SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A manifestação nesta sexta-feira (20) começou silenciosa, com milhares de pessoas levantando os braços do lado de fora de uma igreja em Minsk, capital da Belarus.
Do lado de dentro, ocorria o funeral de Roman Bondarenko, um pintor de 31 anos morto na semana passada depois do que testemunhas dizem ter sido um espancamento por forças de segurança do país.
A multidão que compareceu à cerimônia, segurando flores, então rompeu o silêncio entoando frases como "estou saindo", as últimas palavras que Bondarenko teria escrito, e "vida longa à Belarus".
A morte do pintor se tornou o mais recente ponto crítico dos atos que já duram mais de 100 dias e levaram milhares de pessoas às ruas para protestar contra Aleksandr Lukachenko. O ditador é acusado por opositores de ter manipulado a eleição ocorrida em agosto para estender sua já bastante longa permanência no poder -Lukachenko comanda o país há 26 anos.
O Ministério do Interior, responsável pela segurança da Belarus, nega a responsabilidade pela morte de Bondarenko. A versão oficial das autoridades bielorrussas é de que o ativista estava bêbado e morreu depois de brigar com outros civis.
Nesta semana, porém, um médico do hospital em que Bondarenko foi atendido vazou à imprensa um prontuário que mostra que não havia álcool na corrente sanguínea do ativista. Por colocar em suspeição a causa da morte apontada pelo regime de Lukachenko, o médico foi preso, assim como um jornalista que divulgou o prontuário.
A Procuradoria-Geral da Belarus abriu uma investigação criminal, não para apurar as circunstâncias da morte, mas contra o médico por revelar informações confidenciais, espalhar informações consideradas falsas pelas autoridades e alimentar tensões na sociedade.
Segundo relatos de testemunhas, Bondarenko de fato se envolveu em uma briga na quarta-feira (11) com homens encapuzados que removiam fitas vermelhas e brancas (cores associadas à oposição ao regime de Lukachenko) do pátio de um prédio.
Ele foi detido pela polícia mas, em seguida, foi levado ao hospital com graves lesões cerebrais. A suspeita é que ele tenha sido espancado na prisão, assim como centenas de outros manifestantes que acumulam relatos de agressões e torturas realizadas pelas forças de segurança bielorrussas.
Uma das principais lideranças da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, pediu uma investigação internacional sobre o caso. "Como não há direitos nem justiça no nosso país, pedimos ajuda internacional aos países onde prevalecem a democracia e o direito", disse.
Exilada no exterior desde a controversa reeleição de Lukachenko, Tikhanovskaia se reuniu com embaixadores da Suécia, Dinamarca, Holanda, Canadá e Irlanda e afirmou em um comunicado que esses países "apoiam a abertura de uma investigação internacional sobre os crimes contra o povo bielorrusso".
Nesta quinta-feira (19), os ministros das Relações Exteriores dos países-membros da União Europeia concordaram em ampliar as sanções aplicadas à Belarus, para incluir empresários, empresas e entidades.
"Um dia esgotaremos o número de pessoas que poderiam ser sancionadas. E agora temos que passar para questões mais delicadas, que são as sanções às empresas, que afetarão o desenvolvimento da atividade econômica normal", disse Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, acrescentando que a ampliação das sanções representa "uma resposta à brutalidade das autoridades e um apoio aos direitos democráticos dos bielorrussos".
Entre os já sancionados estão o próprio Lukachenko, seu filho Viktor e 53 membros do regime, incluindo vários ministros e chefes de polícia responsáveis pela repressão aos protestos desde o mês de agosto.
Todas estas pessoas estão proibidas de viajar para qualquer um dos 27 países que compõem a União Europeia e os eventuais bens que possuem no território do bloco foram congelados.
Na Organização das Nações Unidas (ONU), especialistas em direitos humanos disseram nesta quinta-feira (19) que estão seriamente preocupados com o aumento dos relatos de detenções em massa, intimidação e tortura na Belarus.
Embora as denúncias pesem contra as próprias autoridades bielorrussas, os especialistas da ONU pediram que o regime investiguem o uso excessivo da força e a retaliação ilegal em protestos pacíficos.
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