SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governador João Doria (PSDB-SP) passou a admitir a possibilidade de ter de concorrer à reeleição no ano que vem, embora a disputa do Palácio do Planalto siga sendo sua prioridade.
A mudança de posição visa sinalizar aos partidos e rivais do chamado centro, que no Brasil é uma amálgama que vai da centro-esquerda à direita, que o tucano não quer impor seu nome como presidenciável.
Além disso, ela responde a uma realidade prática: a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no jogo, com a restituição por ora de seus direitos políticos, aumentou demais a pressão sobre os nomes a terceira via entre o ex-presidente e o atual, Jair Bolsonaro (sem partido).
"Diante deste novo quadro da política brasileira, nada deve ser descartado", afirmou Doria neste sábado (13) ao jornal O Estado de S. Paulo, que havia questionado acerca da questão da reeleição.
A frase, validada por aliados do governador, tem óbvio sentido duplo. O primeiro, a tal sinalização desejada.
Segundo a reportagem ouviu do entorno do tucano, Doria percebeu que seus movimentos são lidos como muito agressivos e assertivos por potenciais companheiros em 2022.
Em conversas recentes, o governador já havia admitido ter cometido um erro político no episódio em que chamou a cúpula tucana para um jantar no qual aliados seus sugeriram que ele deveria assumir a presidência do partido para controlar a sigla com um viés de forte oposição a Bolsonaro.
Entre políticos de siglas próximas em alas do PSDB distantes de Doria, há um consenso de que o nome do governador paulista se coloca por gravidade na disputa, em especial por seu protagonismo na oposição ao presidente no manejo da pandemia.
Mas eles apontam o que veem como falta de tato do tucano na condução de negociações. Ao dizer que pode buscar ficar onde está, dizem interlocutores de Doria, ele abre a porta para acomodações e talvez diminua resistências.
Com efeito, até agora Doria não disse se irá disputar as prévias nacionais do PSDB, marcadas para outubro. Seu principal rival interno, o governador gaúcho Eduardo Leite, já disse topar o embate, assim como o franco-atirador Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus.
Mesmo a questão da vacinação contra a Covid-19, maior trunfo do tucano, tem pesado.
Em entrevista à Folha, um dos maiores desafetos de Doria no PSDB, Aécio Neves, resumiu a crítica que mesmo aliados do governador têm feito a seus esforços para promover a Coronavac, imunizante chinês produzido com o Instituto Butantan.
"Seu papel [de Doria] foi fundamental para que o Brasil tivesse acesso a um conjunto mínimo de vacinas, mas a obsessão pelo marketing não deixa as pessoas julgarem isso positivamente", disse o deputado federal mineiro.
A entrevista de Aécio causou confusão nas hostes tucanas. O deputado sugeriu que o PSDB deveria estar pronto para abrir, pela primeira vez desde 1989, a cabeça de chapa na disputa presidencial, caso haja nomes mais viáveis para disputar com o PT e Bolsonaro.
Em segundo lugar, há a realidade em si. Não há um nome consensual no tal centro, que hoje vai de Ciro Gomes (PDT) no espectro à esquerda, até no limite da direita o ex-juiz Sergio Moro --que de todo modo parece mais um influenciador do que um candidato potencial.
No meio do caminho há Doria, Leite, o apresentador Luciano Huck, que com a proposta de herdar o lugar de Fausto Silva nos domingos da Rede Globo parece cada vez mais longe da aventura presidencial.
Na prática, só o tucano paulista tem estrutura e discurso de campanha prontos para a briga. Dentro do PSDB, contudo, ele ainda sofre resistências por ser uma figura exógena à política partidária, tendo disputado sua primeira eleição na conquista da Prefeitura de São Paulo em 2016.
Pesquisas qualitativas feitas pelo partido também indicam pouca permeabilidade do eleitorado de regiões como o Nordeste ao tucano, visto como "muito paulista". Em seu favor, a associação crescente de seu nome à Coronavac, vacina que tem a maior disponibilidade no Brasil.
Seja como for, essa faixa de frequência tende a ser espremida entre e Bolsonaro e Lula, se confirmada a presença do petista no pleito, pois o antipetismo pode acabar levando o eleitorado centrista a optar novamente pelo hoje presidente.
Por fim, a admissão de Doria traz uma questão adicional: o cenário estadual. O tucano tem um acerto com seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), segundo o qual ele deixaria o cargo para disputar a Presidência em abril do ano que vem.
Assim, Garcia disputaria a reeleição. Só que o desarranjo do DEM com o racha ocorrido na eleição à presidência da Câmara fez com que Doria convidasse o vice a entrar no PSDB, de quebra fechando um pouco a porta ao ex-governador Geraldo Alckmin, que está no aquecimento para a eleição estadual.
Se Doria concorrer, o vice pode perder o estímulo. Afinal, deixaria de ter controle de sua sigla no estado e passaria a ser mais um líder tucano, e há muitos deles na área. Por outro lado, Garcia tem apenas 46 anos, e se fosse reeleito como vice do atual governador poderia garantir sua postulação em 2026.
O processo será adiantado. O PSDB paulista deve divulgar nesta semana as regras para sua prévia estadual, que ocorrerá um mês antes da nacional.
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