Por Meon Em RMVale

Especial Metrópole Magazine: Azeite, o ouro líquido da Mantiqueira

Produtores da região ganham espaço no mercado nacional

Confira a reportagem  sobre a produção de azeite em fazendas da Serra da Mantiqueira, na RMVale, publicacada na 25ª edição da Metrópole Magazine, em março de 2017.

Azeite, o ouro líquido que brota em terras da Mantiqueira

Por Tânia Campelo

Azeite da Mantiqueira - Oliq Divulgação

Produção de azeitonas em São Bento do Sapucaí, onde é produzido o azeite Oliq

Divulgação

Quando o assunto é azeite extravirgem, nove em cada dez consumidores pensam em rótulos importados. Mas ao contrário do que imagina a maioria, o azeite nacional, inclusive o produzido no Vale do Paraíba, conquista o paladar e o reconhecimento de especialistas e chefs.

O volume da produção nacional ainda é irrisório comparado ao do importado, mas é justamente essa dependência do mercado externo que projeta um futuro promissor aos produtores brasileiros.

Os números comprovam o potencial deste mercado: em 2015, o Brasil comprou 67,6 mil toneladas de azeite de oliva, de acordo com os dados mais recentes do Conselho Oleícola Internacional (International Olive Council). No ano anterior, o Brasil chegou a importar 75 mil toneladas.

Os olivais brasileiros estão concentrados em áreas de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo. A colheita da safra 2017 é feita entre fevereiro e março, quando também ocorre a extração do óleo da azeitona. A partir de abril, já estará sendo comercializado.
“Não há azeite extravirgem melhor do que o mais fresco e bem elaborado. Os produtores brasileiros estão aprendendo muito bem as boas práticas de produção [cultivo, manuseio e extração], mas a nossa maior vantagem em comparação ao importado é o frescor”, afirma o azeitólogo Marcelo Scofano, considerado um dos principais especialistas no Brasil.

E este ouro líquido que começa a brotar em fazendas das Serras da Mantiqueira, Bocaina e do Mar é digno dos mais exigentes paladares. Sua qualidade impressionou degustadores que visitaram o estande do Brasil no V Salão Internacional do Azeite Extravirgem, na Expoliva, maior evento internacional de olivicultura, que ocorre a cada dois anos na cidade de Jaén, na Espanha, em 2015.

Colhemos nossas azeitonas no melhor ponto de maturação para o azeite e fazemos a extração em menos de 24h

Carlos DinizAssolive

“Tive a responsabilidade de selecionar cinco rótulos brasileiros para apresentar no Salão. Dois deles, um gaúcho e um da Mantiqueira, foram degustados em um simpósio, conduzido por mim e por dois importantes profissionais espanhóis. Todos ficaram surpresos com a qualidade do azeite brasileiro. Foi a sessão mais concorrida do evento, pois desconhecia-se a produção no Brasil”, disse Scofano. Ele acompanha a produção nacional desde a sua segunda safra, em 2009. 

Qualidade
Um azeite extraído de olivas frescas, em boas condições de maturação, e sem agentes que possam alterar suas propriedades. Esses são os principais fatores que garantem o frescor do azeite nacional frente ao importado.

“Colhemos nossas azeitonas no melhor ponto de maturação para o azeite e fazemos a extração em menos de 24 horas. Após a extração, o azeite decanta ainda por algumas semanas, mas logo está disponível ao consumidor. Lugares com equipamentos de última geração, por centrifugação, também colaboram para a qualidade final do produto”, disse Carlos Diniz, presidente da Assoolive (Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira), que reúne 41 produtores paulistas e mineiros.

Este processo resulta em um índice de acidez inferior a 0,2 % para a maioria dos azeites produzidos na região. 

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Cultivo em expansão


Produtores de Minas Gerais e São Paulo estimam que haja um crescimento anual de 25% no volume de azeite produzido na região sudeste durante os próximos dez anos.

A projeção leva em conta diversos fatores, como o aprimoramento das técnicas de cultivo e de extração do óleo e a idade dos olivais existentes. As oliveiras começam a dar frutos somente a partir do terceiro ou quarto ano.
Em todo o país, são cerca de 3.800 hectares cobertos por olivais. Somente na região das serras da Mantiqueira, Bocaina e do Mar são cerca de 1.800 hectares com cerca de 700.000 oliveiras, segundo dados da Assoolive.

Vera Masagão Ribeiro, que é sócia do Azeite Oliq, em São Bento do Sapucaí, espera produzir e comercializar 3 mil litros de azeite, este ano.  A Oliq é uma sociedade de três produtores, donos de duas fazendas com 10 mil plantas de diferentes idades --as mais velhas com dez anos. O carro-chefe da marca é o azeite, mas na fazenda ela também vende azeitona em conserva e azeitona passa (desidratada no sal). “Minha filha também produz cosméticos naturais a base do azeite – cremes e sabonetes”, ressaltou Vera.
Investimento de risco

Para a safra deste ano, estima-se uma produção de 40 mil litros de azeite na região, um aumento de 60% com relação ao volume produzido em 2015.

No ano retrasado foram colhidas 250 toneladas de azeitonas na região, que resultou em 25.000 litros de azeite. Já no ano passado, os fatores climáticos prejudicaram a safra, derrubando a produção de azeite para 7.000 litros apenas.


Estas grandes oscilações nas safras representam o maior risco para o produtor rural que pretende investir em olivais. Enquanto o mercado consumidor de azeite tem uma demanda garantida e retorno financeiro atraente, o investimento no cultivo é incerto e extremamente arriscado.

Temos solo, clima e condições propícias ao cultivo. O mercado é certo, desde que o produto seja de qualidade superior

Angelica PantanoPesquisadora do IAC



“É um investimento de muito risco, mesmo nas regiões consideradas adequadas. Como é uma cultura exótica e a experiência tem menos de 12 anos, ainda não há uma estabilidade, não sabemos o que vai acontecer com essas plantas. Por isso o produtor não pode ter essa cultura como atividade principal”, disse a pesquisadora da Edna Bertoncini, coordenadora do projeto Oliva SP, desenvolvido pela Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) para pesquisar, divulgar informações e dar suporte aos olivicultores do Estado de São Paulo.

O Projeto Oliva SP foi implantado em 2010 após muitos produtores procurarem a Secretaria de Estado da Agricultura interessados no cultivo de oliveiras.

Também integrante do grupo, a pesquisadora Angelica Prela Pantano, do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), ressalta que a olivicultura e a extração do azeite, quando orientados por profissionais especializados, podem gerar resultados bem positivos.

“Temos solo, clima e condições propícias ao cultivo. O mercado é certo, desde que o produto seja de qualidade superior, o que demanda investimento financeiro e manejo adequado. No entanto, o retorno financeiro se dá a médio e longo prazo, pois a cultura tende a estabilizar a produção a partir de 8 anos”, disse Angélica.

Apesar das pesquisas já desenvolvidas pela Apta e pela Epamig (Empresa de Pesquisas Agronômicas de Minas Gerais), os produtores reivindicam mais apoio governamental para expansão da olivicultura no sudeste brasileiro.

“Nossa produção é insignificante em comparação ao consumo de azeite no Brasil, portanto há espaço para novos produtores, mas não existem incentivos governamentais específicos para plantios ou custeio”, disse Carlos Diniz, que também é proprietário da Olival Serra dos Rosas, em Consolação (MG).

Em 2015, a Assoolive fez um levantamento que apontou que o custo médio da manutenção do pomar na região estava em torno de R$ 6.200 por hectare, já o investimento médio do plantio era de R$ 10.000 por hectare.

O preço médio do azeite produzido na Mantiqueira é R$ 40,00 (garrafa de 250ml). Para este ano de 2017, estima-se que somente com a venda de azeite os produtores da Mantiqueira devam movimentar cerca de R$ 6,4 milhões, caso o preço médio de venda se mantenha.

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Características do azeite dependem da qualidade da azeitona

Nome do fotógrafo

História do azeite na região começou nos anos 30


A Apta mapeou os municípios paulistas que apresentam condições climáticas e de solo favoráveis ao cultivo de oliveiras. A maioria se concentra em regiões de altitudes elevadas, acima de 800 ou 900 metros e com temperaturas mais amenas, pois para o florescimento da planta são necessárias mais de 500 horas de frio, com temperaturas abaixo de 12ºC. 

O sucesso de muitos produtores motivou o interesse pelo cultivo. Hoje, os olivais já estão presentes em diversos municípios, como Pedra Bela, Cabreúva, Pilar do Sul, São Roque, Piedade, Capão Bonito, São Sebastião da Grama, Águas da Prata, São Pedro, Lindóia, Amparo, Pilar do Sul, Itararé e Serra Negra.

Na região, há olivais em São Bento do Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal, Silveiras, Cunha e Lorena, entre outros. Mas, por incrível que pareça, a história do cultivo de azeitonas na região remonta mais de meio século.

Foi o português Antonio de Oliveira Pires, que se instalou em Campos do Jordão em 1936 para tratamento de saúde, o pioneiro da olivicultura em São Paulo (na mesma ocasião, outras experiências ocorriam no Sul do país). No início da década de 40, Pires já colhia suas azeitonas para fabricar o primeiro azeite extravirgem brasileiro. Mas, sem investimento, a produção cessou ainda na primeira metade da década de 60.

Outras tentativas foram feitas, também sem sucesso, na década de 70. Foi somente a partir do trabalho realizado pela Epamig (Empresa de Pesquisas Agronômicas de Minas Gerais (Epamig) que a olivicultura foi definitivamente introduzida no cenário agrícola do sudeste brasileiro.


Da entrada à sobremesa, o azeite está presente

Na Mantiqueira os azeites são mais suaves, com frutados maduros e herbáceos

Marcelo Scofano Azeitólogo

“Enquanto na região da Mantiqueira os azeites são mais suaves, com frutados maduros e herbáceos, alguns ‘quase doces’; o sul do país, embora com características também maduras, possui frutados mais verdes com características de amargo e picante mais pronunciados”, disse o azeitólogo Marcelo Scofano.

Segundo o especialista, que acompanha e realiza estudos de harmonização do azeite na culinária brasileira, é grande o leque de uso do azeite, inclusive com frutas e sobremesas.

“A harmonização do azeite se dá basicamente por semelhança: azeite mais intensos com pratos de sabores mais fortes (pratos condimentados, carnes de caça ou grelhadas, queijos picantes ou fortes e algumas pizzas), já o azeite suave com pratos de sabores mais leves, como saladas de folhas claras, peixes, carnes e legumes cozidos”, disse o especialista.

Assim os azeites da Mantiqueira harmonizam perfeitamente com carnes de panela, peixes, cozidos, verduras, queijos frescos, doces e frutas. Estranhou? Ainda incomum na mesa dos brasileiros, o uso de azeite em sobremesas é muito comum na Europa.

Em São José dos Campos, a mestre gelataia Sandra Chaves Dutra, sócia da Artesane Gelateria, costuma utilizar o azeite extravirgem na sua pasta de pistache. “Além do sabor, o azeite é extremamente saudável, muito melhor que usar qualquer outro tipo de gordura”, disse Sandra.

Veja a versão original impressa neste link.

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