Por Marcelo Lima Em Cultura

Design que é puro fetiche

Peças de Carolina Armellini e Paulo Biacchi,

Peças de Carolina Armellini e Paulo Biacchi

Divulgação/Estadão Conteúdo

"Queríamos dar vazão às ideias em que acreditávamos sem ter de convencer outra marca a fazer isso", complementa Biacchi, que aponta a afinidade do casal como um elo fundamental para o sucesso da empreitada. "Trabalhar junto sempre é desafiador. Mas, hoje, depois de alguns anos, é bem mais fácil. Sabemos explorar mais os pontos positivos e amenizar os negativos", afirma Carolina.Carolina Armellini e Paulo Biacchi criam peças que navegam entre dois mundos: o dos manufaturados e o dos industriais.

Durante a fase de estudos para a conclusão de seu mestrado, a jovem designer paranaense Carolina Armellini encontrou um artigo do designer Rafael Cardoso - "Cultura Material e o Fetichismo dos Objetos" -, que a deixou bastante impressionada. Interessada em se aprofundar no assunto, recorreu a um dicionário e se surpreendeu ainda mais com o que levantou. Fetiche: objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto.

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Cadeira de madeira

Divulgação/Estadão Conteúdo

"Era a deixa que faltava para encarar de vez o nome e batizar nosso estúdio. Por mais polêmica que isso pudesse gerar", comenta o também designer Paulo Biacchi, marido, parceiro e sócio de Carolina, no comando do Fetiche Design. "No começo de 2007 montamos nosso estúdio para ter total autonomia no processo de desenvolvimento de um produto", conta Carolina.

Para ela e o marido, que conheceu no curso de Desenho Indutrial, na Universidade Federal do Paraná, era chegada a hora de criar uma marca própria. De gerar seus próprios "briefings" - ou lista de solicitações - e não mais recebê-los prontos da indústria.


"Ela é mais focada nos detalhes, cores, acabamentos, texturas. Eu, na forma do produto, busco o ineditismo visual e formal a qualquer preço. Gosto de lançar mão de matérias-primas óbvias, desde que de uma forma nunca antes experimentada, e me sirvo do meu conhecimento técnico para ousar no desenho, sem inviabilizar a produção", conta Biacchi.

Mas, afinal, indústria ou ateliê, o que mais interessa à dupla? "As duas ideias nos atraem: produções pequenas, manufaturadas no estúdio, e também grandes tiragens industriais, com ou sem nossa marca", diz o designer. Para eles, o que interessa é poder navegar entre os dois mundos. "São momentos complementares e igualmente prazerosos", pontua Carolina.

Desde que tudo comece no ateliê. "É o nosso grande laboratório de testes, experimentos, onde exercitamos nosso lado mais conceitual", comenta a designer sobre um estilo de trabalho que já virou uma marca registrada. "São ensaios de produtos que podem ou não ser veiculados pela indústria. Mas, no caso, esta não é nossa preocupação imediata."

Menina dos olhos dos designers, a coleção Vergalho, de mesa e assentos de madeira e aço, é talvez a que melhor sintetiza os ideais estéticos do Fetiche. "Ela reúne nossas características mais pulsantes. É uma linha sofisticada, jovem, contemporânea. Tem uma estética nova, leve. Tem um toque de artesanal, de hand made, mas também toda a tecnologia de seu acabamento emborrachado", afirma Carolina .

Já a linha "Conserta-se móveis - tratar aqui", de 2011, uma das propostas mais radicais do estúdio, fala de uma segunda chance. Da possibilidade de recriar móveis em péssimo estado, garimpados pela cidade de Curitiba, trazendo-os de novo à vida. Mas não, necessariamente, para serem perfeitos. "Fizemos questão de conservar as marcas e os defeitos que cada objeto carregava", afirma Biacchi.

Marcada pelo experimentalismo, a coleção veio acompanhada de uma série de vasos feitos de peças descartadas por uma olaria local, também fazendo alusão à estética do imperfeito, que tanto parece agradar aos jovens designers. "Partimos de partes que tinham sido quebradas ao acaso, durante o processo de produção. Foi só dar início ao ‘conserto’", brinca o designer.

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Peça da coleção Vergalho

Divulgação/Estadão Conteúdo

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