Os juros fecharam a quarta-feira em queda, favorecida pelo apetite ao risco visto no mercado de moedas emergentes, especialmente após declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no período tarde, e, internamente, reforço na sinalização do Banco Central sobre o plano de voo para a política monetária. Os agentes seguem à espera de novidades da área fiscal, sobretudo no tocante ao Orçamento, com alguma expectativa também de mudança na chamada PEC "fura-teto", após a reação fortemente negativa à ideia.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 4,735%, de 4,792% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 8,396% para 8,30%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa em 8,95%, após terminar a terça-feira em 9,025% no maior nível desde março do ano passado.
Os DIs já recuavam no começo do dia, repercutindo declarações de presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na terça à noite. "Ele reforçou que uma nova alta de 0,75 ponto da Selic já está contratada e que o câmbio em si não é o motivo para subir juro", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. Mas, ainda pela manhã, chegaram a zerar a queda e ensaiar alta, após o presidente Jair Bolsonaro dizer que aguarda "uma sinalização do povo" para "tomar providências" a respeito das consequências econômicas causadas pela pandemia da covid-19. "Estávamos bem pela manhã, mas aí vieram essas palavras mais fortes, esse tom mais bélico, para estressar o mercado", afirmou o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
No entanto, como tem sido a tônica recente, a queda das taxas continua a ser tratada como movimento pontual, sem qualquer mudança de tendência enquanto perdurarem no horizonte as incertezas fiscais. "Não dá para chamar o que vimos hoje como ponto de inflexão, a curva vai seguir empinada. O imbróglio do Orçamento permanece, mas hoje foi colocado um pouco em stand by", previu Camargo Rosa.
O noticiário em torno da PEC "fura-teto", que sugere R$ 18 bilhões em emendas para obras fora da regra, segue no radar. Nada de concreto ainda foi decidido, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse a interlocutores que a proposta de tirar do teto de gastos tal montante foi uma "variante que escapou do laboratório". A equipe econômica alertou que a proposta não seria bem-recebida porque esses gastos não têm relação direta com a pandemia.
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