Saúde

Caminhos do Envelhecer

Da medicina antiga à geriatria e gerontologia modernas: o cuidado com a velhice através dos tempos

Escrito por Meon

04 SET 2025 - 17H15

Reprodução
Luiz Eduardo dos Santos - Gerontólogo, Mestre em Gerontologia


O envelhecimento, um fenômeno tão antigo quanto a própria humanidade, sempre foi objeto de interesse e discussão. Mesmo nos primeiros registros médicos, evidências sugerem que as pessoas já se esforçavam para aliviar dores corporais, aumentar o vigor, diminuir a fraqueza e compreender a importância de envelhecer.

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Esse contexto se transformou ao longo dos tempos, caminhando da sabedoria empírica dos povos antigos até o reconhecimento da geriatria e da gerontologia como campos de estudo científico no século XX. Essa trajetória demonstra que olhar para a velhice nunca foi apenas cuidar da saúde física, mas também de reafirmar o espírito de humanidade da sociedade.

Em sua famosa obra "Aforismos", Hipócrates, frequentemente chamado de "pai da medicina", observou como o corpo muda com o passar do tempo. Ele descreveu o declínio da força, alterações na digestão e na respiração, buscando compreender o envelhecimento como um aspecto natural da existência.

Pouco tempo depois, o médico romano Galeno expandiu esse conceito, discutindo os comportamentos e temperamentos associados aos diferentes estágios da vida.Em muitas culturas, com o passar dos séculos, o envelhecimento foi visto mais através da lente dafilosofia e da religião do que de perspectivas científicas. O cuidado dos idosos foi visto de maneira quaseexclusiva como um dever da família, principalmente realizado e assumido por mulheres, e pela comunidade.

Mas no início do século XX, esse contexto entrou em forte transformação. Em 1909, o médico austríaco Ignatz Nascher propôs o termo geriatria, inaugurando um novo ramo da medicina voltado para as necessidades da saúde da população idosa. Nessa mesma época, a gerontologia começou a se desenvolver como uma ciência multidisciplinar, que estudava o corpo e suas doenças, a mente, assim como o aspecto social e psicológico do envelhecimento.

O campo da gerontologia, por exemplo, tem acompanhado uma mudança paradigmática muito forte, onde o envelhecimento deixou de ser visto apenas como um processo biológico e passou a ser compreendido como uma construção social, passível de análise científica, planejamento estratégico e intervenção por políticas públicas.

No século XXI, uma transformação significativa se concretizou com a introdução do conceito de envelhecimento ativo pela Organização Mundial da Saúde. Essa abordagem ressalta a importância de otimizar as chances de bem-estar físico, envolvimento social e proteção, visando aprimorar a qualidade de vida durante o processo de envelhecimento. A recente declaração da Década do Envelhecimento Saudável (2021 – 2030) reforça esse compromisso, convocando governos, a sociedade e as próprias organizações a implementarem medidas abrangentes que assegurem a dignidade, a independência e a integração social em todas as etapas da vida.

No Brasil, esse avanço se consolidou com a criação do Estatuto do Idoso em 2003, que estabelece os direitos da pessoa idosa. Desde então, o envelhecimento passou a ser um tema mais debatido e, de um modo geral, mais multidisciplinar. Atualmente, o cuidado com a pessoa idosa requer uma visão intersetorial e multiprofissional que inclui a saúde, proteção, gestão social, inclusão digital, espaços de convivência, acesso à cultura, exercício da cidadania, oportunidades de trabalho e educação, justiça social, geração de renda, participação da comunidade, e cuidados continuados, sejam eles de curta ou longa duração.

Analisando esse contexto, percebe-se que envelhecer não se refere a apenas um conceito, mas a vida. Se Hipócrates e Galeno já intuíram a necessidade de compreender a velhice e Nascher inaugurou a medicina do idoso, isso nos coloca a responsabilidade de dignamente, inclusivamente e humanamente, aplicar esses saberes na vida prática, porque, no fim, cuidar da velhice é cuidar de todos nós.


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