Por Marco Jean
Para o atleta amador ou entusiasta de esportes, um erro comum e perigoso é a subestimação do equipamento mais crítico: o calçado. Existe uma crença generalizada de que um "tênis de ginástica" ou um tênis de corrida (running) é suficiente para a prática de qualquer esporte indoor.
Esta é uma suposição que não apenas limita o desempenho, mas expõe o atleta a um risco significativamente maior de lesões.
A engenharia de um calçado esportivo de alta performance, portanto, é uma resposta direta e altamente especializada às demandas biomecânicas de um esporte e à superfície onde ele é praticado.
O piso rígido de uma quadra interna (madeira ou sintético) é o inimigo número um das articulações, exigindo soluções que um tênis de corrida, projetado apenas para movimento linear e absorção de impacto em asfalto, não pode oferecer.
A seguir, uma análise técnica das diferenças cruciais entre os calçados de futsal, voleibol e tênis.
O inimigo comum do impacto no piso rígido
Antes de analisar as diferenças, é preciso entender o desafio comum a todos os esportes indoor: a superfície. Pisos de madeira, polímero ou cimento não oferecem virtualmente nenhuma absorção de impacto.
Toda a força da aterrissagem de um salto ou da frenagem de uma corrida é devolvida diretamente para o corpo do atleta, sobrecarregando o tornozelo, o joelho e a coluna lombar.
Por esta razão, a primeira característica que define um calçado indoor de qualidade é o amortecimento. Modelos de elite utilizam compostos de alta tecnologia na entressola (como EVA de alta densidade, Phylon, Gel ou espumas responsivas) projetados especificamente para dissipar essa força de impacto repetitiva.
A segunda é a aderência: o solado deve ser de borracha "non-marking" (que não marca a quadra) ou "gum rubber" (borracha natural), compostos que oferecem a tração máxima em superfícies lisas e secas.
Futsal (IC) e a ciência do controle de bola
O futsal é um esporte de movimentos rápidos, trocas de direção explosivas e contato constante com uma bola pesada e de baixo quique. A engenharia do calçado reflete isso.
Perfil baixo e "court feel"
Ao contrário de outros esportes, o futsal exige que o jogador "sinta" a quadra e a bola. Por isso, a entressola é intencionalmente mais fina na parte frontal do pé, oferecendo um perfil baixo (low profile).
Isso é crucial para o domínio da "pisada" e para a agilidade nos dribles curtos. O amortecimento é concentrado no calcanhar, onde o impacto da corrida é maior.
Cabedal focado no toque
O material da parte superior (cabedal) é focado na sensibilidade. O couro natural macio ou a camurça (suede) são altamente valorizados por se moldarem ao pé e oferecerem um toque de bola superior, algo que materiais sintéticos rígidos têm dificuldade em replicar.
A biqueira (ponteira) é quase sempre reforçada com uma camada extra de camurça ou borracha, tanto para resistir à abrasão da quadra quanto para potencializar o "chute de bico".
Solado de tração rotacional
O solado de futsal é plano para maximizar o contato com a bola, mas seu design é focado em giros.
A maioria dos modelos de alta performance inclui um ponto de pivô (um círculo texturizado) sob a planta do pé, facilitando a rotação sem que o tênis "prenda" no piso, um mecanismo vital para a prevenção de lesões no joelho.
Voleibol: a engenharia do salto vertical e do bloqueio lateral
O voleibol é um esporte fundamentalmente vertical, definido por centenas de saltos para ataque e bloqueio, combinados com movimentos laterais explosivos na defesa. O calçado é uma ferramenta de absorção de impacto e estabilidade.
Amortecimento de máxima prioridade
Esta é a característica mais importante. O calçado de vôlei possui o sistema de amortecimento mais robusto entre os esportes de quadra, com tecnologia (seja Gel, Wave ou outras espumas) concentrada tanto no calcanhar (para a aterrissagem do bloqueio) quanto na parte frontal (para a impulsão do ataque).
Solado de aderência total
O solado de vôlei é quase sempre feito de gum rubber (borracha natural), que oferece a melhor aderência ("tack") em pisos de madeira limpos.
O padrão de tração é multidirecional (como a "espinha de peixe" ou herringbone), permitindo frenagens bruscas em todas as direções.
Suporte lateral rígido
A segunda característica mais importante é o suporte lateral. Durante um bloqueio, o jogador aterrissa e imediatamente se move lateralmente.
O cabedal do tênis de vôlei é rígido, muitas vezes com uma "gaiola" externa de TPU (poliuretano termoplástico), para "travar" o pé dentro do calçado e impedir que ele deslize sobre a entressola, prevenindo torções graves de tornozelo.
Tênis: o pilar da durabilidade e do suporte lateral
O tênis é, talvez, o esporte mais brutal para um calçado. A biomecânica do jogo é baseada em acelerações curtas, frenagens abruptas e, acima de tudo, movimentos laterais violentos e repetitivos.
Durabilidade extrema do solado
A principal característica de um tênis é a resistência à abrasão. O solado é feito de compostos de borracha de alta durabilidade, projetados para resistir ao atrito constante. O padrão da sola é novamente o "espinha de peixe", ideal para tração em paradas e arranques.
Seu solado de borracha frequentemente se estende até a biqueira e a parte interna do pé (medial side), criando um "toe drag guard" para proteger a área de maior desgaste durante o saque ou o slide.
Chassi de estabilidade torsional
Mais do que qualquer outro esporte, o tênis exige rigidez torsional. O calçado não pode torcer. Para isso, uma placa rígida (chamada de shank) é inserida no meio do pé, conectando o calcanhar à ponta.
Esse "chassi" impede que o tênis se dobre ao meio durante um pivô forçado, protegendo o arco do pé e o tornozelo.
Amortecimento Responsivo: O amortecimento no tênis precisa ser um equilíbrio entre absorção de impacto (para jogos longos de 3 horas) e "resposta rápida" (para não perder tempo de reação na arrancada).
A importância da procedência e da especialização da marca
A escolha de um calçado de uma marca com histórico comprovado na modalidade é um fator de segurança. Marcas que investem em pesquisa e desenvolvimento para esportes específicos entendem as nuances biomecânicas que um fabricante genérico ignora.
Quando um atleta opta por artigos esportivos da Joma, por exemplo — marca com DNA indoor —, ele não está comprando um design, mas sim décadas de pesquisa em compostos de borracha para grip, densidade de EVA para absorção de impacto e design de solado para pivôs seguros.
A procedência garante que o calçado é uma ferramenta de performance, e não um tênis de corrida adaptado.
O uso de um equipamento inadequado para o piso não apenas limita a performance, mas é um convite direto a lesões crônicas no joelho e tornozelo.
Seu investimento em um calçado tecnicamente correto, projetado para os movimentos específicos do futsal, vôlei ou tênis, é um investimento na longevidade da prática esportiva.
Para o atleta que busca evoluir, entender a ciência por trás do solado, do amortecimento e do suporte lateral é o que permite extrair o máximo de seu potencial com segurança.
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