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Fluxo de venezuelanos na fronteira com o Brasil dispara

Média de atendimentos em Pacaraima (RR) dobrou em agosto

Escrito por Meon

24 AGO 2025 - 11H30

Reprodução

A migração venezuelana para o Brasil teve um crescimento expressivo após as eleições municipais na Venezuela, realizadas em julho. Na ocasião, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), liderado por Nicolás Maduro, conquistou 285 das 335 prefeituras e 23 das 24 capitais, segundo a AFP.

Em Pacaraima (RR), cidade que concentra o principal ponto de entrada dos migrantes no país, a Cáritas Brasileira registrou aumento histórico nos atendimentos. A média diária passou de 150 para 350 novos migrantes em agosto, o dobro do registrado no primeiro semestre de 2025. Somando recém-chegados e pessoas já instaladas no Brasil, a ONG saltou de 11.236 atendimentos em julho para 17.212 no mês de agosto, atendendo até 860 pessoas por dia.

Segundo Luz Tremaria, coordenadora da Cáritas em Pacaraima, a percepção dos migrantes é de que não haverá mudanças políticas na Venezuela.

“Notamos que, após as eleições, o fluxo cresceu ainda mais. Muitos relatam falta de esperança em mudanças políticas, já que o governo de Maduro se manteve. Eles acreditam que no Brasil terão uma vida melhor”, disse.

A Cáritas administra a estrutura sanitária Padre Edy, ao lado do posto de regularização migratória da Operação Acolhida — força-tarefa liderada pelo Exército e apoiada por organizações sociais e agências internacionais. A entidade oferece banheiros, duchas, lavanderia, fraldário e bebedouro, serviços essenciais para quem cruza a fronteira em situação de vulnerabilidade.

Crescimento do fluxo migratório

O aumento do fluxo foi confirmado pelo governo brasileiro, que informou que a Operação Acolhida conta com protocolos de emergência para momentos de entrada massiva de migrantes. Desde o início da crise venezuelana, em 2015, mais de 1 milhão de pessoas entraram no Brasil, com mais da metade permanecendo no país.

Somente no primeiro semestre de 2025, 96.199 venezuelanos foram registrados na entrada do Brasil, sendo 53% pelo estado de Roraima — um crescimento de 5% em relação ao mesmo período de 2024.

Histórias na fronteira

Entre os que chegaram recentemente está Moises Mata, 29 anos, que perdeu o emprego em El Tigre e decidiu migrar após as eleições. “Perdi o trabalho e não vi mais futuro. Depois das eleições, ficou claro que nada vai mudar”, afirmou.

A dona de casa Dexys Sapienza, 40 anos, atravessou a fronteira com as duas filhas adolescentes:

“Tudo agora é em dólar, os preços sobem duas vezes ao dia. O governo segue o mesmo, e nós sem esperança. Quero que minhas filhas estudem aqui e tenham oportunidades que não teriam lá”, disse.

Também há migrantes que chegam para tratamento de saúde, como Alex Rodriguez, 70 anos, que deixou Puerto La Cruz para operar uma catarata. “Quero me tratar no Brasil e viver com minha filha. Aqui, a vida é melhor”, relatou.

Análise de especialistas

Para João Carlos Jarochinski Silva, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pesquisador de migração, o atual perfil de migrantes reflete um processo de reunião familiar.

“Pessoas que conseguiram se estabelecer estão trazendo familiares, filhos e pais. Isso mostra que a migração já não é apenas uma fuga emergencial, mas um movimento consolidado”, explica.

Após cruzar Pacaraima, muitos migrantes seguem para outros estados por meio do programa de interiorização, enquanto outros permanecem em abrigos temporários ou em situação de rua. Para muitos, a mudança é definitiva.

“Achávamos que o país ia mudar, mas não mudou. Tem comida, mas não há dinheiro para comprar. Depois das eleições, vi que não havia saída. Não quero voltar nunca mais. Amo o Brasil”, disse o segurança Luiz Perez, 28 anos, recém-chegado de Caracas.

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