SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma troca de fogo na manhã desta sexta (13) na fronteira entre a Índia e o Paquistão deixou 14 mortos, o mais mortífero evento do tipo neste ano no disputado território da Caxemira.
Segundo dados dos Ministérios da Defesa de ambos os países, os indianos perderam na ação 6 civis e 4 militares, e os paquistaneses, 4 civis. Há dezenas de feridos, a maioria composta por moradores dos dois lados.
Como é usual, ninguém admite ter começado a briga. A Índia diz que paquistaneses infiltraram posições na fronteira, obrigando a ação. Já o Paquistão diz que foi atacado primeiro e devolveu fogo contra posições em torno da cidade de Uri, a cerca de 10 km da fronteira disputada.
Eventos como esse são relativamente comuns, mas o número de mortos chama a atenção, em especial num ano em que a Índia elevou muito a tensão com a principal aliada do rival Paquistão, a China.
Dezenas de soldados morreram quando os dois gigantes asiáticos se enfrentaram em uma região disputada nos Himalaias, em junho. O conflito, que remonta a uma guerra vencida por Pequim em 1962, se inseriu na disputa geopolítica entre a China e os EUA -Nova Déli aproximou-se de Washington na gestão Donald Trump.
Mas o conflito indo-paquistanês tem dinâmica própria. Segundo as Nações Unidas, foram 3.000 incidentes de violação de fronteiras na Caxemira em 2019, e 2.400 neste ano. Até aqui, 2020 registrava 40 mortos nessas escaramuças.
Das quatro guerras abertas travadas entre Islamabad e Nova Déli desde que os países emergiram do violento processo de partilha da antiga Índia Britânica, em 1947, três foram centradas na região da Caxemira.
Durante a partilha, populações muçulmanas foram deslocadas para áreas onde hoje fica o Paquistão e Bangladesh (então Paquistão Oriental, perdido numa guerra de independência em 1971), enquanto hindus migraram a sudeste.
A região da Caxemira, uma área belíssima de altas montanhas, foi uma das zonas cinzentas no processo. Assim, hoje não há uma fronteira, mas sim a chamada Linha de Controle entre os dos países. É ao longo dela que ocorrem essas escaramuças.
De tempos em tempos, esses estranhamentos ameaçam escalar. Em 2019, por exemplo, houve derrubada de aviões militares de lado a lado.
A rota de pacificação nas relações nunca foi clara, mas havia um esforço desde que a guerra de 1999 opôs os dois países já detentores da bomba atômica. A Índia tem a sua desde 1974, e o Paquistão havia explodido sua primeira ogiva em 1998.
O equilíbrio nuclear, para otimistas, evitaria novas guerras convencionais -na qual a Índia tenderia, a duras penas e a avaliando forças disponíveis, subjugar o Paquistão. O conflito de 1999 provou que isso é uma certeza que ficou para trás, quando União Soviética e EUA apontavam milhares de mísseis um contra o outro.
Islamabad tem uma muita eficaz força de mísseis balísticos e tem estimadas 160 ogivas, que sempre ficam estocadas separadamente de seus meios de lançamento. Já os indianos têm 150 bombas, sempre segundo os cálculos da Federação dos Cientistas Americanos, e além de mísseis têm aviões capazes de lançá-las.
O governo nacionalista hindu de Narendra Modi na Índia tem acirrado a animosidade, dada suas políticas vistas como diretamente contrárias à enorme comunidade muçulmana em seu país (são 200 milhões dos 1,3 bilhão de indianos aderentes da fé de Maomé).
A isso somou-se a aproximação de Modi com Trump, algo que ainda está em aberto com próximo governo americano, do democrata Joe Biden. Como a associação entre Pequim e Islamabad é muito forte, a tendência é de que a aliança siga.
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