23/04/2024

Abstração e Sobrevivência: Lições da Segunda Guerra Mundial para os Negócios


 Na confluência entre a neurociência e o universo corporativo, encontra-se um terreno fértil para insights profundos sobre tomada de decisão, abstração e a essencialidade de ir além das aparências. Uma história emblemática que encapsula essas ideias vem de Abraham Wald durante a Segunda Guerra Mundial, um matemático cuja abordagem para resolver um problema de sobrevivência de aeronaves oferece lições valiosas para o ambiente de negócios de hoje.

Durante a guerra, os aliados queriam aumentar a taxa de sobrevivência de seus bombardeiros. Eles notaram que os aviões que retornavam de missões estavam frequentemente repletos de buracos de bala em determinadas áreas.

A solução óbvia parecia ser reforçar essas áreas danificadas. No entanto, Wald sugeriu uma perspectiva contraintuitiva: reforçar as áreas onde não havia buracos de bala. Seu raciocínio era baseado no que hoje chamamos de "viés de sobrevivência" – os dados estavam sendo coletados apenas dos aviões que voltavam.

Os buracos de bala nas áreas que não estavam sendo consideradas eram, na verdade, nos aviões que não retornavam. Wald entendeu que a ausência de danos nessas áreas nos aviões que voltavam indicava que elas eram vitais para a sobrevivência do avião.

A aplicação dessa lógica no mundo corporativo é uma poderosa lembrança da importância de olhar além dos dados apresentados e questionar as suposições subjacentes. A neurociência apoia essa abordagem, sugerindo que nosso cérebro está configurado para detectar padrões e resolver problemas com base em informações disponíveis.

 No entanto, essa tendência também pode nos prender em armadilhas cognitivas, como o viés de sobrevivência, levando-nos a tomar decisões baseadas em uma compreensão incompleta da realidade.

No ambiente de negócios acelerado de hoje, onde a tomada de decisão rápida é frequentemente necessária, a história de Wald serve como um lembrete crucial para a necessidade de abstração – a habilidade de olhar além do óbvio e considerar o que não está imediatamente visível. Isso pode significar questionar a razão por que certos projetos "sobrevivem" e outros não, ou por que algumas estratégias parecem bem-sucedidas à primeira vista. Pode envolver a busca por áreas de vulnerabilidade não tão óbvias, mas que são cruciais para a sobrevivência e o sucesso a longo prazo da empresa.

Integrar essa abordagem exige uma cultura corporativa que valorize a curiosidade, a reflexão e a disposição para considerar perspectivas alternativas. Requer líderes que incentivem suas equipes a questionar o status quo e explorar o que os dados não estão mostrando explicitamente. A neurociência nos ensina que nosso cérebro é incrivelmente adaptável e capaz de aprender novos modos de pensamento, o que pode ser cultivado através da prática deliberada de abstração e pensamento crítico.

Em última análise, a lição de Wald sobre os buracos de bala que faltam nos lembra que, no mundo dos negócios, assim como na guerra, a sobrevivência muitas vezes depende de nossa capacidade de perceber além das evidências visíveis e considerar o que está ausente. Ao adotar uma mentalidade que abraça a abstração e questiona o viés de sobrevivência, as organizações podem navegar com mais eficácia pelos desafios complexos de hoje e pavimentar o caminho para o sucesso duradouro.

COLUNISTA - Marcelo Escobar JR - Empresário, consultor e publicitário com especialização em Neuromarketing

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Por Redação, em Inteligência Empresarial

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