Na última sexta-feira (19) foi celebrado o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, que tem como principal objetivo incentivar o protagonismo das mulheres no mercado de trabalho. A data surgiu em 2014 com a finalidade de apoiar mulheres no empreendedorismo e hoje também está inserida no universo científico. No Brasil, o Empreendedorismo Femino na Ciência conta com um nome muito especial: Neiva Guedes.
Em 1989 uma jovem estudante de biologia se sentia comovida ao observar um grupo de araras azuis sobrevoando o céu de um entardecer. Isso, não por toda a beleza e naturalidade vindas da espécie, mas devido à crescente ameaça de extinção delas.
Essa é a história de Neiva Guedes, bióloga que ao escutar de uma professora da faculdade sobre a situação preocupante das araras azuis, não pensou duas vezes: “coloquei na cabeça que iria fazer algo para que elas não desaparecessem.”
A arara-azul-de-lear é uma espécie nativa do Brasil e que vem sendo ameaçada de extinção, devido ao grande tráfico de animais silvestres e a destruição de seu hábitat, fatores que colocam a espécie em risco.
Já na época em que Neiva era estudante, a população de araras no país era de 2,5 mil e a chance de extinção era uma ameaça real. Trinta anos depois disso, a realidade se apresentou um pouco diferente: o afinco da bióloga contribuiu para que hoje a população do grupo seja de aproximadamente 6,5 mil araras.
Esse é o resultado da importante mudança de paradigmas que vem se dando no empreendedorismo feminino científico brasileiro: hoje as mulheres correspondem a metade dos cientistas de todo o território. Isso retrata que "ser mulher" e "ser cientista" podem sim andar juntos e gerar resultados capazes de quebrar expectativas.
No caso de Neiva, sua proposta se inicia com a ideia de determinar a quantidade de ninhos de arara-azul e entender mais sobre seu comportamento. Para isso, a pesquisadora foi a campo. Com muitas dificuldades ocasionadas pela falta de tecnologia da época, Neiva deu início a sua viagem pelo Pantanal de carona e ao conseguir um carro, este se tornou seu lar para suas viagens que duravam, em média, de 30 a 60 dias.
Em suas primeiras tentativas, Neiva fazia suas pesquisas o dia todo de dentro de uma barraca do refúgio ecológico Caiman e fazia anotações sobre todos os hábitos da espécie. Ao receber de um amigo a dica de que precisava observar não somente um casal, mas uma população completa, Neiva saiu à procura de ninhos.
“Nos primeiros dias, consegui cadastrar 58 ninhos, 5 ainda com filhotes”. Nesse momento, suas pesquisas eram através da observação do chão, já que a bióloga ainda não tinha a vista de cima da copa das árvores. Depois que o ornitólogo estadunidense Lee Harper a ensinou técnicas de campo para escalada de árvores, Neiva pode aprimorar seus estudos.
A ideia que consagra a bióloga, vem dessa observação vista de cima: ao notar que a falta de cavidades para construção de ninhos era um dos empecilhos para procriação da espécie, Neiva idealizou as "caixas-ninho" - ninhos artificiais feitos com caixas de madeira. “Deram certo, e começamos a instalar em larga escala. Depois de um tempo, os ninhos artificiais passaram a ser como os naturais”.
E assim, a atitude começa a dar resultados, em 2014, a espécie saiu da lista de animais com risco de extinção. Entretanto, a bióloga alerta que as araras-azuis continuam sendo um grupo vulnerável e que continua precisando de atenção.
"Foi desafiador", conta Neiva. Mas, hoje os frutos de seu trabalho já tem grande notabilidade. Neiva trabalha com outras espécies de aves além das araras-azuis e vem contribuindo para a formação de profissionais da sua área ao redor de todo o país.
Em 2003, Neiva fundou o Instituto Arara Azul que tem como objetivo a promoção da conservação da arara-azul em seu hábitat natural. Além disso, a pesquisadora é premiada pela ONU e reconhecida como uma das principais mulheres cientistas do mundo, passando a integrar o grupo de Mulheres da Ciência da ONU.
Com supervisão de Yeda Vasconcelos, jornalista do Meon Jovem.
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