espécie de espetáculo público para repreender seu vice-presidente e resolver assuntos que deveriam ser tratados a portas fechadas.
Como avalia a postura do vice-presidente nesse episódio?
Em relação a Mourão, o erro vem da montagem do governo. O vice deveria ter uma função definida e não ficar vagando por aí, claramente insatisfeito com o tratamento que recebe no governo, buscando alguma mídia e a imagem de "contraponto razoável" ao presidente. Há, na minha visão, um grande erro estratégico aí.
Qual é a sua avaliação a respeito dos primeiros cem dias?
Bolsonaro representa um governo de ruptura, como foram Collor, em 1990, e Lula, em 2003.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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