A terceira e última temporada de Dickinson será lançada essa semana, dia 5 de novembro. A série, produzida pelo serviço de streaming AppleTV+, reconta a história de Emily Dickinson, uma dos poetas estadunidenses mais importantes do século XIX. Várias das questões envolvendo a vida de Dickinson são abordadas na produção, entre elas a luta por reconhecimento, e a relação íntima com a morte e a depressão. Um dos pontos mais importantes é o seu relacionamento com Susan Gilbert, esposa de seu irmão.
A maioria das obras da poetisa foram encontradas e publicadas após sua morte, entre elas cartas que Dickinson trocava com a cunhada. Há sempre um sentimento muito afetuoso envolvendo suas palavras, revelando uma proximidade e um vínculo forte. Lógico que é plausível interpretar a relação como amizade, uma amizade muito íntima. Porém, também é possível entender que o vínculo talvez não fosse só emocional e intelectual, mas também físico, assim Emily Dickinson amava Susan Gilbert intensamente e o sentimento era recíproco.
O seriado interpreta o relacionamento entre as duas como romântico e traz à tona o tema LGBTQIAP+ e sua representação histórica. Dickinson, com graça, comédia, poesia e beleza, fala: “O ano é 1850 e duas mulheres estão apaixonadas."
Há uma noção muito comum hoje em dia de que as pessoas queer (termo guarda-chuva usado para representar membros da comunidade LGBTQIAP+ no geral, que não são heterossexuais e/ou cisgêneros) são recentes, fruto das gerações Y e Z. Esses pensamentos, repletos de homofobia, buscam dizer que conflitos sobre orientação sexual e identidade de gênero não são naturais do ser humano, e sim um capricho dos jovens, rebeldes e subversivos.
Não é fácil combater essas concepções porque, de fato, vê-se na atualidade um número muito maior de pessoas que explicitamente fazem parte da comunidade. No entanto, esse é o ponto e não é difícil relacionar os fatos. Como o tema é muito mais comum e aceito na sociedade atual, mais pessoas sentem-se seguras para “sair do armário”, viver suas vidas, vestir suas roupas e amar seus companheiros livremente.
Não é difícil pensar que com esse tema mais presente na vida da população, algumas pessoas agora passam a questionar e refletir sobre o assunto, e acaba descobrindo-se parte da comunidade. Essas percepções não são impossíveis, são hipóteses que poderiam ser estudadas a fundo e se baseiam em comportamentos e registros históricos.
É nesse sentido que Dickinson e outros conteúdos históricos LGBTQIAP+ são tão importantes. Eles ajudam a combater essa noção errônea e mostrar ao mundo que, na verdade, as pessoas queer sempre estiveram aqui.
Eles estavam na Grécia Antiga, em meio aos filósofos e à aristocracia, com Safo escrevendo poemas sobre mulheres. Eles estavam na Macedônia, com Alexandre Magno e Heféstion chamando um ao outro pelo próprio nome. Eles estavam na Idade Média, com mulheres sendo queimadas e chamadas de bruxas por simplesmente amarem. Estavam na Inglaterra, no século XVII, com o rei Jaime IV e seu amante George Villiers. No século XX, com os lavender marriages, com Marsha P. Johnson, Sylvia Rivera, Stormé DeLarverie e Miss Major Griffin-Gracy, com William Haines, Montgomery Clift, Marilyn Monroe, Elton John e Freddie Mercury. A comunidade LGBTQIAP+ está no presente, no passado e no futuro.
Eles estavam aqui, em todas essas fotos:
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Por isso, assista Dickinson. Veja outras séries e dramas históricos que falem sobre o tema. Leia livros e artigos, se interesse e celebre as pessoas incríveis, os governantes, os poetas, todos que fazem e já fizeram essa comunidade e sua cultura tão rica hoje.
Os queers fazem parte da história e ela merece ser contada.
Com supervisão de Yeda Vasconcelos, jornalista do Meon Jovem.
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