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'História da Eternidade' vence em Paulínia

Numa competição de alta qualidade, o júri de Paulínia adotou uma linha e a seguiu. Ao invés de lotear prêmios, concentrou-os em seus favoritos. Assim, o vencedor A História da Eternidade ganhou na categoria de melhor filme, diretor (Camilo Cavalcanti), ator (Irandhir Santos) e atriz (dividido entre Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid). Além disso, o filme pernambucano recebeu o Prêmio da Crítica, dado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Aquele que seria o "segundo colocado", Casa Grande, venceu em roteiro (Fellipe Barbosa e Karen Sztajnberg), ator coadjuvante (Marcello Novaes), atriz coadjuvante (Clarissa Pinheiro) e o Prêmio Especial do Júri.

O presidente do júri, o jornalista Arthur Xexéo (de O Globo), fez um discurso prévio à entrega dos prêmios. Disse que o alto nível dos participantes colocava um dilema constante aos jurados: ao premiar algum filme, sabiam que estavam preterindo outros, também merecedores de distinção. Bem, jurados sempre falam coisas desse tipo, mas, no caso de Paulínia 2014, há uma diferença: a fala não era protocolar e expressava a mais mansa das verdades, como diria Nelson Rodrigues. Em festivais de nível elevado, cometem-se injustiças. E foram mesmo cometidas pelo júri que, além de Xexéo, contou com Anna Muylaert, Carlos Cuadros, Renata de Almeida e Thiago Dottori.

A começar por uma, a mais gritante, a subvalorização de um dos títulos mais inventivos da competição, a comédia funerária de Juliana Rojas, Sinfonia da Necrópole, originalíssimo musical passado num cemitério, mas que fala muito mais dos vivos que dos mortos.

Em seguida, entendo que o júri vacilou ao ignorar por completo o ensaio memorialista de Domingos Oliveira, Infância, que conta com uma interpretação de sonho de Fernanda Montenegro, também descartada da premiação. Ok, dá para entender. Fernanda já tem todas as glórias deste mundo e o prêmio de atriz, dividido entre as três intérpretes de A História da Eternidade além de corajoso foi marcante. Justifica-se, mas ainda assim... Por que não destacar de alguma forma essa beleza de filme de Domingos, com um troféu de direção ou mesmo com um Prêmio Especial do Júri? De qualquer forma, Infância não merecia sair de Paulínia de mãos abanando.

Por sorte, ou por contingências e estripulias dos festivais brasileiros, os dois maiores injustiçados de Paulínia terão nova chance no Festival de Gramado, que se inicia dia 8 de agosto. Será, para utilizar linguagem futebolística, uma espécie de repescagem para esses dois belos filmes, tão diferentes entre si e de tão alta qualidade.

É possível, também, que Sangue Azul, de Lírio Ferreira, merecesse distinção mais consistente que os dois prêmios recebidos - figurino e fotografia. O filme tem problemas, é verdade, e pode desgostar a quem procura o equilíbrio no cinema.
Lírio tem uma vocação mais barroca, digressiva, que o faz perder às vezes o fio da meada, mas produz momentos cinematográficos inesquecíveis. Faz um cinema poético muito inspirado, e inspiração é o que mais anda em falta no cinema brasileiro em seu conjunto. Deveria ser virtude valorizada.

Já a votação do júri de curtas parece muito menos questionável, mesmo porque trabalhou com universo de escolhas muito reduzido. Neste, destacou-se O Clube, de Allan Ribeiro, que conseguiu a rara "tríplice coroa". Foi o melhor filme para o júri oficial, e venceu os prêmios da crítica e do público. Além disso, Ribeiro recebeu ainda o troféu de melhor diretor. Foi uma das poucas exceções em uma safra medíocre de curtas-metragens. Com sensibilidade e construção elaborada, conta a história de um pouco convencional clube carioca, com mais de 50 anos de existência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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