O resultado ruim na Província de Buenos Aires nas primárias de agosto foi crucial para a derrota do presidente argentino, Mauricio Macri. A menos de dois meses da eleição, ele tem a difícil missão de reverter o descontentamento com a crise econômica e a unidade do peronismo na província para derrotar o kirchnerista Alberto Fernández.
Principal colégio eleitoral da Argentina, com 11.867,979 eleitores que representam 37% do total de cidadãos habilitados para votar, a Província de Buenos Aires é um território de disputa decisivo na eleição nacional. O revés de Macri respingou em sua principal aliada: Maria Eugenia Vidal, governadora da província, que em 2015, obteve uma vitória histórica frente ao candidato kirchnerista Aníbal Fernández.
Passados quatro anos, a votação que define as chapas que disputarão oficialmente as eleições e serve como um termômetro das preferências do eleitor demonstrou que a baixa popularidade de Macri - cerca de 33% - pode respingar na imagem positiva da atual governadora.
María Eugenia, discípula de Macri e até pouco tempo cotada para ser sua sucessora, perdeu para Axel Kicillof, ex-ministro de Economia de Cristina Kirchner, por uma diferença de 17 pontos porcentuais. Kicillof obteve 49,34% dos votos e a atual governadora, 32,56%.
"O que se observa na província é um efeito da unidade do peronismo, que em 2015 esteve dividido e em 2017 também. Agora, o que explica também a falta de apoio às candidaturas do governo é a má gestão do governo. Viemos registrando uma queda na aprovação presidencial desde 2017. Isso demonstra que era quase improvável que ele ganhasse", explica Diego Reynoso, cientista político da Universidade de San Andrés.
Alguns eleitores que em 2015 optaram pela mudança prometida por Cambiemos, em 2019 voltaram a apostar no peronismo. Se em 2015, Macri perdeu por uma diferença de pouco mais de 2 pontos porcentuais para o kirchnerista Daniel Scioli, ex-governador de Buenos Aires, desta vez a diferença foi bem maior. Os resultados das últimas primárias indicam que 50,66% dos eleitores de província preferem Fernández, enquanto apenas 29,88% pretendem votar em Macri.
A diarista Susana Varela, que mora na região noroeste de Buenos Aires, conta que em 2015 optou pela chapa Cambiemos de Macri pois pensava que era hora de apostar em algo diferente. Mas admite que os últimos quatro anos foram economicamente complicados para a família. "Com o aumento da passagem, gasto quase tudo o que ganho para chegar ao trabalho", lamenta. Ela reconhece que com o aumento da inflação está mais difícil chegar ao fim do mês. Por isso, votou na chapa Fernández-Cristina nas primárias.
Esperava-se ainda que o fenômeno María Eugenia, que possuía 51% de aprovação em janeiro, segundo pesquisa da consultora Opinaia, pudesse impulsionar os números de Macri na Província de Buenos Aires, pois muitos eleitores optam por votar na cédula completa - onde estão todos os candidatos da chapa. Mas não se previu o fato de que muitos podem "rasgar a cédula", ou seja, votar em uma coligação para presidente e outra para governador.
"Parece que a baixa aprovação do governo Macri afetou tanto o governo da província de María Eugenia, quanto a capital federal, com Horácio Rodríguez Larreta", analisa Reynoso.
O fato é que a governadora também foi arrastada pela onda que parece ter levado Macri para mais longe da reeleição e, apesar de ter tido uma melhor performance que o presidente na província, não chegou nem perto dos 39% conquistados nas eleições de 2015.
O cenário é diferente na Cidade de Buenos Aires, onde o macrismo continua vencendo, apesar de ter perdido eleitores desde 2015. O candidato do Juntos por El Cambio, Jorge Luis Larreta, conquistou 46,48% dos votos nas últimas primárias - em 2015 havia obtido 47,35%. O candidato kirchnerista, Matías Lammens, conquistou 31,93% dos votos. Um dado curioso sobre a capital é que alguns eleitores seguiram fiéis ao governo do Cambiemos, que está no comando da cidade desde 2007, mas resolveram não apostar em Macri a nível nacional. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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