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Tecelagem Parayba: Nosso Orgulho, por Felipe Cury

Leia a coluna Bulas Semanais

Colunista Felipe Cury (Reprodução)

Escrito por Felipe Cury

24 MAI 2024 - 16H33

Flávio Pereira/CMSJC

O PENSAMENTO: “♫ Já é hora de dormir, não espere mamãe mandar. Um bom sono pra você e um alegre despertar ♫”

O FATO: As modernas práticas empresariais tiveram como berço a TECELAGEM PARAYBA. Ali nasceram as sementes do empreendedorismo.

A Tecelagem Parayba, instalada no Vale em 1925, foi um marco na industrialização de toda a região. Na década de 1950, quando atingiu seu ápice, a fábrica de tecidos e lã dominava 90% do mercado nacional com a produção de cobertores e exportava para países como Estados Unidos e Canadá.

São José dos Campos, mais uma vez, eleita CIDADE MAIS INTELIGENTE DOS BRASIL tem hoje uma avenida linda e moderna com o nome de AVENIDA OLIVO GOMES. É imensa a intimidade histórica e de justiça entre Olivo Gomes e São José. Olivo Gomes era corretor da bolsa de valores, trabalhava com corretagem de café e algodão.

Com a quebra da bolsa em 1929, Olivo Gomes foi convidado para analisar os ativos fixos da fábrica e atuar como consultor financeiro, passando em pouco tempo a cargo de gerente. Nessa época produzia apenas brim. Em 1933, Olivo Gomes adquiriu os ativos da fábrica em acordo com Ricardo Severo e na condição de principal acionista se tornou proprietário e presidente. Imediatamente, a TECELAGEM PARAYBA passou a ter 1.200 trabalhadores em seus quadros e começou a elaborar um planejamento estratégico e visão de futuro visando uma corajosa diversificação de seus produtos e incrível ousadia na implantação de moderno sistema administrativo.

Em consequência, ainda na década de 40, a marca Cobertores Parahyba passou a dominar o mercado interno e aumentou consideravelmente suas exportações devido à Guerra, o que gerou altas margens de lucro para uma produção de 4 milhões de cobertores por ano. Na década seguinte, Olivo Gomes decidiu diversificar sua linha de produtos adequando a fábrica para a produção de cobertores de alto padrão. Foi para Itália, Firenze e contratou especialistas.

Olivo também trouxe para o Brasil, maquinários europeus, mas como nossa mão-de-obra não era capacitada, Olivo criou a escola de alfabetização da Tecelagem Parahyba, onde os funcionários eram alfabetizados e recebiam treinamento. Empresário exemplar. Com a mesma competência empresarial, Olivo Gomes ficou conhecido no Brasil como um empresário de ideias arrojadas.

Começou ali a fazer o Brasil do futuro

Na década de 40, Olivo Gomes à frente da Tecelagem Parahyba, decidiu construir vilas operárias, que foram destinadas a moradia dos diretores e técnicos. Seus projetos habitacionais nas imediações da fábrica contemplavam operários que passavam a concretizar o sonho da casa própria. O “aluguel”, passava a ser “uma poupança” para adquirir um imóvel (casa ou terreno) e a própria Tecelagem Parayba ajudava na compra de material pra construir. Casa pronta, deviam dar lugar aos próximos.

Além da escola de alfabetização para os funcionários, a Tecelagem Parahyba também oferecia cursos preparatórios. Todos precisavam fazer o curso por três meses, fazer a prova e se passasse seria contratado para trabalhar em uma das seções da fábrica. A Tecelagem Parahyba também tinha parceria com colégios particulares de São José dos Campos para oferecer bolsa para filhos de funcionários.

A fábrica também disponibilizava atendimento médico, odontológico, farmácia, supermercado e até cabeleireiro para seus funcionários. Olivo Gomes ficou conhecido no Brasil como um empresário de ideias arrojadas. Começou ali a fazer o Brasil do futuro.

Em 1957, já bem fragilizado e doente, Olivo Gomes faleceu e deixou cinco filhos.

Clemente Gomes, o mais velho acabou assumindo os negócios.

Clemente dá prosseguimento à frente dos negócios, dando uma continuidade perfeita ao estilo empreendedor. Do Pai herdou o talento empresarial, a sobriedade e a inteligência brilhante.

Êta! família boa!

Com Clemente ainda à frente dos negócios, nos anos 70 a fábrica dominava mais de 70% do mercado nacional e exportava para mais de 90 países, com linhas assinadas por Pierre Cardin, Pierre Balmain e Maurício de Sousa da Turma da Mônica.

Muito marcante o sangue novo e a vivacidade de Clemente Gomes à frente da empresa. Os negócios continuaram a crescer na década de 60, principalmente pelo alto investimento em publicidade. A marca Cobertores Parahyba estava presente em revistas, rádios, feiras, brindes e patrocínio de eventos e esportes. Foi ao ar pela primeira vez a campanha publicitária mais famosa do Brasil, que marcou gerações com o “jingle “Já é hora de dormir”, com arranjo de Erlon Chaves (tive a ventura de conviver com Erlon Chaves dos botequins da Vila Maria, quando aqui vinha para visitar parentes e amigos, ele era Jurado do programa do Flávio Cavalcante, e quando morreu eu chorei.) e voz de Lourdinha Pereira. Todas as noites, às nove horas em ponto ia ao ar na TV Tupi a chamada do jingle para que as mães colocassem as crianças para dormir.

Não me lembro de ter visto um “jingle” permanecer durante décadas no ar. Encantava as criancinhas, as Mamães Queridas, os adultos e todo o Brasil.

Nesta época Severo Gomes, irmão de Clemente, formado em direito, rumou para a política assumindo pela segunda vez um ministério, o da Indústria e Comércio. Foi eleito Senador da República e, como Político, foi de uma integridade absoluta. Faleceu tristemente vítima de um acidente aéreo na companhia do grande amigo Ulisses Guimarães um ícone da democracia do Brasil.

Durante os anos dourados da fábrica, a família Gomes investiu também em agricultura e agropecuária, acumulando diversas fazendas na região e também em outros estados do Brasil. Na fazenda Sant'ana do Rio Abaixo, adjacente à fábrica, a família construiu uma mansão durante as décadas de 50 e 70. Na casa aconteciam grandes eventos sociais e diversos artistas brasileiros eram convidados a se apresentar no local.

O projeto arquitetônico da casa foi desenvolvido pelo arquiteto Rino Levi. O projeto paisagístico foi projetado por Roberto Burle Marx.

Saudades?! Muitas saudades da nossa Tecelagem, que feneceu após o fim do MILAGRE BRASILEIRO, mas o nosso reconhecimento continua intacto e o grande orgulho para São José dos Campos, para o Vale do Paraíba e para o BRASIL. O talento joseense para a indústria, comércio e desenvolvimento tecnológico começo com esse majestoso exemplo.

Quero fazer um agradecimento simples e eloquente à MALU GOMES. Filha de Clemente Fagundes Gomes e Lucia Paula Leite. E neta de OLIVO GOMES e Maria Augusta Fagundes. Joseense apaixonada pela Terra, que nos forneceu subsídios inéditos e brilhantes para que pudéssemos escrever esta crônica. Malu é feliz e casada com o enólogo Manoel Pierre Louis Marie Frouin (dá pra perceber que era francês legítimo, conhecedor e bebedor de vinho) e amigo agradabilíssimo. A Família é enriquecida pelos filhos Bruno Gomes Pati, Mauro Glauco Pati Neto e Luiza Marie Beatrice Gomes Frouin (linda e amigona da minha neta Marina - mãe do LUCCA, meu bisneto.

FIM – Demi-finale, em francês.

COLUNISTA

Felipe Cury é mineiro de Soledade, nascido em Três Corações. Vive em São José dos Campos há 66 anos. Completou em 17 de abril, 86 anos de feliz idade.

Formado em Ciências Jurídicas e Administrativas, pela Fundação Joseense de Ensino, foi Professor de Língua Portuguesa e Comunicação, na Escola Técnica “Olavo Bilac”.

Foi presidente da ACI - Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos, por 8 anos, além de ocupar outros importantes cargos em diversas instituições do município.

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