Por Meon Em RMVale

Vice-presidente da Embraer fala sobre cadeia produtiva, ações e transferência de funcionários

Executivo da fabricante brasileira participou de evento em São José e concedeu entrevista ao Meon

whatsapp_image_2019_05_23_at_20_53_10

Da dir. para esq.: Nelson Salgado (Embraer), engenheiro Ozires Silva e Antonini Puppin-Macedo (Boeing) no palco do 2º Siab

Meon


 

O vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da Embraer, Nelson Salgado, disse nesta quinta-feira (23) que os empresários da cadeia produtiva do setor aeroespacial podem ficar tranquilos com relação à futura relação da norte-americana Boeing com os atuais fornecedores da fabricante brasileira. Salgado participou do 2º Siab (Seminário da Indústria Aeroespacial Brasileira), organizado pelo e-IMI (Information Management Institute), no Parque Tecnológico de São José dos Campos.  

"Eu queria passar uma mensagem positiva. Essa parceria com a Boeing é de perpetuação da indústria aeronáutica no Brasil. Nós estamos integrando a cadeia aeronáutica brasileira à maior cadeia da indústria aeronáutica espacial do mundo", disse durante sua apresentação no evento.

Salgado tranquilizou os empresários da cadeia produtiva preocupados com possível descontinuidade da estrutura de oferta de matéria-prima cortada para as empresas. "Vai continuar e vai melhorar, porque a Boeing vai comprar material mais barato do que a Embraer consegue comprar, inclusive."


                        Boeing Brasil-Commercial é o novo nome da fábrica da Embraer em São José; veja vídeo de divulgação
                        Para Sindmetal, novo nome da fábrica da Embraer mostra que empresa 'morreu como projeto nacional'



Sobre a opção da direção da Embraer em vender o setor de aviação comercial para Boeing, ele tentou de modo didático justificar a escolha. 

"Depois da privatização da Embraer, até pouquíssimo tempo atrás, a indústria estava organizada em dois duopólios: acima de 150 assentos, com Boeing e Airbus, e abaixo disso, a Embraer e a Bombardier. E nós sempre nos demos muito bem na competição com a Bombardier, estivemos muito bem. Essa estrutura foi desmontada  a partir do momento que os C-Series desenvolvido com apoio enorme do governo canadense foi entregue de graça para a Airbus. A partir desse momento a Airbus passou a ter um produto de 100 assentos para oferecer e a Embraer  ou competiria com Airbus e Boeing daqui um tempo ou se alinha à Boeing."

Leia MaisJuíza dá 15 dias para Bolsonaro pagar R$ 10 mil a Maria do Rosário por ofensasSTF forma maioria para enquadrar homofobia e transfobia como racismoNove manifestantes são presos acusados de formação de quadrilha na portaria da Revap em São José

Ele também falou sobre as perspectivas de crescimento para os produtos feitos em São José dos Campos para o setor da aviação comercial, e lembrou que no E1 a Embraer comprava 1 milhão de dólares por avião, e no E2 esse número vai ser 2,2 milhões, com quase o dobro de itens e maior valor agregado.

"Essa estrutura que eu falei dos dois duopólios (Boeing/Airbus e Embraer/Bombardier) o resultado delas hoje é esse: você tem 30 mil aviões acima de 150 e 200 assentos voando; e entre 100 e 150, você tem 3 mil. Não existe razão de mercado que explique essa diferença, a não ser o fato de a Boeing e Airbus puxarem a demanda para o seu lado. Na hora em que essa barreira se move, eu tenho uma confinaça muito grande que esse simples fato vai fazer que a gente tenha muito mais mercado para o E2", explicou Salgado. Ele finalizou dizendo que a Embraer continua com interesse grande na aviação comercial pois continua com 20% da empresa.

Leia trechos da entrevista concedida por Nelson Salgado ao Meon após palestra no 2º Siab:

Remanejamento de funcionários
"Vamos mudar a montagem final dos jatos executivos para Gavião Peixoto para que a planta, aqui [em São José dos Campos], fique dedicada à atividade da aviação comercial. Foi oferecida [aos trabalhadores] a possibilidade de ir para a Gavião Peixoto, ainda estamos no processo de que os funcionários decidam se querem ir ou querem ficar. Esse processo já está acontecendo, são em torno de 150 pessoas [que já aceitaram a transferência]"

Sobre a queda das ações
"É muito difícil avaliar esses movimentos de curto prazo. A parceria sem dúvida influenciou na definição do valor da ação, mas uma vez que isso foi fixado, no longo prazo a gente espera que as ações da Embraer voltem a subir. "A gente tem tentado mostrar para o mercado que a ação da Embraer, hoje, tem potencial de trazer crescimento. Alguns investidores já perceberam isso, nós temos investidores que estão comprando mais ações porque veem que tem um potencial muito grande de crescimento. É um movimento que tem que ser analisado a longo prazo. "

Entrega do KC-390
"Eu não tenho uma data definida. Na verdade, fizemos um acordo com a FAB, e a aeronave vai pra feira em Le Bourget ser mostrada para os clientes. E a partir da volta do avião nós vamos começar o processo de entrega, que é um processo longo, mas será no começo do segundo semestre."

Perspectivas para a cadeia produtiva
A preocupação [dos fornecedores da Embraer] é que aconteçam mudanças na nossa cadeia de fornecimento que os afetem, em especial, essa questão da matéria-prima. Hoje a gente compra matéria-prima e entrega para que as empresas façam o processamento e nos devolvam as peças. Isso não vai mudar, isso vai continuar. Todos os OEMs fazem isso em todos os lugares do mundo: a Boeing faz isso em Seattl (EUA)e, a Airbus faz isso em Toulouse (França). Porque os OEMs conseguem comprar matéria-prima mais barato, então é contra o interesse do OEM, do montador de avião, que o fornecedor compre matéria-prima mais cara, porque os componentes ficariam mais caros. Isso não vai mudar, é assim que a indústria funciona.
O que gostaria de passar de tranquilidade para os fornecedores é que o futuro de curto prazo tá aí: é o E2 e o KC. São os produtos que nós acreditamos que mais vão se beneficiar das vendas. Mais vendas, mais trabalho pra todo mundo, mais prosperidade, esse é o caminho que estamos vendo a curto prazo."

Papel do Governo
O governo tem o papel de ajudar a indústria brasileira ser competitiva, essa é a receita pra você continuar exportando.
A cadeia aeroespacial depende muito de importação e exportação, a desburocratização, por exemplo, que é agenda deste governo, é muito importante. Qualquer coisa que afete a competitividade da indústria é bastante importante. Quando vejo a agenda do Paulo Guedes, a agenda do governo, que tem um componente forte de competitividade e simplificação das coisas, tudo isso vai no interesse de quem quer exportar. Eu acho que o governo tem demonstrado interesse de ir nesse sentido.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Meon, em RMVale

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.