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A loucura do Natal

Uma mensagem a respeito de um amor que abre mão de seus privilégios pelo próximo

Jeferson Carvalho Alvarenga (Arquivo Pessoal)

Escrito por Jeferson Carvalho Alvarenga

02 DEZ 2021 - 15H30 (Atualizada em 02 DEZ 2021 - 15H58)

Divulgação

Estamos nos aproximando do Natal. É bem verdade que o espírito natalino anda bem ralo nos últimos anos, mas esta época de celebrações ainda estimula algo profundo em nós e suscita uma boa e oportuna reflexão.

O Natal tornou-se um feriado em nosso calendário cívico, mas todos sabemos que esta data tem essencialmente um pano de fundo religioso, influência da herança judaico-cristã que moldou a história do Ocidente.

Independente da sua visão de mundo, do seu credo ou da sua fé, quero te convidar – e te provocar também, se assim você me permitir – a pensar no quanto a mensagem original do Natal é bela, poética, contestadora e até mesmo chocante.

Nosso desafio é olhar para o Natal de um ponto de vista existencial, narrativo e poético para ver sua beleza original. Digo beleza original, pois nós envernizamos, domamos e diminuímos a história do Natal a ponto de torná-la uma canja de galinha insossa e inofensiva.

O Natal é uma loucura, é uma narrativa revolucionária nível hard. Quer ver?

O Natal certamente é o marco do calendário cristão que foi mais prejudicado pelo consumismo e pelo espírito materialista do nosso tempo. Ficamos entorpecidos com a pompa dos presentes, com o brilho das luzes, com o glamour da árvore de natal.

Ficamos tão maravilhados com tanta luz e luxo que nossa imaginação mal consegue penetrar aquela noite fria na qual um casal viajante buscou abrigo em todas as hospedarias de Belém, sem sucesso algum.

A luz ofuscante da noite natalina em uma sociedade de consumo é tanta que não podemos sequer ver as expressões preocupadas e o temor de José ao perceber que sua mulher amada havia entrado perigosamente em trabalho de parto. As dores, o líquido amniótico se esvaindo, as contrações cada vez mais agudas e ritmadas.

Veja o desespero de José, a dor lancinante de Maria em trabalho de parto e o completo abandono desse casal na noite fria. Acompanhe o caminho doloroso até uma estrebaria, cambaleando até o curral, o cheiro de esterco, o odor dos animais, o senso agudo de abandono.

Na escuridão, deitada no chão afofado com capim e sujeira, lá estava Maria, amparada apenas por seu marido, dando à luz em meio ao anonimato e à desolação. Naquela noite fria, Maria e José eram apenas sombras, gente sem nome, sem teto, sem ajuda, sem nada nem ninguém. Párias sociais, longe de casa e desamparados.

Você consegue penetrar com sua imaginação o véu espesso da agonia daquela noite?

Contudo, no meio daquela escuridão brilhou uma pequena luz. Pequena, mas intensa e pura, clara e poderosa. Lá estava aquela criancinha envolta em trapos improvisados, chorando, ainda suja, olhinhos apertados. Lá estava aquele menino, aquele bebê tão vulnerável, esfomeado, golpeando o ar com seu choro de protesto.

O Natal raiz é mesmo uma loucura. Doideira total para nós, pós-modernos que exibimos nossas vidas editadas nas redes sociais. Naquela estrebaria – assim diz a tradição sobre a qual o Ocidente foi formado – nasceu em completo abandono e fraqueza o Messias.

Aquela criancinha não é nada mais e nada menos do que o próprio Deus criador do mundo, que fez os céus e criou o homem – assim diz a tradição sobre a qual o Ocidente foi formado. Deitado na manjedoura estava o Criador, assumindo totalmente a condição humana a fim de redimir sua criatura que havia perdido o fio da meada da vida, havia se perdido do caminho.

Esta é a narrativa do Natal em sua forma mais original, cruenta e primal. Talvez seja essa a versão que nós devamos resgatar: uma mensagem a respeito de um amor que abre mão de seus privilégios, de seu status e glória para fazer um caminho de empatia até o próximo. Não é isso que o Messias faz nesta história, ao deixar sua existência eterna para tornar-se homem?

Eu te falei. O Natal é loucura. É uma mensagem sobre um altruísmo agressivo movido por uma empatia poderosa que brilha em um tempo tão escuro de egoísmo visceral, no qual construímos muros que por fim nos aprisionam em nossa solidão.

O Natal é loucura. Natal não é para entender, não é para comprar, não é para vender. Natal é tempo para contemplar o amor encarnado em um bebê, Jesus, o Messias.

Escrito por
Jeferson Carvalho Alvarenga (Arquivo Pessoal)
Jeferson Carvalho Alvarenga

Teólogo (Mackenzie), Professor Universitário e Ministro Presbiteriano, Mestre e Doutor com ênfase em Gestão (UFF), Especialista em Gestão de Pessoas (UNIFEI) e Profissional de Gerenciamento de Projetos (PMI). Jeferson é pesquisador nos campos de Liderança, Gestão de Pessoas, Gerenciamento de Projetos, Gestão Organizacional e Gestão Estratégica, nos quais também tem experiência como docente. Como Ministro Presbiteriano possui ampla experiência na liderança e gestão de instituições eclesiásticas e organizações não governamentais, atuando como presidente, supervisor e gestor. Jeferson e sua esposa, Izabella, residem em São José dos Campos onde estão servindo a um projeto de implantação de uma comunidade cristã.

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