RMVale

Um gigante do ringue na arena da política na RMVale

O Portal Meon conversou com Homem Montanha, ex-lutador de luta-livre e atual vereador suplente em Taubaté

Escrito por Gabriel Campoy

05 FEV 2021 - 16H36 (Atualizada em 06 FEV 2021 - 17H13)

Reprodução/Internet

Para os mais velhos, é inevitável citar o nome do Homem Montanha e não lembrar imediatamente do personagem do "Gigantes no Ringue", programa de bastante audiência aos domingos na TV aberta. O espetáculo que na década de 80 passou pela Rede Bandeirantes e, posteriormente, pela Rede Record, tinha nomes como Aquiles, O Matador; Múmia Negra, Mister Argentina, Trovão e muitos outros.

O Portal Meon, conversou com o vereador Ronaldo Aparecido Gonçalves, que assim como os super-heróis, usam os nomes de batismo no cotidiano. Entretanto, Homem Montanha, como é conhecido e foi eleito vereador suplente em Taubaté, diz preferir ser chamado assim.

O político que recentemente tomou posse na câmara municipal da cidade no lugar da vereadora Vivi do Rádio (Republicanos), sua colega de partido, falou sobre seu interesse pela política, os tempos de lutador e seus objetivos no Legislativo taubateano. Confira a entrevista.

Como surgiu o interesse do senhor pela política?

A política faz parte da vida de todos nós no dia a dia e esteve, inclusive, na época em que eu trabalhava com a luta-livre. Todas as cidades que íamos levar nosso show, para conseguirmos o aval das autoridades, tínhamos que estar em contato com a política. Conheci vários prefeitos, secretários, presidentes de câmara, entre outros. A política então sempre esteve perto do meu cotidiano.

Ao abandonar os ringues e parar de lutar, o senhor já tinha como foco fazer carreira na política?

Sim. Foi algo premeditado. Ainda antes de parar com as lutas eu já tinha a intenção de ser candidato a vereador, mas infelizmente o tempo não era suficiente para conciliar os dois. Se eu ganhasse o pleito, para assumir, eu teria que deixar a empresa (Gigantes do Ringue), e isso não era a minha vontade na época.

Quando foi o início da vida política?

Foi após eu me aposentar. Esperei chegar a hora de parar para começar, de fato, no mundo da política. Minha primeira eleição foi no ano de 2004, em Bragança Paulista, cidade que eu morava, onde fui candidato a vereador pelo PCdoB. Após isso, tentei novamente só em 2012, quando fui novamente candidato pelo PSDB.

Não obteve sucesso em nenhuma das duas tentativas?

Em 2004 fui derrotado, entretanto, em 2012, minha candidatura acabou indeferida por eu não ter votado no segundo turno das eleições presidenciais de 2006. Contudo, mesmo assim, tivemos uma grande votação. Foram 980 votos.

O senhor começou a carreira política no Partido Comunista... O senhor se considera de esquerda?

(Risos) Na verdade, o PCdoB entrou na minha vida por uma questão de ajudar alguns amigos meus que eram partidários da legenda na época. Fui lançado candidato apenas para atingir o quociente eleitoral do partido, mas deixei claro que não faria campanha. Na época eu já era envolvido com política e vim para Taubaté ajudar na campanha eleitoral do Roberto Peixoto, candidato a prefeito na época.

O senhor ainda não morava em Taubaté?

Não. Morei em Bragança Paulista até 2006, mesmo tendo trabalhado na cidade em 2004. Em 2012, na minha segunda eleição, já pelo PSDB, já tinha o real interesse de ser candidato.

Divulgação / Câmara de Taubaté
Divulgação / Câmara de Taubaté
Bilili de Angelis e Homem Montanha


Quais são as principais pautas e bandeiras políticas que o senhor defende?

Quero atuar em prol da área da saúde. Acredito que seja esse o maior problema da cidade atualmente. Quero atuar também na geração de renda para a população. Precisamos pensar em buscar uma solução para o desemprego. Na nossa cidade, o número de pessoas em situação de vulnerabilidade, pedindo ajuda nas ruas e nos faróis cresceu muito. Nós como legisladores não podemos achar isso normal. Precisamos achar uma alternativa para esses problemas.

O senhor conseguiu ganhar dinheiro na luta-livre?

Consegui porque eu trabalhava demais. Entrei na luta-livre com 13 anos, em 77, por conta de uma rebeldia. Eu havia perdido meu pai em 76 e me tornei um garoto briguento. Eu sempre fui obeso, alto e para proporção da minha idade todos achavam que eu era dois ou três anos mais velho do que minha idade. Em 77 eu fui pra academia d’Os Reis do Ringue, que era comandada por vários nomes famosos da luta livre. Aquiles Matador, Mister Argentino, Ted Boy Marino, entre outros. Como eu era garoto muito novo, virei uma espécie de auxiliar. Lutávamos em circos, já que na época o show não estava na TV e as cidades não tinham ginásios aptos para receber o espetáculo. Os líderes ganhavam dois cachês e os demais apenas um. Então, trabalhando todos os dias era sim um bom dinheiro.

Todos conseguiram fazer um bom pé-de-meia?

Da velha safra sim. Todos conseguiram construir um bom patrimônio. Muitos já faleceram, mas os que ainda estão vivos, vivem desse dinheiro até os dias de hoje.

Como foi a ida para a televisão?

Isso foi na década de 80, quando o Astros do Ringue surgiu na TV Bandeirantes, exibido aos domingos às 20h em rede nacional. Nós éramos tão aceitos, que em seis meses de audiência chegamos a encostar no Fantástico da Rede Globo. Apesar da boa audiência, não ganhávamos tanto dinheiro, já que os lutadores assinavam contrato com empresários, o que nos proibia de lutarmos outros dias. Após dois anos a empresa acabou e retornei ao Rei dos Ringues, já como líder, para exercer a função de diretor executivo. Até 1985 ficamos trabalhando em circo, quando fomos contratados pela Record, para reiniciarmos o projeto do Gigantes do Ringue, sob comando do Michel Serdan.

Porque o programa chegou ao fim?

Foi após a compra da Record pelo Bispo Edir Macedo. Ele argumentou que não era um espetáculo adequado a ideologia da qual ele queria instalar em uma televisão brasileira. A ideia dele era criar uma televisão na igreja, e no entendimento dele a luta-livre mostrava violência. Além do fato de alguns lutadores tinham nomes não aceitos pela igreja, como Demônio Cubano, Diabo Loiro, Satã, entre outros.

Ficou alguma mágoa em relação à Rede Record?

Nenhuma. Aquilo era um meio de vida para o empresário não para o lutador. Quando se trabalha para uma emissora você fica preso à ela por contrato. Ela detém exclusividade sobre seu trabalho. E no nosso caso, não era uma boa, pois não podíamos trabalhar o resto da semana. Eu só fui ganhar dinheiro mesmo, de fato, entre 1995 e 2005. Nessa época foi onde eu construí meu patrimônio e, praticamente, sobrevivo financeiramente desse dinheiro até hoje.

O espetáculo da luta-livre, tanto na televisão, quanto nos circos e nos ginásios, era de fato real ou encenação?

A luta-livre sempre foi um espetáculo ensaiado. Todos os golpes eram feitos com bastante responsabilidade. Entretanto, mesmo com bastante responsabilidade por parte dos lutadores, algumas lesões aconteciam já que era tudo no improviso. O público ficava bastante perto das grades. Tínhamos que convencê-los.

Reprodução/Internet
Reprodução/Internet
Homem Montanha no Gigantes do Ringue


Qual era o intuito então?

Como nosso público tinha bastante crianças, nossa intenção era sempre mostrar que o bem vencia o mal. Por mais que o mocinho apanhasse bastante durante a luta, no final o bem se sobressaía. O meu personagem, o Homem Montanha, era um vilão. Ele usava como artifício um limão que ele cortava com os dentes, espremia-o e passava nos olhos do seu adversário. Entretanto, no final, ele sempre vacilava e o lutador do bem tomava o limão da mão dele, imobilizava o Montanha e ganhava a luta. Tínhamos sempre um roteiro voltado a demonstrar a força do bem.

Qual o cenário da luta-livre atualmente?

A luta-livre, desde 2010, não trabalha mais com cobrança de ingresso. Desde então ela trabalha em beneficio à obras sociais. O ingresso para os shows é mediante a doação de alimentos. Os cachês dos lutadores são pagos por patrocinadores locais que financiam o espetáculo.

O partido do senhor apoiou o atual prefeito, José Saud (MDB), nas últimas eleições. Acredita ter sido a melhor escolha para Taubaté?

Acredito que sim. Esperamos que o prefeito José Saud (MDB) trabalhe em prol dos menos favorecidos. Então se ele tiver essa visão como executivo, e o nosso legislativo tiver convicção de que ambos devem trabalhar junto, acredito que a cidade terá um grande avanço. Todos queremos uma cidade mais empenhada em ser diferente, com geração de renda, mais empregos e uma saúde de qualidade.

O que a população de Taubaté pode esperar do vereador Montanha na câmara?

Hoje mesmo como vereador eleito fiz um levantamento na secretaria da Saúde, temos mais de 4 mil pessoas necessitadas de cirurgia de catarata. Então o que precisamos é arregaçar as mangas e ir para cima e zerar a demanda da saúde. Quando vim candidato em 2020 foi nesse propósito.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Gabriel Campoy, em RMVale

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.