Por Meon Em RMVale

Com cenário incerto, funcionários da Embraer voltam do recesso em S. José

Negociações com Boeing envolvem áreas comercial e de defesa

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Trabalhadores da Embraer em uma das portaria de sede da empresa, em São José dos Campos

Pedro Ivo Prates/Meon

Os funcionários da Embraer, em São José dos Campos, retornaram nesta quarta-feira (3) ao trabalho apreensivos com o futuro da empresa. Após duas semanas da primeira notícia sobre um eventual acordo de cooperação da fabricante brasileira com a Boeing, as duas empresas ainda não revelaram o teor das discussões.

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A empresa emprega cerca de 16 mil pessoas no Brasil, sendo 12 mil só em São José.

“A situação é muito chata. O mundo inteiro falando da Embraer e a gente, lá dentro, sem saber quais são os rumos que a empresa pode tomar. Em casa, minha mulher e meus pais estão com medo. Eles acham que eu posso perder o emprego”, disse um funcionário da empresa, que pediu para não ser identificado.

Porém, ele acredita que a fusão vai beneficiar a Embraer. “Não acredito que esta parceria acabe com a Embraer, como diz o sindicato [dos Metalúrgicos]. Pelo contrário, acho que vai fortalecer a empresa frente à concorrência. O nosso medo é que sempre existe uma possibilidade de reestruturação das fábricas e enxugamento de alguns setores, isso gera tensão na gente”, afirmou o trabalhador.

As informações sobre o acordo em negociação, que inicialmente apontavam para o segmento da aviação comercial, agora incluem também a área de Defesa e Segurança da Embraer. Porém, os modelos de parceria ou fusão em discussão entre brasileira e a gigante norte-americana ainda não ganharam um contorno definido.

As especulações sobre os formatos de associação em discussão são diversas. Em pauta estariam desde a ampliação dos acordos comerciais  (hoje as duas empresas já têm parceria para venda e suporte do KC-390); passando pela criação de uma joint venture (que, simplificadamente, significa uma união para desenvolvimento de ações de interesse comum) até a venda de boa parte das ações da Embraer para a Boeing.

Em suma, são muitas as vertentes, com diferentes níveis de impacto no mercado global e dentro das fábricas.  E é neste cenário de indefinição que os funcionários da Embraer retornaram nesta quarta-feira ao trabalho.  

A Embraer não comenta o assunto. No dia 22 de dezembro, último expediente antes do recesso, os trabalhadores receberam um comunicado assinado pelo presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva.

Na nota, Paulo Cesar cita benefícios gerados por uma potencial combinação dos negócios e ressalta a complexidade de um acordo deste porte. Mas ele garante que “qualquer que seja o formato, combinação ou parceria, o objetivo será o sucesso e o crescimento da companhia e a preservação de empregos”.

O presidente destacou também a possibilidade de expansão dos negócios, o que ampliaria o escopo de atividades da Embraer e aumentaria o atual volume de vendas, garantindo o nível de empregos em um período de transição que a companhia passa com a chegada de uma nova geração de produtos.

“Juntas, Boeing e Embraer têm produtos e serviços complementares e poderão alavancar o know-how em engenharia e tecnologia e os esforços em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Além disso, expandir a capacidade de produção e força global de vendas”, disse o presidente na nota.

Neste cenário, a engenharia da empresa brasileira poderia absorver demandas de desenvolvimentos da Boeing e fortalecer a cadeia de suprimentos do Brasil com viés de exportação.

Para a gigante norte-americana, o acordo com a Embraer é uma estratégia para enfrentar a europeia Airbus, sua principal concorrente. Em outubro, a Airbus entrou no segmento de aeronaves de médio alcance ao comprar mais de 50% das ações do programa de jatos regionais da canadense Bombardier, principal concorrente da Embraer.

Defesa & Segurança

Mas não são apenas os jatos comerciais da Embraer que despertam o interesse da Boeing, parcerias nas áreas de Defesa e Espacial também estão na mesa de negociação. Isso permitiria que a empresa norte-americana construísse um portifólio ainda maior que o da sua concorrente europeia.

Na área militar, o KC-390, cargueiro fabricado pela Embraer que deve entrar em operação ainda este ano, daria à Boeing uma boa parte do mercado hoje liderado pela Lockheed Martin, fabricante do cargueiro turbo-hélice Hercules.

O acordo comercial vigente hoje com a Embraer prevê venda e suporte técnico para o KC-390 apenas em alguns mercados. Um novo formato de associação com a Boeing abriria as portas de novos mercados para a fabricante brasileira.

Na Austrália e no Reino Unido, a Boeing já possui alguns acordos na área militar que seriam a base para elaboração de uma proposta para o governo brasileiro, visando a garantia do sigilo e da soberania do país.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, já afirmou que o governo não se opõe a uma eventual parceria, mas a hipótese de a Embraer ser dividida entre produção de aviões comerciais e militares, a fim de permitir a venda de uma parte, está fora de cogitação.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos lançou, no dia 22 de dezembro, uma campanha contra a fusão e encaminhou cartas à direção da empresa e ao presidente Michel Temer.

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