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Resenha: A menina do outro lado

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Escrito por João Pedro Rocha

12 JUN 2023 - 12H50 (Atualizada em 12 JUN 2023 - 13H33)

Divulgação/Internet

Em um mundo repartido entre luz, trevas, pessoas e forasteiros, uma criatura com chifres e longa capa encontra uma garota perdida nas terras sombrias, muito longe de onde ela deveria estar e, sensibilizado pela situação, resolve cuidar da pequena.

Escrito por Nagabe, o mangá japonês de ficção científica, suspense e mistério apresenta uma linda história para os leitores amantes destes temas. Contrastada no branco e preto sobre uma linda amizade de relação paternal, tratando de diversos assuntos muito relevantes como aceitação, tolerância e acolhimento.

Contexto da história

No mundo da fábula existiam dois deuses, o preto e o branco. Um dia, por motivo desconhecido, os dois se desentenderam e o primeiro lançou uma maldição nas pessoas, as quais se tornavam “forasteiros”, criaturas negras com aparência de animais que, ao tocar em humanos, os convertiam também nos seres amaldiçoados. Com isso, todos que eram transformados ou viviam próximos de algum foram executados ou banidos.

Ao longo do tempo, os humanos construíram uma muralha para se separarem dos forasteiros, dando origem assim ao lado branco, também chamado de “lado de dentro”, e ao lado negro, o “outro lado”.

História, pequeno resumo

Iniciando-se durante os acontecimentos, a trama parte com a menina chamada Shiva, uma criança na faixa dos 8 anos, extrovertida e alegre, que tem os cabelos e vestes brancas, e a criatura negra sem nome, na qual a menina se refere por Sensei (no japonês, alguém mais velho e sábio, um professor), com a cabeça em forma do crânio de algum animal com longos chifres e um bico comprido, vestindo uma roupa social branca e preta, e capa da segunda cor.

Nos primeiros capítulos, desenvolve e introduz-se a relação de Shiva com Sensei, onde é apresentado seu cotidiano e como um é muito importante para o outro, e o meio em que vivem, um mundo vazio e devastado, o outro lado, no qual sobrevivem em uma cabana solitária na floresta.

Encontrada por Sensei perdida entre as árvores, a menina vive com ele esperando pelo retorno de sua titia, a qual amava muito e era quem cuidava de Shiva posteriormente. Entretanto, quando encontrada, ao dela havia uma carta, dizendo que a menina tinha sido abandonada e ninguém voltaria para buscá-la. A partir disso, a criatura se vê na obrigação de cuidar e proteger a criança, e enxerga nela a oportunidade de ter uma vida humana novamente.

Em meio a passeios no bosque, busca por recursos, e festas do chá, a rotina simples e calma dos dois logo se transforma após serem encontrados por soldados do lado de dentro, que passam a persegui-los e, o mais trágico, Shiva ser amaldiçoada por um forasteiro.

Agora sendo fugitivos, e com Sensei desesperado por uma cura para a menina, ambos enfrentarão diversos problemas e dificuldades para continuarem juntos, em uma jornada de conhecimento sobre o outro, além de personagens misteriosos que revelarão que nem sempre a aparência de alguém revela seu caráter.

Personagens

Com uma trama não muito extensa, cerca de 50 capítulos curtos e 11 volumes ao todo, a história não apresenta muitos personagens, mas os poucos que possui são muito bem aproveitados e aprofundados, e diversas vezes apresentando reviravoltas em suas personalidades e quem aparentavam ser. Para evitar spoilers, apenas os protagonistas serão mencionados.

Shiva

A garotinha curiosa e extrovertida é uma amostra da inocência do mundo, sendo um contraste de todo o meio que vive, enquanto o outro lado é escuro e perigoso, ela é a luz em meio àquela escuridão. Mesmo Shiva não conhecendo direito o lugar onde está, além de ter perdido sua tia, ela ainda se mantém sempre positiva e com esperanças da mesma voltar.

Após ser amaldiçoada, mesmo sendo apenas uma criança em um lugar estranho, com todos os motivos possíveis para se desesperar, Shiva se mantém firme e se mostra muito madura quanto a situação, aceitando que talvez não haja uma cura para a maldição. Uma postura muito árdua de se tomar, principalmente para uma criança tão jovem que só ocorre pela transformação da mesma pelo meio difícil que tem de viver.

Sensei

Enquanto a menina é um contraste do mundo, Sensei faz parte dele, e demonstra a melancolia e desesperança do mesmo. Mesmo sendo uma das criaturas, ele já foi um humano antes e tinha uma família, a maldição o tirou tudo, não apenas as características físicas, como também toda sua personalidade e vida que um dia teve, em uma relação de Determinismo, acabou se entregando ao desespero e tristeza do mundo ao seu redor, assim como a menina, que teve que se tornar madura à força para sobreviver.

Além disso, mesmo tendo que se demonstrar forte para com Shiva, por ser o protetor e quem deve guiar a menina, a própria também se tornou o porto seguro de Sensei, foi sua nova esperança, a chance de provar para si mesmo que ainda pode ser humano, apesar da maldição.

Apesar do protagonismo ser dividido pelos dois, sem dúvida o maior foco é em Sensei e sua metamorfose ao longo da trama. No início, antes de conhecer a pequena, sua vida era monótona e sem motivações, mas quando a salva, ele alcança um motivo para viver e vê que existe esperança, e que pode ter uma família novamente, mesmo amaldiçoado.

A arte

Nagabe adotou um estilo de arte peculiar durante o desenvolvimento de sua história. O grande diferencial é, sem dúvida, o pouco uso de meios tons durante a trama, com os personagens e cenas em sua maioria ditadas apenas pelo branco e preto, o que proporciona lindas cenas de contraste do outro lado com o lado de dentro, e de Shiva com Sensei.

Os traços durante a obra são todos espetaculares, é perceptível o carinho e dedicação nas linhas feitas. Com muitas páginas sem diálogos, muitas vezes o autor se aproveita com maestria das paisagens e planos focos dos personagens para contar ou demonstrar algo. Além disso, os traços despojados desenhados por Nagabe deixam a história fluida e líquida, aparentando que a narrativa está realmente se desenvolvendo e em movimento.

Em alguns quadros, a perspectiva e anatomia são desenhados de maneira despreocupada e despojada, o que, de início, parece sim um erro ou uma falta de atenção por parte do autor, porém analisar esses quadros individualmente é cometer um equívoco.

A obra é independente, ou seja, escrita por apenas uma pessoa, então algumas falhas acabam acontecendo. Entretanto, no caso de “A menina do outro lado” as artes despojadas contribuem no ponto da “liquidez” da história, deixando-a natural e com pequenos erros acidentais, assemelhando-se a uma história local de algum lugar muito distante, que é, de fato, a essência da trama em si.

Além disso, aos fins dos volumes o autor sempre deixa uma pequena tirinha simples que, mesmo não adicionando nada concreto ou muito relevante à história, apresenta algumas situações extras de descontração entre Shiva e Sensei, ou alguns dos outros personagens da narrativa, aumentando assim ainda mais a conexão do leitor para com eles, e dos próprios entre si.

Conclusão

Pode-se concluir que Nagabe em “A menina do outro lado”, quis propor uma história diferente do usual, trazendo um mundo novo, visto por uma perspectiva não tão inovadora, de um protagonista que tem seus problemas, e encontra uma nova esperança por uma pessoa totalmente diferente dele.

Além disso, em alguns momentos avançados da história, aproximando-se do final, a explicação definitiva sobre a maldição e desenvolvimento de alguns personagens e reviravoltas acabam sendo um pouco apressados. Entretanto, mesmo com final desenvolvido um pouco rápido demais, não decepciona ou estraga a experiência de forma alguma como o todo que ela é.

Ademais, sobre se tratar de uma forma já conhecida, ela é executada muito bem para o que propõe e a peculiaridade dos personagens e os contrastes entre eles torna a trama altamente singular.

Finalizando, a obra entregue por Nagabe proporciona diversos sentimentos diferentes ao leitor, momentos felizes, alegres, tensos, tristes, e muitos outros. A superação das dificuldades e a união de Shiva e Sensei é contagiante, os personagens são muito apegáveis e, para mim, o final da história rendeu sim algumas lágrimas. Uma história indispensável para leitores amantes de tramas cativantes e criativas. Tenha uma ótima leitura!

Com supervisão de Isabela Sardinha, jornalista do Meon Jovem.





Escrito por:
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João Pedro Rocha

2º ano do ensino médio - Instituto Ideia - São José dos Campos, SP

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