SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), 64, deve ao avô de Bruno Covas (PSDB) a circunstância de eventualmente enfrentar o prefeito no segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo.
"Mário Covas era meu amigo. Foi ele que me convidou para ir pro PSDB e pra ser candidato a deputado. Metade da campanha eu andei com ele, a outra metade andei com [Geraldo] Alckmin, que era candidato a vice", lembra.
Conhecido por 97% do eleitorado local segundo o Datafolha, o apresentador de TV tem aspectos inusitados da biografia, como a entrada na política a convite do tucano em 1994 e a dedicação ao ciclismo (40 km quase todos os dias).
Mas a terceira candidatura consecutiva ao Executivo municipal tratou de jogar luz em passagens e polêmicas que o deputado, receoso da exposição imposta a ele e à família, preferiria evitar.
Como o fato de que sua filha e seu genro são processados sob acusação de dar prejuízo a investidores. Ou a situação de bloqueio de seus bens desde 2016 por uma contestada dívida de aluguel do Bar do Alemão. Quem sabe ainda a questão de ter sido amamentado por uma "mãe de leite negra", algo trazido à tona por ele próprio, que usou a figura ligada à escravidão para dizer que não era racista.
O episódio reforçou outra característica de Russomanno com a qual os paulistanos estão familiarizados --a de tropeçar na própria língua.
Em 2012, a proposta de cobrar a passagem de ônibus por quilômetro rodado marcou sua derrocada. Falas contra a Uber e a favor da reforma trabalhista tampouco ajudaram em 2016. Chamado por rivais de "cavalo paraguaio", largou em primeiro, sustentado pelo recall da TV, e não chegou ao segundo turno.
Desde o fim de setembro, Russomanno caiu de 29% na pesquisa Datafolha para 16%. Ele disputa com Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) a chance de enfrentar Covas no segundo turno.
Na campanha de 2020, houve nova série de declarações falsas ou enganosas, como a de que moradores de rua seriam mais resistentes ao coronavírus. As falas que buscam minimizar a doença estão de acordo com o novo perfil que, depois de mais de 30 anos na TV e quase o mesmo tempo na Câmara, Russomanno quer exibir.
Se antes sua personalidade era calcada na defesa do consumidor e na busca de conciliação, agora ganharam espaço a defesa de família, Deus, liberdade e ditadura militar e o ataque agressivo à China e a João Doria (PSDB) --a cartilha bolsonarista completa.
Desde 1994, quando foi eleito deputado federal pelo PSDB com recorde de 233.482 votos, Russomanno já passou pelo PP e hoje está no Republicanos. Foi base do governo Dilma Rousseff (PT), votou pelo seu impeachment, foi favorável às reformas de Michel Temer (MDB), apoiou a eleição de Doria em 2018 e indicou aliados para compor a gestão de Covas na prefeitura.
Russomanno está acostumado a vestir a roupa governista, mas a adaptação de sua trajetória ao conservadorismo, para alguém que se definia de centro até ontem, não ocorre sem dificuldade.
Católico, casado há 19 anos, pai de três filhos e avô de dois netos, Russomanno foi instado pela sua nova base eleitoral a se provar um verdadeiro amigo do presidente Jair Bolsonaro, que lhe deu apoio e a quem jurou lealdade.
Em comum, os dois acumulam décadas de mandato legislativo no baixo clero da Câmara dos Deputados. A longa amizade propagandeada por Russomanno não foi, contudo, bem documentada na imprensa ou em suas redes sociais. De qualquer forma, hoje o deputado é vice-líder do governo no Congresso.
Outras passagens foram pinçadas para mostrar a identificação com o padrinho, como o fato de ter servido à Força Aérea quando jovem (é piloto de helicóptero, mas não chegou a ser tenente) e de ter um avô comandante da Força Pública que participou da Revolução de 1932.
Bacharel em direito, criador do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, Russomanno concentra a produção legislativa nessa área.
Em seis mandatos, teve dez propostas transformadas em lei, incluindo o dia do caminhoneiro, a obrigação de alimentação diferenciada para crianças com diabetes nas escolas e a declaração de Florestan Fernandes como patrono da sociologia brasileira.
Em 2014, teve novo recorde de mais de 1,5 milhão de votos. Sua popularidade vem do quadro Patrulha do Consumidor, que apresenta na TV Record. Em 1991, foi alçado do colunismo social ao jornal Aqui Agora, do SBT, depois de filmar e denunciar no hospital o que considerou ser uma negligência médica responsável pela morte de sua primeira mulher, Adriana.
Acumulou na vida um patrimônio de R$ 1,7 milhão declarado à Justiça Eleitoral. Resistente a enfrentar mais uma campanha, mas impulsionado pelo fato de que o bolsonarismo precisava de um representante em São Paulo, Russomanno tratou de preparar vacinas contra suas vidraças.
Não é só a ligação de seu partido e da TV Record com a Igreja Universal que ele busca abafar ou explicar, mas também as dívidas acumuladas no Bar do Alemão, processos de pessoas exibidas na TV, entrevistas pegando no seio de passistas nos anos 1980, citação (não comprovada) na Lava Jato, quase inelegibilidade em 2016 por usar servidora da Câmara em sua produtora, processos contra a rede de franquias de estética que mantinha com Dr. Rey, sociedade com empresários delatores e passagens aéreas da filha pagas pela Câmara.
A queda nas pesquisas pode ser resultado, como nas eleições passadas, de propostas frágeis e falta de experiência no Executivo ou fruto da rejeição Bolsonaro, que atinge 48% na capital paulista.
Sua esperança é que, estando bom para ambas as partes, seja levado ao segundo turno. Se isso não acontecer, pode ser o começo do fim da carreira política de Russomanno, mas ele não está preocupado.
"Quando eu chego em casa, desligo do mundo", diz. "Se eu puder fazer alguma coisa de bom a partir da minha eleição para prefeito, vou fazer. Se não, vou continuar fazendo como deputado."
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RAIO-X
Celso Russomanno, 64
Jornalista e apresentador de TV, é bacharel em direito. Entrou para a política em 1994, filiado ao PSDB, e depois passou pelo atual PP. Hoje no Republicanos, é deputado federal por São Paulo, em sexto mandato, e tenta a Prefeitura de São Paulo pela terceira vez.
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