O envelhecimento da população brasileira é um dos fenômenos sociais mais marcantes do século XXI. De acordo com o Censo Demográfico de 2022, o Brasil tem mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa cerca de 15% da população. Em 1980, essa proporção era de apenas 6%. Essa mudança revela que estamos vivendo mais — mas também desafia a repensar como a sociedade convive com a velhice e, principalmente, com os preconceitos e estereótipos que a cercam.
O termo idadismo (ou ageísmo, ou etarismo) refere-se à discriminação baseada na idade, especialmente contra pessoas idosas. Ele se manifesta de formas sutis ou explícitas: desde piadas sobre “velhos gagás” até decisões institucionais que excluem os mais velhos de oportunidades de trabalho, participação social, inclusão digital ou acesso igualitário aos serviços. O idadismo é o preconceito social mais “aceito e normalizado” — e justamente por isso, o mais perigoso.
Durante a pandemia de COVID-19, o mundo inteiro testemunhou esse fenômeno com clareza. Em muitos países, inclusive no Brasil, circularam discursos que tratavam a morte de pessoas idosas como algo “esperado” ou “menos grave”. Frases como “só morrem os velhos” ou “eles já viveram o suficiente” escancararam o quanto a sociedade tende a naturalizar o sofrimento da velhice. Em alguns contextos hospitalares, chegou-se a discutir a prioridade de leitos e respiradores com base na idade, algo que provocou reações éticas e humanas profundas.
Mas o idadismo vai muito além da pandemia. Ele se manifesta nas piadas cotidianas, nas propagandas que exaltam apenas a juventude, nas empresas que evitam contratar profissionais com mais de 50 anos e até nos sistemas de saúde que subestimam sintomas relatados por pessoas idosas, atribuindo tudo ao “peso da idade”. É um preconceito que rouba não apenas oportunidades, mas também autoestima, qualidade de vida e pertencimento.
Globalmente, esse tema vem ganhando atenção crescente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em 2021 o Relatório Global sobre Idadismo, afirmando que uma em cada duas pessoas no mundo tem atitudes idadistas. Esse relatório mostra que o preconceito etário reduz a expectativa de vida saudável, aumenta a solidão, impacta na saúde mental, prejudica o acesso a cuidados de saúde e provoca perdas econômicas bilionárias. Ou seja, o idadismo não é apenas uma injustiça moral — é um problema de saúde pública e de desenvolvimento social.
No Brasil, as contradições são visíveis. Somos uma sociedade que reverencia o amor de avós e a sabedoria dos mais velhos, mas que muitas vezes os exclui das decisões e dos espaços de visibilidade e inclusão. A cultura do “novo”, do “produtivo” e do “rápido” faz com que a experiência acumulada ao longo da vida seja vista como ultrapassada. Essa lógica precisa ser desconstruída, especialmente agora que estamos vivendo mais e com mais qualidade.
Combater o idadismo exige uma mudança de mentalidade — individual e coletiva. É preciso investir em educação gerontológica, incluir o tema do envelhecimento nos currículos escolares, valorizar a presença de pessoas idosas nos espaços de mídia, trabalho, cultura e política. A convivência intergeracional é uma ferramenta poderosa para desconstruir estereótipos e construir pontes de respeito, trocas e aprendizado mútuo.
Envelhecer não pode ser considerado um peso social, é um destino comum. E cada vez que discriminamos uma pessoa idosa, estamos também negando o nosso próprio futuro. A sociedade da longevidade precisa ser, antes de tudo, uma sociedade da empatia e construída para todos.
O idadismo não é apenas uma questão de linguagem ou de atitudes — é uma barreira cruel e invisível que impede milhões de pessoas de viverem plenamente. Superá lo é mais do que um ato de justiça: é um passo essencial para garantir que o envelhecer seja, de fato, uma conquista coletiva.
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