O líder opositor venezuelano Juan Guaidó mobilizou nesta terça-feira, 30, parte dos militares em uma tentativa de sublevação contra o presidente Nicolás Maduro. Ao longo do dia, o governo reprimiu manifestações em Caracas e nas principais cidades do país e conseguiu manter a coesão das Forças Armadas, levando alguns opositores a se refugiar em embaixadas - entre eles, Leopoldo López, que recorreu à missão diplomática chilena. Mais de 60 pessoas ficaram feridas e 25 foram presas.
À noite, na TV estatal e cercado por militares, Maduro garantiu que o movimento contou com o apoio da Colômbia e dos EUA. "Nunca antes na história da Venezuela tinha acontecido um levante pelo empenho obsessivo e nefasto de um grupo de oposição da extrema direita venezuelana, da oligarquia colombiana e do imperialismo americano, pela sua posição obcecada de derrubar o governo constitucional da Venezuela, de impor um governo ilegítimo", declarou. Ele também negou a versão do secretário de Estado, Mike Pompeo, de que pretenda fugir para Cuba.
Guaidó, por sua vez, convocou a população na noite de terça a manter os protestos previstos para esta quarta-feira, dia 1º de maio, e pediu às Forças Armadas que deponham o líder bolivariano.
Ainda não havia amanhecido nesta terça na Venezuela, mas a movimentação no WhatsApp era intensa à espera da mensagem que Guaidó prometera. Nas ruas escuras, blindados trafegavam, despertando quem ainda não acompanhava o noticiário. Pouco depois das 6 horas, o autoproclamado presidente interino falou.
"Começou o fim da usurpação. Estou com as principais unidades militares das Forças Armadas para dar início à fase final da Operação Liberdade", disse. As manifestações esperadas para esta quarta-feira se transformaram em uma tentativa de expulsar Maduro do Palácio de Miraflores.
Guaidó estava acompanhado de seu padrinho e mentor político, Leopoldo López, que há dois anos cumpre prisão domiciliar após passar outros três preso em um presídio militar. Ele foi condenado a 14 anos de cadeia por liderar protestos contra Maduro em 2014. Tanto López quanto autoridades chavistas atribuíram ao serviço secreto chavista, o Sebin, a decisão de libertá-lo. López disse que seus captores acataram um pedido de indulto concedido por Guaidó. Diosdado Cabello, uma das figuras mais importantes do chavismo, atribuiu sua fuga à colaboração de dissidentes do Sebin. López se refugiou por algumas horas na Embaixada do Chile em Caracas, ao lado da família. Ele deixou o lugar no final do dia e foi para a Embaixada da Espanha em Caracas, informou o chanceler chileno, Roberto Ampuero.
Enquanto lideravam a mobilização, López e Guaidó estavam cercados por dezenas de militares com faixas azuis no uniforme para sinalizar a sublevação. Havia relatos de que um dos principais dissidentes era Manuel Cristopher Figuera, que assumiu o Sebin em outubro. Ele foi acusado pelo chavismo de ter libertado López.
Por volta das 8 horas, o clima era de entusiasmo. Centenas se juntaram aos atos, envoltos com a bandeira da Venezuela. Pouco depois, começaram a explodir as primeiras bombas de efeito moral. Um blindado da Guarda Nacional Bolivariana, leal a Maduro, avançou contra a multidão, atropelando manifestantes. Tiros de balas de borracha foram disparados. Um opositor, Samuel Méndez, de 24 anos, morreu com dois tiros no Estado de Aragua. Segundo a secretaria de Saúde do distrito de Chacao, em Caracas, ao menos 78 pessoas ficaram feridas, 3 por armas de fogo.
Em Miraflores, reuniram-se os chavistas convocados por Cabello e pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino. Maduro não deu as caras, pronunciando-se apenas pelo Twitter para pedir unidade "contra o golpe". "Agora, vamos ao contra-ataque", prometeu Cabello. O chavismo foi apoiado por Rússia, Cuba e Turquia.
Fracasso
Ao longo da tarde, a ausência de movimentação em guarnições militares evidenciou que a sublevação defendida por Guaidó não encontrou respaldo. Começaram então as deserções. Ao menos 25 militares pediram refúgio na embaixada brasileira (mais informações na página A16). À reportagem, o deputado Luis Silva, da Ação Democrática, disse que Guaidó deixou o ato em segurança e está em um local protegido para liderar as marchas desta quarta. "Estará comandando os protestos em Caracas", garantiu.
Para a analista política Carmem Beatriz Fernández, o movimento lançou uma cartada final e um deles terminará se impondo, Maduro ou Guaidó. "Antecipar essa movimentação era uma tentativa de criar um fator surpresa para desconcentrar o adversário. E Guaidó conseguiu isso", avaliou. "O fato de tantas horas terem se passado e não sejam detidos os promotores do protesto expõe debilidades claras do governo", concluiu a analista." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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