"Foi só começarem as obras que apareceram rachaduras na minha casa",
reclama o vendedor Djalma Bernardino
Warley Leite/Meon
Considerado tesouro do século, o petróleo -ou, na verdade, o resto dele- tem dado dor de cabeça aos moradores de Itatinga, região central de São Sebastião, e gerado conflitos entre população, prefeitura e Petrobras.
Em 2006, durante a reforma de algumas casas, um líquido preto e viscoso vazava por qualquer perfuração. Depois da análise feita pela Vigilância Sanitária, concluiu-se que o material era borra, composto de hidrocarbonetos pesados e carcinogênicos, sobra do processo de refinamento de petróleo. Após testes feitos no solo, o bairro foi dividido em duas zonas: vermelha, considerada de contaminação crítica, e azul, o entorno.
Para descontaminar o lugar, em 2012, a Petrobras começou escavações, mas a fragilidade da área aterrada -antiga várzea usada para descarte irregular da substância- não suportou as ações e o solo cedeu em até 25 centímetros em algumas áreas, causando danos nas construções.
Apesar da prefeitura alegar que a Defesa Civil esteve no local, fez avaliações nas casas e concluiu que não há danos estruturais, o laudo da residência de Adelson Viana -atestado pela própria Defesa Civil- pede a remoção de sua família com urgência. “Foram duas vigas partidas ao meio e não tenho condições de sair e pagar aluguel. Estou morando em uma casa que pode ruir. Hoje, eu e minha família estamos em perigo".
Viana diz que procurou a estatal para conseguir o aluguel, mas a empresa se negou a pagar. "Eles não ajudaram em nada. Uma diretora queria que eu saísse e pagasse o aluguel do meu bolso, e ainda me ofereceu R$ 2 mil para não entrar com processo contra a companhia", conta o jardineiro de 36 anos. Questionada, a Petrobras diz que "não houve oferta de dinheiro para dissuadir qualquer morador de entrar com ação judicial”.
"Foi só começarem as obras que apareceram rachaduras na minha casa", reclama Djalma Bernardino. "Conforme tiravam a terra lá embaixo [na área de limpeza], a terra aqui de cima foi cedendo. Dá pra ver que a nossa parede está desmoronando", relata O vendedor que está com as paredes de casa partidas por rachaduras.
Atualmente as obras estão suspensas. Por causa de diversos problemas de saúde registrados pelos moradores, após o início da limpeza da área, a Vigilância Sanitária entrou com ação e o Ministério Público conseguiu embargar a ação.
Outro lado
Procurada pelo Meon, a Prefeitura de São Sebastião informa que oferece assistência médica, não é responsável pelos danos financeiros e orienta quem se sentir lesado a recorrer à justiça para o ressarcimento de seus bens.
Já a Petrobras declara que, antes das escavações, foram realizadas vistorias nos imóveis do entorno e monitoramento geotécnico que indicaram que as rachaduras presentes em algumas casas inspecionadas são anteriores aos serviços de recuperação. "Para garantir a integridade dos moradores da residência adjacente ao imóvel da Petrobras, a representante da empresa apresentou proposta para o morador e seu representante legal visando, alugar a casa durante o período dos trabalhos, indenizar o transtorno causado pela saída temporária da residência e a reparação e pintura do imóvel", completa por nota.
(* Com edição de Kaike Chaves e Priscila Gomes)
Boleto
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.