O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, reconheceu nesta quinta-feira, 19, que posou em 2001 para um foto em que estava fantasiado de Aladim, com a cara pintada de preto, uma imagem que ele mesmo considerou racista. "Lamento profundamente", disse. O caso provocou uma crise em sua campanha para a eleição de 21 de outubro.
A foto, revelada pela revista americana Time, foi tirada há 18 anos durante uma festa a fantasia de uma escola particular de Vancouver, na qual Trudeau era professor. Ele aparece sorridente, com um turbante na cabeça, como o personagem do filme da Disney, com rosto, pescoço e mãos pintados com tinta marrom. Na época, ele tinha 29 anos e é o único do grupo que aparece pintado de preto.
"Em 2001, quando eu era professor em Vancouver, fui a uma festa. O tema era as mil e uma noites. Eu me fantasiei de Aladim e me maquiei. Não deveria ter feito isso. Deveria ter notado que não era adequado. Eu realmente sinto muito. Lamento profundamente", disse Trudeau.
O primeiro-ministro também admitiu que esta não foi a única vez que usou tinta escura no rosto. Além da primeira imagem, a Time também localizou uma segunda foto dele com o rosto pintado, tirada durante o ensino médio. Trudeau usou a pintura para interpretar e cantar Day-O, música folclórica jamaicana que ficou famosa na interpretação do cantor negro e ativista de direitos civis Harry Belafonte.
Apesar da pressão, o primeiro-ministro descartou a hipótese de não disputar as eleições. Vários candidatos no Canadá foram obrigados a desistir de suas campanhas depois da revelação de antigas mensagens com conteúdo racista postadas nas redes sociais.
Além das duas fotos encontradas pela Time, novas imagens de Trudeau com o rosto pintado de preto foram divulgadas ontem nas emissoras de TV locais. Lançado pela Global News, um vídeo mostra Trudeau, no início da década de 90, usando jeans rasgado e uma camiseta, os braços para o alto e a mesma maquiagem escura no rosto.
Nesta quinta, em discurso em um parque da cidade de Winnipeg, o primeiro-ministro foi aplaudido após os pedidos de desculpa. "Eu sempre reconheci que vim de um local privilegiado. Mas agora preciso reconhecer que isso vem com um gigantesco ponto cego", disse.
Seu principal opositor na corrida eleitoral, o líder conservador Andrew Scheer, reagiu ao declarar que Trudeau "não é apto para governar o país". Outro adversário, Jagmeet Singh, líder do terceiro partido com maior representação no Parlamento do Canadá, o Novo Partido Democrata, é de origem sikh e sempre usa um turbante. Depois da divulgação da foto, ele afirmou que o comportamento de Trudeau é um insulto para muitos canadenses. "O racismo é real. As pessoas o sentiram. Eu experimentei isso na minha vida. Ele tem de responder por essas questões", disse Singh.
Trudeau é filho do ex-premiê Pierre Trudeau, e chegou ao poder como um símbolo da igualdade de gênero e racial, além de grande incentivador do multiculturalismo e da imigração, remando contra as tendências de seu vizinho, o presidente dos EUA, Donald Trump.
Metade do gabinete escolhido a dedo por Trudeau é composta por mulheres, quatro pessoas são da religião sikh e seu ministro da Imigração é um ex-refugiado nascido na Somália.
Disputa
Mesmo antes do escândalo, a corrida para a eleição canadense já estava acirrada. As últimas pesquisas apontam o Partido Liberal, de Trudeau, empatado com o Partido Conservador - ambos têm entre 35% a 37% das intenções de voto. A divulgação das fotos poderia ser um ponto de virada, em parte porque o partido do premiê tradicionalmente recebe apoio de comunidades imigrantes. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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