Deitado na cama encaro e desencaro o papel posto em cima da mesa, um turbilhão de ideias se arrastam e se espalham no grande vazio da minha mente cansada, agitada e de certa forma desesperançosa com a tormenta silenciosa que se instaura do lado de fora de meu confinamento. São tantas indagações, acontecimentos e desacontecimentos , emoções que se confrontam e que, por fim, não me resta nada a dizer.
Os dias estão vindo de par em par, fazia três dias que estava isolado, agora são sete meses. Nunca passei tanto tempo sozinho com o meu reflexo, ficar em silêncio e perceber um você que na verdade é eu, foi um espanto, uma sensação quase transcendental e horripilante de se encarar uma silhueta desconhecida que mora dentro de mim. Logo um desafio me foi proposto, se fazia necessário desvendar e conhecer minha única companheira, a minha consciência, só assim poderia satisfazer a solidão, satisfazer minha nova amiga e consequentemente satisfazer a mim mesmo. Penso que divaguei demais até esse momento, mas a objetividade não está presente na minha estrutura de expressão.
Porém, prossigamos. Finalmente, levantei quase num impulso desesperado que fez minha cabeça girar e meu corpo se sentir dormente, por alguns milésimos de segundos parecia que tudo estava a desabar, por fim me recompus e de pés descalços no chão caminhei até a escrivaninha, me sentei na cadeira dura de metal que estava ali por improviso, respirei fundo, num ato confiante com a mão esquerda peguei a caneta e a direcionei para a folha, no momento em que sua ponta relou no papel suspirei, e dei um soco na mesa com a destra. Em seguida, como num súbito ascender da pólvora que queima senti-me incendiar e em resposta, cai em prantos. A enxurrada escorreu para cessar todo aquele fogaréu que eu manifestava naquele instante. Mas o fogo ardia insistente, alimentado pelo medo e a dor. Era frustrante perceber que nada estava ao alcance e o controle não estava mais em minhas mãos. As lágrimas rolaram e todo peso do mundo em minhas costas se foi pelo ralo.
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Com supervisão de Samuel Strazzer, jornalista do Grupo Meon.
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