SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Azerbaijão está atacando a infraestrutura civil de Nagorno-Karabakh, e os moradores da capital da região separatista passam dias de terror escondidos em abrigos antiaéreos.
O relato é de Ruben Melikyan, 38, que de 2016 a 2018 foi o ombudsman para direitos humanos da região e hoje auxilia seu sucessor, Artak Beglaryan, 32, que perdeu a visão durante um bombardeio azeri em 1994.
Ele voltou na manhã desta quarta (7) de um giro de três dias por Artsakh, como os armênios chamam Karabakh. Ele prepara um relatório para o governo armênio. "A destruição, em especial na capital, Stepanarket, é muito grande", afirmou.
A cidade passa boa parte do dia sem luz, devido aos bombardeiros constantes que começaram poucos dias depois do início das hostilidades, no domingo retrasado (27). "Até ontem (terça, 7), havia 19 civis mortos. Mas os ataques foram bem intensos nesta noite", disse, por telefone, da capital armênia, Ierevan.
Segundo seu levantamento, o padrão da ofensiva azeri sugere uma tentativa de expulsar os armênios da região. "Prédios de governo e uma escola foram atingidos. E, no entorno, há várias pontes e estradas destruídas", relatou.
Stepanarket concentra talvez 60 mil dos 140 mil moradores de Nagorno-Karabakh, desde o fim da guerra de 1992-4 sob a administração autônoma da maioria armênia étnica, com o apoio de Ierevan.
Melikyan, um professor de direito e conhecido ativista de direitos humanos, assumiu o posto de ombudsman para o setor um mês depois do último conflito mais sério entre armênios e azeris, em 2016.
"Não dá para comparar. O que acontece agora é totalmente diferente. A capital está sob ataque, isso não ocorreu antes, e há o uso de armamentos muito mais pesados", disse.
Segundo ele, o problema maior é nos centros maiores, como Stepanarket e Shushi, que concentram a população. "Muitos foram para a Armênia", conta.
Os territórios ocupados por forças armênias em sete distritos em torno de Nagorno-Karabakh, por sua vez, têm combates mais esparsos por serem povoados principalmente por aldeões vindos de Baku.
Ele ficou dois anos trabalhando em Stepanarket, e agora além de dar aulas comanda ações de uma ONG chamada Caminho da Lei. Como todos os armênios, ele aponta para a influência da Turquia, que apoia os azeris, como fundamental para a escala dos combates.
Nesta quarta, Baku aceitou pela primeira vez conversar com a Armênia, sugerindo que antes os combates deverão estar encerrados. Isso sugere a aceitação de um cessar-fogo, mas não se sabe exatamente em que termos.
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