Acordei,
Coloquei as roupas,
A maquiagem,
As máscaras,
Tudo que tampa o que sou:
Mulher.
Me preparei para escutar os passarinhos assoviando,
Não sei o que pensam com tanto canto.
Cantam minhas pernas, braços, seios, cantam meu corpo,
Cantam sua (falsa) liberdade, à medida que tiram a minha,
Tiram-me o direito de sair livremente, me prendendo a uma gaiola,
Cujas grades se manifestam em minhas roupas,
Nos comentários do quão terrível sou por não aguentar a cantoria,
(Feche a boca, escute e sorria).
Sou mulher,
Todo dia sigo uma melodia,
Desafinada, sangram-me os ouvidos,
Mas sou mulher,
Devo escutar com alegria,
Estrangula-me a pele,
Sufoco, sem sentir o ar,
(Parem, parem já! Não consigo respirar)
Se um pássaro me canta,
Se me chama para o canto,
A culpa é minha,
Todos afirmam, em tamanha cantoria:
"Se ela quisesse poderia evitar"
O canto parece silencioso, se passam anos e ninguém vem me libertar,
(Querido mundo, por que sempre tão penoso? só queria me soltar)
Meu corpo: regra dos pássaros
Prisão domiciliar,
A sentença: me perder em todas essas leis até meu último suspirar.
Com supervisão de Yeda Vasconcelos, jornalista do Meon Jovem.
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