SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A histórica desigualdade de inserção das mulheres no mercado de trabalho é maior nos domicílios com crianças de até três anos de idade. Mães com filhos nessa faixa etária participam menos do mercado de trabalho, segundo a pesquisa Estatísticas de Gênero divulgada nesta quinta-feira (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O nível de ocupação (o percentual de pessoas trabalhando em relação às que estão em idade de trabalhar) de mulheres que se identificam como pretas ou pardas com crianças até três anos de idade foi de 49,7% em 2019. Entre mulheres brancas, o percentual ficou em 62,6%.
ara os homens, em média, filhos pequenos reduzem de 75% para 71% o nível de ocupação. Se esse homem for branco, porém, o nível de ocupação sobe para 93%.
Para o IBGE, essas diferenças demonstram o quão importante é a presença de crianças para a capacidade de as mulheres trabalharem ou não.
A pesquisa aponta também poucas mudanças no volume de responsabilidade atribuída às mulheres com afazeres domésticos e cuidados com outras pessoas -o trabalho reprodutivo. Elas dedicam quase o dobro de horas semanais com essas atividades do que os homens.
Essa diferença praticamente não muda no passar dos anos. Em 2019, o trabalho doméstico não remunerado tomava 11 horas dos homens, exatamente o mesmo verificado em 2016. Entre as mulheres, o tempo aumentou de 20,9 horas, em 2016, para 21,4, em 2019.
A pesquisa mostra ainda que, em relação ao trabalho reprodutivo, há pouca diferença entre homens brancos e pretos ou pardos. A renda também não faz diferença na participação dos homens, mas faz entre as mulheres.
Aquelas entre as 20% mais bem remuneradas dedicam seis horas a menos por semana com atividades domésticas do que mulheres com renda inferior. Isso acontece porque a renda maior permite o maior acesso a creches e contratação de outras pessoas para tomar conta de filhos, pais e dos afazeres domésticos.
Esse maior envolvimento com demandas domésticas faz com que as mulheres apareçam mais em trabalhos parciais, de menos de 30 horas semanais. Em 2019, cerca de um terço das trabalhadoras estavam ocupadas apenas parcialmente, quase o dobro dos 15,6% registrados entre os homens.
Além de terem maior dificuldade de participar do mercado de trabalho, as mulheres também ingressam com frequência em funções mais precárias, pois precisam conciliar a atividade paga com o trabalho sem remuneração, em casa.
A maior participação em empregos mais vulneráveis leva o rendimento médio das mulheres a 77% do que ganham os homens. Em 2019, segundo o IBGE, eles tiveram renda média de R$ 2.555. Elas, de R$ 1.985.
A desigualdade é ainda maior naqueles cargos e carreiras considerados de alta qualificação. Entre diretores e gerentes, o rendimento médio dos homens foi de R$ 7.542, 61,4% mais do que os R$ 4.666 recebidos pelas mulheres nas mesmas funções.
Segundo o IBGE, o rendimento médio das mulheres só é superior ao dos homens em funções nas Forças Armadas, polícias e bombeiros militares. No período da pesquisa, elas recebiam R$ 5.164, em média, e eles R$ 4.899.
As Estatísticas de Gênero mostram também como, no caso das desigualdades entre os gêneros, as dificuldades maiores das mulheres não podem ser atribuídas à educação. Em média, elas têm mais instrução formal do que os homens.
Na população com 25 anos ou mais, 40,4% dos homens não tinham instrução ou possuíam apenas fundamental incompleto, proporção que era de 37,1% entre as mulheres. Já a proporção de pessoas com nível superior completo foi de 15,1% entre os homens e 19,4% entre as mulheres.
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