Por Maria Eduarda Fonseca Carneiro Em Alunos Atualizada em 19 AGO 2020 - 11H48

A relação dos adolescentes com os filmes que os replicam

Debate analisa a possível sexualização de adolescentes nos filmes e séries atuais

Muito se falou da franquia “A Barraca do Beijo”, do serviço de streaming Netflix, nos últimos dias devido à estreia de sua continuação e anúncio do terceiro filme pelo elenco.

A partir da análise do longa, alguns telespectadores levantaram a possível sexualização de adolescentes que ocorria no primeiro filme, o que, como quase tudo, levou à discussões acaloradas no Twitter sobre esse entretenimento ser um mal ou uma representação da adolescência.

Para levarmos esse debate como uma real e ampla preocupação social, é preciso lembrar que os filmes e séries estão cada vez mais acessíveis para os jovens e que a narrativa clichê exagerada não é uma característica exclusiva de “A Barraca do Beijo”. Assim, situações consideradas problemáticas precisam ser discutidas em meios mais amplos para que tenham estudos embasados sobre o tema.

É dubitável a existência da sexualização e adultização adolescente nos filmes.

Stefano Lopes, bacharel em cinema e audiovisual na Universidade Estadual do Paraná, declara

“Penso os filmes sempre como retratos das sociedades. Assim mesmo, no plural. Isso porque os filmes revelam as culturas às quais sua produção está imersa. Acredito que os filmes que se ocupam em representar essa 'adolescência', preocupam-se em trazer à tona,  as discussões que atravessam as realidades dos jovens de um determinado contexto, que contempla o mundo que interessa à obra. Mais uma vez, se os filmes são retratos do mundo, correspondem às suas expectativas, ética e estética”.

Lopes ministrou oficinas de audiovisual no projeto “Cinema Educa - Audiovisual e Educação, Formação Continuada” na Unespar e trabalha com roteirização, produção e assistência de direção no mercado audiovisual. 

Dessa forma, sendo os filmes retratos de realidades pré-existentes e, geralmente, coerentes com o mercado, a palavra “adultização” para caracterizar o processo, pode se tornar incoerente, pois a adolescência é, de fato, a transição para a fase adulta.

Além disso, outro aparente problema citado pelos internautas é a idade avançada dos atores se comparada com a dos personagens que interpretam.

Para Stefano, essa é uma lógica de mercado que se deve a burocracia de contratar pessoas em idade letiva e acrescenta “Se colocassem como protagonista de fato um rapaz de 16 anos, o público, com seus vinte e tantos anos, não se interessaria tanto (quantitativamente falando) pela personagem em si, ou pelo ator”.

Ademais, o cineasta ainda atenta para a preocupação quanto à representatividade das adolescências."Se você for buscar obras nacionais com essas protagonistas, jovens e adolescentes, principalmente na produção contemporânea, tem-se prezado por uma pluralidade de corpos. Acredito que as séries em que mais se vê corpos e pessoas diferentes, mais próximas do real, são as brasileiras, como ‘3%’ e a nova 'Boca a Boca'".

Além do mais, há questões mais polêmicas como as cenas de sexo entre atores (maiores de idade) que interpretam adolescentes. Ainda na visão do cineasta “Algumas narrativas perdem potência sem a narrativa do corpo, como é o caso da série citada [Sex Education]. Entretanto, sem dúvida, muitas das cenas disseminadas comercialmente se justificam simplesmente pelo prazer do corpo em si, mercadologicamente falando”.

Ele ainda adverte, “A sexualidade e o tabu em torno dela é a potência que faz a série reverberar em tantos lugares. Cenas de sexo são sempre uma questão quando se produz um filme: sempre vale a dúvida se ela é necessária ou não”.

Dessa forma, percebemos que a preocupação dos internautas é válida, contudo se apoia largamente em tabus sobre sexualidade e adolescência e, por muitas vezes desliza ao não levar em conta a classificação indicativa e o público alvo da produção.

Com supervisão de Nicole Almeida. 

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Escrito por:
Maria Fonseca (Arquivo Pessoal )
Maria Eduarda Fonseca Carneiro

Aluna do 3° ano do Ensino Médio do Colégio Embraer - Juarez Wanderley, São José dos Campos

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